São Paulo, segunda-feira, 04 de setembro de 2006

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Bolsa em baixa não afasta investidor de fundo de ações

Mesmo com queda de 2,28% da Bovespa em agosto, não houve corrida para saques

Entre maio e o mês passado, captação líquida dos fundos é positiva em R$ 1,68 bi; para analistas, investidor está mais bem informado

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O momento ruim que o mercado acionário doméstico enfrenta desde meados de maio não assustou o investidor brasileiro. Diferentemente de outros momentos negativos, não houve corrida para sacar recursos dos fundos de ações devido ao fraco desempenho da Bolsa.
Analistas afirmam que começam a ver um investidor mais bem informado em relação ao mercado acionário no Brasil. E, se as previsões do mercado se confirmarem daqui para o fim do ano, os investidores não terão motivos para reclamar de terem optado por investir em ações (e manter a aposta).
Entre maio e agosto (até o dia 29), a captação líquida dos fundos de ações ficou positiva em cerca de R$ 1,68 bilhão. O patrimônio dos fundos de ações marcava R$ 59,3 bilhões no fim de agosto, segundo a Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), girando em torno de seu pico histórico.
O ritmo da captação líquida (diferença entre o aplicado e o sacado) diminuiu nos últimos meses, mas não entrou em terreno negativo, como alguns analistas temiam.
Em junho, os fundos de ações captaram R$ 902 milhões. Em agosto (até dia 29), a captação líquida era de R$ 136,5 milhões, mesmo com a Bolsa caindo 2,28% no mês. No ano, as aplicações batem os saques nesses fundos em R$ 5,39 bilhões.
A Bovespa registra alta acumulada de 11,58% no ano.
"A queda dos juros tem aumentado a tolerância dos investidores ao risco [das ações]", afirma Alex Carpenter, diretor de renda variável do HSBC, que trabalha com o cenário de o Ibovespa atingir 44 mil pontos até o fim do ano.

Perspectiva de alta
No pregão de sexta-feira, o Ibovespa fechou em 37.329 pontos. Trata-se do principal índice e referência da Bolsa paulista, que agrupa as 56 ações de maior liquidez. Para alcançar 44 mil pontos, a Bovespa terá de subir 17,9% até o fim de 2006. Em maio, o índice atingiu o seu pico histórico, alcançando 42 mil pontos.
Charles Philipp, diretor da corretora SLW, também acredita que a Bolsa pode alcançar 44 mil pontos até o fim do ano. "É um bom momento para quem está fora entrar na Bolsa. Vejo um cenário de alta até o fim do ano", afirma.
Os pontos da Bolsa refletem a variação do preço das principais ações. Quando o valor dos papéis das empresas está em alta, os pontos da Bolsa sobem. Assim, quando a Bovespa atingiu sua máxima em pontos, em maio, indicou que nunca antes as companhias de capital aberto valeram tanto.
Mas de 9 de maio (quando a Bolsa fechou a 41.979 pontos) até sexta-feira, o Ibovespa recuou 11,08%. No dia 10 de maio, o Fed (o banco central dos EUA) elevou os juros e avisou que outras altas viriam. Esse cenário puniu severamente os mercados emergentes, que ainda não se recuperaram de todo -mesmo com os juros tendo parado de subir nos EUA.
Desde lá, os investidores estrangeiros têm vendido consideravelmente ações brasileiras que tinham em suas carteiras.
Entre maio e agosto, os estrangeiros mais venderam que compraram ações, no valor de R$ 5,65 bilhões. Somente em agosto (até dia 30) esse saldo era negativo em R$ 1,22 bilhão.
"O que pode fazer com que a Bolsa dê uma arrancada é o retorno dos estrangeiros, como aconteceu no começo do ano", diz Luiz Roberto Monteiro, assessor de investimentos da corretora Souza Barros.
Em janeiro deste ano, o balanço dos negócios dos estrangeiros foi positivo em R$ 2,61 bilhões.
"Devemos presenciar o retorno dos estrangeiros, mas não no ritmo que vimos no começo de 2006", diz Carpenter.
Neste ano, os estrangeiros respondem por cerca de 36,5% de todos os negócios feitos na Bovespa. Com esse peso nas operações, se os estrangeiros retornarem, deverá haver um impulso no mercado de ações.

Saques
Um segmento do mercado acionário que tem perdido recursos é o de fundos PIBB (Papéis Índice Brasil Bovespa).
O PIBB foi criado com ações que pertenciam ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), sendo destinado principalmente ao pequeno investidor.
Neste ano, os resgates líquidos dos PIBBs estão em R$ 412,7 milhões, segundo a Anbid. O patrimônio líquido desses fundos totaliza R$ 2,28 bilhões. O BNDES ofereceu duas vezes o PIBB: em julho de 2004 e em outubro de 2005.


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