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RECEITA EXTRA
Presidente da Fiesp diz que nova Cofins contraria promessa de Lula
Piva vê primeiro "aumento explícito" da carga tributária
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo), Horacio Lafer Piva,
46, considerou um exagero o aumento da alíquota da Cofins de
3% para 7,6%, previsto em medida provisória de sexta-feira, apesar do fim da cumulatividade da
contribuição.
"É a primeira vez que estamos
vendo neste governo uma demonstração explícita de aumento
da carga tributária", afirmou. "Esse aumento vai contra a promessa
que o governo nos tem feito, e vai
contra principalmente a preocupação com relação à competitividade do produto brasileiro."
Folha - O que o sr. achou da medida provisória de sexta-feira?
Horacio Lafer Piva -Do ponto de
vista conceitual, ela é interessante,
mas do ponto de vista financeiro é
ruim porque vai significar aumento de carga tributária. É a primeira vez que estamos vendo neste governo uma demonstração
explícita de aumento da carga tributária. O aumento da alíquota
da Cofins foi exagerado e vai ter
impacto na economia. Esse aumento vai contra a promessa que
o governo nos tem feito, e vai contra principalmente a preocupação
com relação à competitividade do
produto brasileiro.
Folha - Os empresários foram surpreendidos?
Piva - O assunto já estava na
pauta, mas não esperávamos que
fosse sair imediatamente. Nós estivemos conversando recentemente com Arno Augustin (secretário-executivo da Fazenda) e
Jorge Rachid (secretário da Receita Federal) para provar que essa
alíquota era muito alta, e não
adiantou. A nossa conta era de
que o Cofins e mais o PIS deveriam ter uma alíquota de 7%, e a
soma hoje é de 9,25%.
Folha - O sr. voltou a falar com o
governo?
Piva - Eu falei com o Bernard
Appy [secretário-executivo da Fazenda] no sábado. Eu disse a ele
que o governo errou no estabelecimento dessa alíquota. Ele me
disse que o governo estaria aberto
a conversas.
Folha - O sr. achou que o governo
atropelou o Senado?
Piva - Eu não entendi muito bem
se esta medida foi pactuada ou
não com o senador Romero Jucá
(PMDB-RR, relator da reforma
tributária no Senado). É impressionante como essa questão da reforma tributária não anda. Eu
acho que vai acabar saindo um
texto minimalista em relação ao
que esperávamos, o que do ponto
de vista político é um desastre,
além de significar desgaste para o
governo. Nós vamos acabar perdendo uma grande oportunidade.
Essa conta vai acabar sendo cobrada do governo.
Folha - Como o sr. avalia o governo Lula?
Piva - A macroeconomia vai
bem, mas a microeconomia ainda
carece de muitas ações. A reforma
tributária vai ser minimalista, a
taxa de juros precisa ser reduzida
com mais velocidade, a regulação
para investimentos em infra-estrutura ainda está incompleta, e
precisa ser resolvida...ou seja, há
muitos pontos que precisam ser
enfrentados pelo governo. Por isso, apesar da melhora na macroeconomia, eu não enxergo condições para um crescimento econômico sustentável.
Folha - O que falta?
Piva - Falta um programa mais
inteligível. Todo mundo fala que
o país precisa crescer, mas falta
uma agenda de crescimento. Nós
precisamos criar um ambiente
institucional mais estável. Veja o
caso das exportações. Muitos segmentos exportadores bateram no
teto de sua capacidade. Daí para a
frente precisa de investimentos, e
investimento leva tempo.
Folha - Os empresários não estão
confiantes na recuperação?
Piva - Os empresários estão
preocupados. O investidor externo também não tomou ainda decisão de investir no país. Muitas
empresas multinacionais estão
esperando para tomar a decisão
de instalar uma nova planta industrial. O investidor externo vê o
governo Lula com um misto de
curiosidade e de apoio, mas ainda
tem dúvidas em relação à decisão
de investimento.
Ninguém põe em dúvida a idoneidade e as boas intenções do governo. O que não se tem certeza
ainda é se o projeto do governo é
um projeto ganhador. Até porque
a sociedade brasileira ainda não
compreendeu o projeto do país, e
se o crescimento vai ser colocado
como meta. O emprego deveria
ser colocado como a meta principal desse governo e isso não está
ainda bem colocado.
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