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BC prepara medidas para agricultores e exportadores
Governo quer remanejar verbas para setor agrícola e linhas de crédito para exportação
Propostas, que dependem de análise, visam minimizar impacto da crise nas grandes fontes de contaminação
da economia brasileira
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de mexer duas vezes
nas regras dos compulsórios
(dinheiro captado pelas instituições financeira que é recolhido obrigatoriamente ao Banco Central) para ajudar os bancos em decorrência da falta de
dinheiro em circulação no mercado, o Banco Central, agora,
prepara um novo alívio para os
agricultores e exportadores.
Com isso, o governo acredita
minimizar o impacto nas três
principais fontes de contaminação da economia brasileira
pela crise financeira nos EUA.
Segundo a Folha apurou, o
governo pretende remanejar
verbas orçamentárias para direcionar aos agricultores e reduzir o compulsório sobre os
depósitos à vista (conta corrente) para aumentar o volume de
recursos direcionados obrigatoriamente para empréstimos
ao setor agrícola. A medida, porém, deverá ser provisória, com
data de validade até junho para
atender à safra 2008/2009.
Além disso, o BC estuda usar
parte das reservas do país em
dólar e fazer leilões direcionados especificamente a linhas de
crédito para exportação.
No caso do socorro ao setor
agrícola, a proposta está em
discussão, mas a idéia é anunciar a medida nas próximas
duas semanas -no mais tardar,
no final deste mês- para não
prejudicar o plantio da safra de
verão, que responde por 70%
da produção brasileira de grãos
e está em seu período mais importante.
O assunto já foi discutido
com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e é considerado
emergencial para o governo
porque, apesar de o setor agrícola representar apenas 5,5%
do PIB (a soma de tudo o que é
produzido no país), os alimentos respondem por quase 21%
do índice de inflação referencial para o governo, o IPCA.
Nesta semana, o ministro
Guido Mantega (Fazenda) já
havia anunciado que o Banco
do Brasil antecipará a liberação
de R$ 5 bilhões para atender ao
setor. Mas o dinheiro é considerado insuficiente num diagnóstico feito pelo governo. Primeiro porque já estava na estimativa para ser usado mais
adiante. Depois, a agricultura
já estava sendo prejudicada pela queda no volume de depósitos à vista desde o início do ano.
Pelas regras em vigor, 25%
dos recursos que os bancos
captam como depósitos à vista
devem ser direcionados para financiar a área agrícola, 53%
são recolhidos como compulsórios junto ao BC, 2% são destinados a operações de microcrédito e os 20% restantes são
aplicados livremente pelos
bancos.
Com o fim da CPMF, o volume dos depósitos à vista tem ficado abaixo das projeções iniciais do BC. Desde o final de
2007, a média dos saldos nos
dias úteis de cada mês caiu
15,4%. Neste ano, somente nos
meses de abril, maio e junho,
houve crescimento dos depósitos à vista. Nos demais, foi registrada queda. Em agosto, a
redução foi de 2,5%.
Uma justificativa para isso é
que, sem a cobrança da CPMF,
as pessoas passaram a movimentar mais dinheiro. Além
disso, com a alta da taxa de juros, o custo de deixar os recursos parados na conta corrente é
maior e, portanto, os fundos de
investimentos ou outras aplicações são mais atrativas. Isso
faz com que caia o saldo dos depósitos à vista.
Se já estava sendo punida
com esse cenário, a situação da
agricultura, na avaliação do governo, ficou ainda pior com a
escassez de linhas no mercado
de crédito. Vem daí a intenção
do governo de dar um alívio ao
setor. O remanejamento de recursos do Orçamento é uma
outra alternativa em estudo.
No caso dos leilões de dólares para atender especificamente às linhas de exportação,
a medida ainda depende de
uma avaliação jurídica.
Apesar de já ter sido adotada
pelo BC durante a crise de
2002, há questionamentos legais, porque a medida poderia
beneficiar mais os dealers, bancos credenciados para operar
no mercado de câmbio em nome do BC.
Além disso, o BC quer ter
certeza de que esse tipo de leilão é necessário, que não seria
usado por especuladores e
também que seria uma alternativa temporária. Inicialmente,
cogitou-se a medida porque
avalia-se que os dólares vendidos pelo BC recentemente não
chegaram aos exportadores.
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