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Brasil e Argentina têm até US$ 8 bi de motivos para paz
País teve saldo comercial positivo nos últimos anos, motivo de queixa argentina
Visita de Lula traz comitiva empresarial que pode chegar a 400 pessoas e é tratada com cuida pela embaixada brasileira
DO ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES
Restabelecer uma paz que
não chegou a ser realmente
abalada não é apenas o desejo
político dos governantes de
Brasil e Argentina. Há US$ 8 bilhões de motivos para evitar
atritos. É esse o estoque de investimentos brasileiros diretos
na Argentina acumulados desde 2001, ou seja, desde o pico da
crise no país vizinho.
Nenhum país, nenhum empresário, gostaria de turbulência nas relações com um ponto
de negócios tão importante. Para não falar da corrente de comércio entre os dois países (tudo o que vendem ou compram
um do outro), que, em 10 anos,
saltou dos US$ 1,686 bilhão de
1988 para os US$ 24,822 bilhões de 2007. E, este ano, chega a US$ 30 bilhões, pelas contas que se fazem na embaixada
brasileira em Buenos Aires.
O Brasil teve saldo nos últimos quatro anos, o que é mais
um motivo para não querer
atritos mas é também motivo
de freqüentes queixas do empresariado argentino.
Queixume
O queixume chegou perto de
uma crise, em 2004, quando se
travou o que a mídia batizou de
"guerra das geladeiras" (a Argentina reclamou de importações excessivas que arruinavam sua indústria).
A resposta dos dois governos
foi criar um MAC (Mecanismo
de Adaptação Competitiva),
exatamente para evitar que o
ganho de um representasse a
quebra do outro.
"Sabe quantas vezes foi acionado o MAC nesses quatro
anos? Nenhuma", pergunta e
responde um funcionário graduado do governo brasileiro,
para demonstrar que as relações andam no melhor dos
mundos.
De todo modo, a embaixada
brasileira é muito cuidadosa ao
tratar da visita do presidente
Lula, porque o eixo dela, por
decisão do próprio presidente,
é empresarial. O ator principal
é a enorme comitiva empresarial, que pode chegar a 400 pessoas, se incluídos empresários
que vieram do Brasil e os já instalados na Argentina.
Comitiva empresarial
Diplomatas querem evitar
que fique parecendo uma excursão empresarial de compras
baratas de empresas argentinas, como se fosse um grupo de
turistas convencionais que come nos bons restaurantes de
Buenos Aires a preços que, em
São Paulo, só se encontram em
"fast food".
Um bife de chorizo, o melhor
corte da inimitável carne argentina, sai por 45 pesos (R$
26) no Ligure, 75 anos de tradição, a quatro quadras da embaixada brasileira.
Para não passar essa impressão, usa-se a muleta retórica de
que os empresários brasileiros
vão explorar com seus colegas
argentinos "oportunidades de
negócios".
Os cuidados com a sensibilidade argentina são tantos que o
governo brasileiro tratou logo
de desmentir notícia da mídia
local segundo a qual o presidente Lula teria ligado para
Cristina Kirchner para aconselhá-la, depois que o governo
perdeu votação-chave no Senado que derrubou um aumento
na taxação da soja e outros produtos do campo.
Lula de fato quis telefonar,
mas um dia e meio depois da
derrota (ocorrida dia 16 passado). O então chefe de gabinete,
Alberto Fernández, marcou até
uma hora para a conversa. Mas,
quando Lula ligou, coincidiu de
Cristina estar recebendo o presidente da Lituânia. Não pôde
atendê-lo.
Em seguida, Lula é que teve
compromissos (Bolívia e Colômbia), com o que o telefonema ficou pendente e acabou se
transformando no jantar de
ontem em Buenos Aires.
(CLÓVIS ROSSI)
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