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Aracruz tem perda de R$ 1,95 bi com câmbio
Empresa é a segunda exportadora a registrar prejuízo com operações cambiais; na semana passada, Sadia anunciou perda de R$ 760 mi
Para analista, fabricante de
celulose poderá ter prejuízo
de R$ 730 mi em 2008; antes
da operação, lucro previsto
para o ano era de R$ 830 mi
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Aracruz, maior produtora
mundial de celulose de eucalipto, informou ontem que suas
operações cambiais significavam perdas de R$ 1,95 bilhão,
considerando o câmbio e as
condições de instabilidade de
30 de setembro.
Empresas exportadoras, como a Aracruz e a Sadia, fizeram
operações financeiras para se
proteger contra a alta do real.
Com a desvalorização de 22,4%
da moeda desde agosto, depois
de quatro anos de alta, os exportadores registraram fortes
perdas. A Sadia reconheceu
prejuízo de R$ 760 milhões na
semana passada.
Os derivativos cambiais
(contratos financeiros baseados em moeda estrangeira) da
Aracruz vencerão só em 12 meses, e a empresa não irá desembolsar agora a quantia. Até lá, a
empresa está fazendo outras
operações para se proteger de
novas desvalorizações do real,
no valor de US$ 538 milhões.
A Aracruz afirmou ainda que
as operações cambiais acabaram registrando lucro contábil
de R$ 25 milhões no terceiro
trimestre. A empresa não informa detalhes nem respondeu ao
pedido de entrevista. A hipótese aventada por analistas é que
parte dos títulos tenha vencido
antes das turbulências causadas pela crise americana e, assim, gerado lucro.
A Aracruz informou também
que, com a desvalorização do
real, o impacto em sua dívida
foi um prejuízo de R$ 330 milhões no terceiro trimestre, já
compensado pela maior receita
em dólar.
Interpretações opostas
Sem grandes detalhes sobre
as perdas, o fato relevante causou confusão no mercado. Enquanto alguns analistas previam perdas gigantescas para a
empresa, outros diziam que era
impossível avaliar os impactos
por falta de informações. Houve, inclusive, quem afirmasse
que o temor era exagerado.
A maior parte deles, no entanto, tem perspectivas negativas para a Aracruz. Segundo
Luiz Otávio Broad, analista da
corretora Ágora, as operações
cambiais farão com que a companhia tenha prejuízo de R$
730 milhões em 2008. Até então, a expectativa era de lucro
de R$ 830 milhões neste ano.
O motivo é que a empresa irá
reconhecer contabilmente as
perdas neste ano, apesar de o
vencimento das operações
cambiais acontecer apenas em
12 meses.
Ontem, as ações da empresa
estiveram entre as que mais
caíram na Bovespa (Bolsa de
Valores de São Paulo). Os papéis com direito a voto tiveram
baixa de 14,92% e os sem direito a voto perderam quase 25%
de seu valor. Na esteira, as
ações da VCP, que semanas antes assinara acordo de fusão
com a Aracruz, tiveram baixa
de 10,71%.
"O anúncio surpreendeu pelo montante porque, no primeiro comunicado [divulgado na
sexta, 26], a empresa informou
que as perdas não afetariam
seu caixa", diz Broad. "Pelo novo fato relevante, se houver a
mesma volatilidade e taxa de
câmbio, os contratos irão comer todo o caixa."
Os analistas do banco Merrill
Lynch escreveram em relatório
enviado a clientes que, num cenário de extremo desgaste
(com maiores oscilações e desvalorização cambiais), há o risco de a empresa perder o status
de grau de investimento e enfrentar custos maiores para financiar projetos de expansão.
"Embora essas perdas ainda
não tenham tido efeito no caixa, trazem riscos contingentes
à empresa caso o real se mantenha nas atuais cotações ante o
dólar nos próximos 12 meses",
diz Marcelo Costa, analista da
empresa de classificação de risco Standard & Poor's. "Nesse
caso, a liquidação dos derivativos teria de ser feita no contexto do atual cenário de escassez
de crédito."
Para Rogério Zarpão, analista do Unibanco, a falta de informação sobre o valor dos ativos
em posição alavancada e sobre
os preços praticados não permite estimar o impacto nos resultados da companhia.
Peter Ping Ho, analista da
Planner Corretora, afirma, no
entanto, que a exposição de risco da Aracruz foi sobreavaliada.
"O temor do mercado foi exagerado. A alta do dólar é insustentável e, até a data do vencimento dos derivativos, a empresa
poderá não ter mais perdas",
diz o analista.
Em sua estimativa, a Aracruz
não deverá ter grandes prejuízos além dos R$ 330 milhões
reconhecidos no trimestre por
causa do endividamento.
A Merrill Lynch baixou suas
projeções para o valor dos
ADRs (American Depositary
Receipts) da empresa de US$
90 para US$ 49. Os ADRs caíram 17%, para US$ 26. Já a Ágora reduziu o preço alvo dos papéis da empresa de R$ 14,80 para R$ 9,20. A Standard & Poor's
a classificou negativamente.
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