São Paulo, domingo, 04 de agosto de 2002

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Maior crise de crédito pode precisar de pressão do Fed para ser resolvida

GEORGIA NASCIMENTO
DA REPORTAGEM LOCAL

A escassez nas linhas de crédito comercial é a maior já vista no mercado brasileiro, superando as crises da dívida externa de 1983, 1987 e 1989. Mas, segundo especialistas, a oferta deve voltar ao normal depois da assinatura do acordo com o FMI.
Os analistas ouvidos pela Folha ainda arriscam a hipótese de que pode ser necessária uma pressão sobre os bancos -por parte dos BCs americano e europeu- a fim de fazer com que o volume de crédito volte ao nível pré-crise.
De forma semelhante à negociação feita na década de 80, espera-se que o Banco Central e os organismos internacionais tomem medidas para que as linhas voltem ao normal.
"O Fed (banco central dos Estados Unidos) e o BCE (Banco Central Europeu) vão forçar esse movimento. E isso é fundamental para que diminua a pressão cambial", diz o economista Carlos Langoni, diretor do Centro de Estudos Internacionais da FGV e ex-presidente do Banco Central.
Segundo Emilio Garofalo Filho, ex-funcionário do BC, a crise atual pode ser pior que a de 83. Na época, o BC pediu aos bancos que se comprometessem com a manutenção do crédito ao Brasil, especificamente com as linhas de crédito relacionadas ao comércio, o chamado Projeto 3.
Segundo ele, nas crises de 87 e 89, houve alterações nas taxas e nos prazos dos empréstimos, mas mesmo assim os fluxos de financiamento continuaram.
Segundo Antonio Carlos Manfredini, professor da Eaesp-FGV (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas), essa possibilidade tem precedentes. "O Fed pode fazer o que fez com a Rússia: "convidou" os bancos a voltarem a ofertar suas linhas para o país".
A escassez de novas linhas e a dificuldade para rolar as dívidas faz com que as empresas tenham que comprar dólares para pagar o que devem e, segundo Manfredini, essa foi uma das causas da alta do câmbio na semana passada. Caso a situação se estenda, cenário pouco provável, segundo os analistas, a alta do dólar pressionará também a dívida externa do governo denominada em dólar.
Além disso, a corrida pela moeda norte-americana e a queda das reservas públicas faz com que o investidor fique mais tenso e agrave ainda mais a crise. "Uma explosão cambial prolongada trará a explosão da inflação. Mas depois de assistirmos à crise Argentina, não se espera que passemos por isso", diz Langoni.
Segundo Otaviano Canuto, professor de economia da USP e da Unicamp, "nem mesmo a estupidez republicana norte-americana vai deixar acontecer com o Brasil o que houve na Argentina"


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