São Paulo, segunda-feira, 04 de agosto de 2008

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Brasil e Argentina têm até US$ 8 bi de motivos para paz

País teve saldo comercial positivo nos últimos anos, motivo de queixa argentina

Visita de Lula traz comitiva empresarial que pode chegar a 400 pessoas e é tratada com cuida pela embaixada brasileira

DO ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

Restabelecer uma paz que não chegou a ser realmente abalada não é apenas o desejo político dos governantes de Brasil e Argentina. Há US$ 8 bilhões de motivos para evitar atritos. É esse o estoque de investimentos brasileiros diretos na Argentina acumulados desde 2001, ou seja, desde o pico da crise no país vizinho.
Nenhum país, nenhum empresário, gostaria de turbulência nas relações com um ponto de negócios tão importante. Para não falar da corrente de comércio entre os dois países (tudo o que vendem ou compram um do outro), que, em 10 anos, saltou dos US$ 1,686 bilhão de 1988 para os US$ 24,822 bilhões de 2007. E, este ano, chega a US$ 30 bilhões, pelas contas que se fazem na embaixada brasileira em Buenos Aires.
O Brasil teve saldo nos últimos quatro anos, o que é mais um motivo para não querer atritos mas é também motivo de freqüentes queixas do empresariado argentino.

Queixume
O queixume chegou perto de uma crise, em 2004, quando se travou o que a mídia batizou de "guerra das geladeiras" (a Argentina reclamou de importações excessivas que arruinavam sua indústria).
A resposta dos dois governos foi criar um MAC (Mecanismo de Adaptação Competitiva), exatamente para evitar que o ganho de um representasse a quebra do outro.
"Sabe quantas vezes foi acionado o MAC nesses quatro anos? Nenhuma", pergunta e responde um funcionário graduado do governo brasileiro, para demonstrar que as relações andam no melhor dos mundos.
De todo modo, a embaixada brasileira é muito cuidadosa ao tratar da visita do presidente Lula, porque o eixo dela, por decisão do próprio presidente, é empresarial. O ator principal é a enorme comitiva empresarial, que pode chegar a 400 pessoas, se incluídos empresários que vieram do Brasil e os já instalados na Argentina.

Comitiva empresarial
Diplomatas querem evitar que fique parecendo uma excursão empresarial de compras baratas de empresas argentinas, como se fosse um grupo de turistas convencionais que come nos bons restaurantes de Buenos Aires a preços que, em São Paulo, só se encontram em "fast food".
Um bife de chorizo, o melhor corte da inimitável carne argentina, sai por 45 pesos (R$ 26) no Ligure, 75 anos de tradição, a quatro quadras da embaixada brasileira.
Para não passar essa impressão, usa-se a muleta retórica de que os empresários brasileiros vão explorar com seus colegas argentinos "oportunidades de negócios".
Os cuidados com a sensibilidade argentina são tantos que o governo brasileiro tratou logo de desmentir notícia da mídia local segundo a qual o presidente Lula teria ligado para Cristina Kirchner para aconselhá-la, depois que o governo perdeu votação-chave no Senado que derrubou um aumento na taxação da soja e outros produtos do campo.
Lula de fato quis telefonar, mas um dia e meio depois da derrota (ocorrida dia 16 passado). O então chefe de gabinete, Alberto Fernández, marcou até uma hora para a conversa. Mas, quando Lula ligou, coincidiu de Cristina estar recebendo o presidente da Lituânia. Não pôde atendê-lo.
Em seguida, Lula é que teve compromissos (Bolívia e Colômbia), com o que o telefonema ficou pendente e acabou se transformando no jantar de ontem em Buenos Aires.
(CLÓVIS ROSSI)


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