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OPINIÃO ECONÔMICA
Estão fazendo o certo?
BENJAMIN STEINBRUCH
Em uma palestra em Washington, na semana passada, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, falava
sobre o sucesso da política brasileira de combate à inflação
quando, ao mostrar tabelas e
gráficos, sinalizou que a meta de
inflação para 2005 seria de 4,5%.
Os brasileiros da platéia não
entenderam nada. Ora, 4,5% era
a meta original para o IPCA, havia muito ajustada para 5,1%.
Imediatamente, o mercado financeiro começou a perguntar:
mudou a meta de inflação para o
ano?
A resposta veio nos dias seguintes. Ao divulgar o relatório trimestral de inflação, na quinta-feira, o Banco Central confirmou
a meta de 5,1%, índice que será
atingido com folga. As próprias
projeções do BC indicam que o
ano terminará com inflação de
5,0%. Nada que seja feito neste
último trimestre poderá alterar
essa trajetória de inflação
-mesmo que haja uma abrupta
e improvável redução dos juros.
As projeções do BC também mostram que, mantidas as taxas
atuais de juros e câmbio, a inflação de 2006 cairia para 3,5%, um
ponto percentual abaixo da meta
de 4,5%.
Ufa! Finalmente o Banco Central dá a entender que existe espaço para redução dos juros. Mas
essa não é a única leitura que se
pode fazer desses fatos. Pode-se
entender também que o BC exagerou na dosagem dos juros. Ao
manter um ciclo de alta da taxa
desde setembro do ano passado,
contra os clamores até das correntes mais ortodoxas, o BC direcionou a trajetória da inflação
para um nível desnecessariamente inferior ao programado.
Ou seja, houve excesso de ortodoxia.
Quanto custou essa irresponsabilidade ao país? As perdas totais
são incalculáveis. Pode-se ter
uma idéia aproximada de um
custo direto ao examinar os números da dívida líquida do setor
público, cujo total se aproxima
de R$ 1 trilhão. Nos primeiros oito meses de 2005, o setor público
pagou juros de R$ 105 bilhões.
Nos 12 meses até agosto, pagou
R$ 150 bilhões. Dezenas de bilhões de reais foram literalmente
torrados nesse período. Dinheiro
que poderia ter sido usado pelo
setor público em finalidades mais
nobres, como saúde, educação,
saneamento e obras de infra-estrutura.
Mas esse não é o único custo. O
juro alto segura o crescimento
dos investimentos do setor privado e da produção como um todo.
Acresça-se a isso o fato de que o
Conselho Monetário Nacional
vem mantendo a TJLP (Taxa de
Juros de Longo Prazo) em 9,75%
desde abril do ano passado, a
despeito da queda forte da inflação e do risco Brasil, o que resulta
em custos absurdos para os investimentos no país.
Enquanto os demais países
emergentes aproveitam a boa fase da economia internacional e
devem crescer em média 6,5%
neste ano, o Brasil se contenta
com a metade desse índice.
Quantos milhões de empregos teriam sido perdidos por esse comportamento da autoridade monetária?
Por fim, os juros excessivos tiveram efeito desastroso na taxa de
câmbio. O dólar caiu ao nível
mais baixo em quatro anos. Apesar disso, as exportações gerais
continuam crescendo -alguns
setores, como o de calçados, têxteis, brinquedos etc., foram gravemente prejudicados-, mas
poderiam ter crescido muito
mais. Quanto isso custou e quanto ainda vai custar para a balança comercial?
A discussão, portanto, deve ir
além da questão puramente técnica e entrar pelo campo das responsabilidades. Quem responde
pelos prejuízos desse desvio? É
óbvio que não se pode cobrar
exatidão milimétrica em política
monetária. Mas, conhecidas as
graves seqüelas do aperto monetário, é perfeitamente razoável
supor que a autoridade tenha
sensibilidade para conduzir a política de forma que, em caso de
desvio, ele seja a favor, e não contra, o crescimento da economia.
O sempre-ministro Delfim Netto, em entrevista ao "Valor", na
semana passada, lembrou que
está sendo repetido o mesmo erro
de 1998, quando o BC derrubou a
inflação, mas o câmbio foi supervalorizado e fulminou as exportações. "Estão fazendo uma porcaria", diz Delfim.
Benjamin Steinbruch, 52, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho
de administração da empresa e primeiro
vice-presidente da Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo).
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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