São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2008

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Aracruz tem perda de R$ 1,95 bi com câmbio

Empresa é a segunda exportadora a registrar prejuízo com operações cambiais; na semana passada, Sadia anunciou perda de R$ 760 mi

Para analista, fabricante de celulose poderá ter prejuízo de R$ 730 mi em 2008; antes da operação, lucro previsto para o ano era de R$ 830 mi

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Aracruz, maior produtora mundial de celulose de eucalipto, informou ontem que suas operações cambiais significavam perdas de R$ 1,95 bilhão, considerando o câmbio e as condições de instabilidade de 30 de setembro.
Empresas exportadoras, como a Aracruz e a Sadia, fizeram operações financeiras para se proteger contra a alta do real. Com a desvalorização de 22,4% da moeda desde agosto, depois de quatro anos de alta, os exportadores registraram fortes perdas. A Sadia reconheceu prejuízo de R$ 760 milhões na semana passada.
Os derivativos cambiais (contratos financeiros baseados em moeda estrangeira) da Aracruz vencerão só em 12 meses, e a empresa não irá desembolsar agora a quantia. Até lá, a empresa está fazendo outras operações para se proteger de novas desvalorizações do real, no valor de US$ 538 milhões.
A Aracruz afirmou ainda que as operações cambiais acabaram registrando lucro contábil de R$ 25 milhões no terceiro trimestre. A empresa não informa detalhes nem respondeu ao pedido de entrevista. A hipótese aventada por analistas é que parte dos títulos tenha vencido antes das turbulências causadas pela crise americana e, assim, gerado lucro.
A Aracruz informou também que, com a desvalorização do real, o impacto em sua dívida foi um prejuízo de R$ 330 milhões no terceiro trimestre, já compensado pela maior receita em dólar.

Interpretações opostas
Sem grandes detalhes sobre as perdas, o fato relevante causou confusão no mercado. Enquanto alguns analistas previam perdas gigantescas para a empresa, outros diziam que era impossível avaliar os impactos por falta de informações. Houve, inclusive, quem afirmasse que o temor era exagerado.
A maior parte deles, no entanto, tem perspectivas negativas para a Aracruz. Segundo Luiz Otávio Broad, analista da corretora Ágora, as operações cambiais farão com que a companhia tenha prejuízo de R$ 730 milhões em 2008. Até então, a expectativa era de lucro de R$ 830 milhões neste ano.
O motivo é que a empresa irá reconhecer contabilmente as perdas neste ano, apesar de o vencimento das operações cambiais acontecer apenas em 12 meses.
Ontem, as ações da empresa estiveram entre as que mais caíram na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). Os papéis com direito a voto tiveram baixa de 14,92% e os sem direito a voto perderam quase 25% de seu valor. Na esteira, as ações da VCP, que semanas antes assinara acordo de fusão com a Aracruz, tiveram baixa de 10,71%.
"O anúncio surpreendeu pelo montante porque, no primeiro comunicado [divulgado na sexta, 26], a empresa informou que as perdas não afetariam seu caixa", diz Broad. "Pelo novo fato relevante, se houver a mesma volatilidade e taxa de câmbio, os contratos irão comer todo o caixa."
Os analistas do banco Merrill Lynch escreveram em relatório enviado a clientes que, num cenário de extremo desgaste (com maiores oscilações e desvalorização cambiais), há o risco de a empresa perder o status de grau de investimento e enfrentar custos maiores para financiar projetos de expansão.
"Embora essas perdas ainda não tenham tido efeito no caixa, trazem riscos contingentes à empresa caso o real se mantenha nas atuais cotações ante o dólar nos próximos 12 meses", diz Marcelo Costa, analista da empresa de classificação de risco Standard & Poor's. "Nesse caso, a liquidação dos derivativos teria de ser feita no contexto do atual cenário de escassez de crédito."
Para Rogério Zarpão, analista do Unibanco, a falta de informação sobre o valor dos ativos em posição alavancada e sobre os preços praticados não permite estimar o impacto nos resultados da companhia.
Peter Ping Ho, analista da Planner Corretora, afirma, no entanto, que a exposição de risco da Aracruz foi sobreavaliada. "O temor do mercado foi exagerado. A alta do dólar é insustentável e, até a data do vencimento dos derivativos, a empresa poderá não ter mais perdas", diz o analista.
Em sua estimativa, a Aracruz não deverá ter grandes prejuízos além dos R$ 330 milhões reconhecidos no trimestre por causa do endividamento.
A Merrill Lynch baixou suas projeções para o valor dos ADRs (American Depositary Receipts) da empresa de US$ 90 para US$ 49. Os ADRs caíram 17%, para US$ 26. Já a Ágora reduziu o preço alvo dos papéis da empresa de R$ 14,80 para R$ 9,20. A Standard & Poor's a classificou negativamente.


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