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OPINIÃO ECONÔMICA
O que faltou a Marta Suplicy?
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
No artigo da quinta-feira
passada, escrito pouco antes do segundo turno, argumentei que as eleições municipais representavam um sinal amarelo
para a reeleição de Lula em 2006.
Essa conclusão, que já era evidente e até trivial, tornou-se ainda mais clara depois das derrotas do PT no segundo turno.
Nem todos os resultados foram
desfavoráveis para o PT e para os
demais partidos da base do governo federal. Longe disso. Mas
há diversos sintomas preocupantes para os petistas. Por exemplo:
o insucesso bastante generalizado do partido de Lula nas cidades maiores pode estar ligado ao
fato de que, nos anos recentes, o
aumento do desemprego e a queda dos salários têm sido mais
acentuados nas regiões metropolitanas. A política econômica
continuísta dos últimos dois
anos não deu resposta satisfatória a esses problemas. E essa pode
ser a avaliação de muitos eleitores que recusaram o seu voto a
candidatos identificados com o
governo federal.
Configura-se um cenário em
que haverá provavelmente um
conflito crescente entre a reeleição do presidente e a orientação
da política econômica, especialmente da política monetária. A
última ata do Copom, divulgada
na quinta-feira passada, constitui uma homenagem fervorosa à
insensatez e à insensibilidade típicas das tecnocracias financeiras que dominam o Banco Central do Brasil há muitos anos. Se
houve alguma mudança no governo Lula, foi para pior. O radicalismo e a rigidez do BC são
agora maiores do que no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Para encontrar algo comparável, é preciso remontar ao primeiro mandato de
FHC, quando um certo Napoleão
de hospício comandava o BC.
Mas não é de 2006 ou do BC
que pretendo falar (escrevi sobre
esses temas em artigo publicado
anteontem no site Agência Carta
Maior, "Eleições municipais e
política econômica", www.agenciacartamaior.com.br/, 2/11/
2004). Prefiro tratar hoje da eleição na cidade de São Paulo, que
me parece emblemática por mais
de um motivo, e em especial por
um aspecto negligenciado -as
pistas que ela nos dá sobre a relação entre a classe política e o
povo brasileiro.
A figura mais interessante da
eleição paulistana era, sem dúvida, a prefeita Marta Suplicy, alvo preferido de atenções e polêmicas de todo tipo. Compreende-se. Marta é, há muito tempo, um
fenômeno midiático e político
-e a derrota não lhe retira essa
condição. Na política brasileira,
insucessos eleitorais nem sempre
estigmatizam. Freqüentemente,
tornam o derrotado mais conhecido e mais competitivo. A prefeita de São Paulo parece ser,
neste momento, um dos nomes
fortes para a disputa do governo
do Estado em 2006.
Mesmo antes da sua gestão na
prefeitura, que foi bem avaliada
pela população, especialmente
na periferia pobre do município,
o carisma de Marta já era perceptível. Assim como duas outras figuras femininas emblemáticas do século 20, Evita Perón e
Diana, princesa de Gales, Marta
tem qualidades que lhe conferem apelo popular: beleza, elegância, estilo, coragem, espírito
de luta. De outro lado, compartilha com elas problemas até certo
ponto semelhantes: vida amorosa controvertida e uma relação
bastante conturbada com os
meios de comunicação.
Muitos políticos e observadores
da política, inclusive partidários
de Marta, recorrem a esses fatores estritamente pessoais para
explicar sua derrota. Ora, a despeito de problemas pessoais semelhantes, Evita e Diana eram,
e ainda são, admiradas e adoradas pelo povo, mesmo fora dos
seus países de origem. Por que
será que a prefeita de São Paulo,
com todas as qualidades mencionadas, tendo implementado
políticas sociais que são elogiadas até por seus adversários, não
conseguiu suscitar adesão comparável? Se tivesse sido capaz
disso, ela seria certamente imbatível em qualquer eleição.
O que faltou a Marta Suplicy?
Desconfio de que o problema
tenha a ver com o modo como se
faz política hoje. Mas o meu espaço acabou. Falei, falei e não
cheguei ao que me parece essencial.
Tento de novo na semana que
vem.
Paulo Nogueira Batista Jr., 49, economista e professor da FGV-EAESP, escreve
às quintas-feiras nesta coluna. É autor
do livro "A Economia como Ela É..." (Boitempo Editorial, 3ª edição, 2002).
E-mail - pnbjr@attglobal.net
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