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LUÍS NASSIF
Lenta, gradual
e de ré
Com a "herança maldita"
das dívidas interna e externa, o governo Luiz Inácio
Lula da Silva recebeu de presente um câmbio favoravelmente desvalorizado e uma
conjuntura internacional extraordinariamente favorável.
Se quisesse enfrentar a "herança", ele tinha dois caminhos a seguir. Ou partia para
uma mudança radical (o que
seria temerário) ou para uma
solução gradativa, que foi o
plano apresentado ao país.
Ora, por solução gradativa
entenda-se um processo de redução progressiva das vulnerabilidades externa e interna.
Será que está ocorrendo?
Os dois indicadores fundamentais de desempenho da
economia, agora, são o déficit
nominal (incluído o serviço
da dívida) e as contas externas. O primeiro depende de
superávits primários elevados
e de taxas de juros reduzidas.
O segundo depende de taxas
de juros reduzidas e de câmbio desvalorizado. A atuação
do Banco Central, de elevar os
juros, apreciar o câmbio e não
recompor as reservas cambiais pode ter duas explicações: uma discutível, outra
que deveria terminar em Comissão Parlamentar de Inquérito.
A discutível é a de permitir
aos grandes grupos nacionais
liquidar com suas posições em
dólares -o que vem ocorrendo de forma acelerada. Aliás,
é curiosíssimo isso. Surge essa
história de permitir a abertura de contas dolarizadas para
criar poupança de longo prazo. E o que se vê é todos os
grupos que recorreram ao crédito externo o substituírem
por crédito interno ou simplesmente quitá-los com geração de caixa. O que confirma
que essa história de contas em
dólar é apenas para oficializar a internacionalização da
grande poupança interna,
não para pavimentar o investimento interno.
A segunda hipótese é que a
apreciação do câmbio seja
um objetivo em si, para trazer
de volta o déficit nas contas
correntes -intenção já manifestada por membros do
BC. Se for esse o caso, sugere-se que se chame a Polícia Federal e o Ministério Público.
Hoje em dia, já existem dez
anos de histórico para que
não se aceite mais a falsa premissa de que a criação de déficits externos visava abrir espaço para a poupança externa suplementar a interna. Só
os muitos ingênuos, as partes
interessadas ou os muito desinformados ainda sustentam
essa versão.
Nesse período, muito dólar
entrou, muito saiu, e o nível
de investimento não saiu do
lugar. Houve o chamado
"efeito substituição". O dólar
que entrava em uma ponta
obrigava o Banco Central a
enxugar a outra ponta, a do
crédito doméstico, por meio
de compulsórios elevados, colocação de títulos públicos e
juros estratosféricos. Existe
enorme poupança interna na
indústria de fundos. Só que
inteiramente alocada no pagamento da dívida, criada
por um modelo que tudo exigiu do país, em troca da promessa de gerar investimento.
E os mesmos economistas que
colocaram o país nessa armadilha são os que voltam com
novas promessas vãs, sendo
avalizadas pelos mesmos
analistas de sempre.
O que parece é que se está
tendo uma caminhada lenta e
gradual. Para trás.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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