São Paulo, quarta-feira, 04 de setembro de 2002

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COMBUSTÍVEIS

Para nigeriano que preside entidade, ataque dos EUA ao Iraque não afeta cotação; venezuelano discorda

Preço do petróleo em guerra divide Opep

Reuters
Delegados de vários países chegam ao centro de convenções no Rio para participar do 17º Congresso Mundial de Petróleo


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

CÍNTIA CARDOSO
JOSÉ ALAN DIAS
ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

O presidente da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), o nigeriano Riwanu Lukman, afirmou ontem que o início de um conflito no Oriente Médio não significaria aumento imediato dos preços do petróleo no mercado internacional. ""Os países membros da Opep têm produção suficiente para garantir abastecimento do produto em uma emergência. Só se houver um desastre, haveria alta", disse.
A realidade, porém, é que não há consenso entre os membros da organização presentes ao Congresso Mundial de Petróleo no Rio. ""Evidentemente haverá aumento de preço. Só com a ameaça [de ataque norte-americano ao Iraque" já houve acréscimo de US$ 4 a US$ 5 por barril a título de prêmio de guerra", afirmou Rafael Ramírez, ministro de Minas e Energia da Venezuela.
Lukman, que além de presidente da Opep, representa os interesses da Nigéria, afirmou que seu país também pode aumentar a produção caso seja necessário. ""A produção pode ser flexibilizada de acordo com as circunstâncias". Mas foi evasivo ao comentar se durante a próxima reunião da Opep, neste mês, no Japão, o cartel manterá ou não o patamar atual de produção. ""É uma decisão a ser tomada em conjunto. É preciso observar o comportamento do mercado."
Lukman afirmou que a prioridade da Opep é defender a estabilidade dos preços do petróleo. E, de acordo com sua argumentação, não apenas para assegurar os interesses dos países-membros. ""À Opep não interessa nem preços altos, que são contraproducentes, nem preços baixos, que inibem os investimentos em novas tecnologias", disse.
Indagado sobre a posição da organização acerca da redução da emissão de poluentes em discussão na Rio+10, em Johannesburgo, o presidente da Opep afirmou que é cada vez maior a preocupação do setor com questões ambientais. No entanto, fez ressalva ao uso de energias alternativas, como a solar ou eólica: ""Preço de energia tem que ser razoável. Isso é desenvolvimento sustentável."
O dirigente sugeriu que o preço de petróleo em combustíveis em países em desenvolvimento é, na média, mais alto que em nações desenvolvidas por conta de uma ""fome de impostos" dos governos. ""Nos países em desenvolvimento, os combustíveis custam três vezes mais que outras nações. Além das circunstâncias do mercado internacional há outro fator: os impostos são muito altos. Os EUA são o exemplo a ser seguido: a baixa taxação dos derivados do petróleo estimula a economia", disse o nigeriano.
O presidente da Saudi Aramco, a maior petrolífera do mundo, Abdullah Jum'ah fez coro às declarações de Lukman, ao afirmar que uma guerra não causará uma crise mundial de abastecimento. Segundo ele, além de Arábia Saudita poder produzir o suficiente para cobrir a cota do Iraque (hoje em 2 milhões de barris diários), o país também dispõe de uma rota alternativa para o transporte. A Arábia Saudita tem cota diária de produção da Opep fixada em 7 milhões de barris, mas tem capacidade de extrair 10 milhões/dia.
Em caso de conflito, de acordo com Jum'ah, 5 milhões de barris poderiam ser escoados via Mar Vermelho -uma vez que a rota normal, pelo estreito de Ormuz (no golfo Pérsico), poderia ser interditada.


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