São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

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COMÉRCIO

EUA podem ser beneficiados

Fiesp pede revisão de acordo Mercosul-Chile

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) pretende encaminhar ao governo um pedido de revisão do acordo comercial estabelecido entre o Mercosul e o Chile. A ação expõe novamente o descontentamento de setores da indústria brasileira com as negociações comerciais conduzidas pelo Itamaraty.
A entidade, com base em estudo realizado pelo Icone (Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais), argumenta que as exportações brasileiras para o Chile podem ser prejudicadas em decorrência das preferências tarifárias que o Chile concedeu aos EUA. O acordo entre os dois países vigora desde janeiro.
Os EUA vêm costurando acordos bilaterais com países do hemisfério desde o fracasso das negociações da OMC (Organização Mundial do Comércio) em 2003 e da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), o que pode deixar o Brasil isolado na região.
Na avaliação de Roger Noriega, subsecretário de Estado americano para o Hemisfério Ocidental, o fracasso das negociações multilaterais em Cancún atrasou o calendário de implantação da Alca e empurrou o país a buscar a integração comercial no hemisfério por meio de acordos bilaterais.
Segundo as bases do tratado comercial entre Chile e EUA, a margem média de preferência tarifária concedida aos produtos importados dos EUA pelo Chile é de 96,3%, contra 68,5% concedida ao Brasil. O cálculo foi elaborado a partir de uma cesta de 70 produtos importados pelo Chile.
"Só a partir de 2005 é que veremos o impacto que o acordo entre o Chile os EUA nas exportações do Brasil. Mas está claro que acordos bilaterais que excluem o Brasil vão causar danos à indústria de São Paulo", disse Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil nos EUA e presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp.
De acordo com Barbosa, 80% dos produtos exportados pelo Brasil para seus parceiros sul-americanos são bens industriais.
O temor dos brasileiros é que ocorra com o Chile o que já se passou com o México. Com a entrada em vigor do Nafta (acordo entre EUA, Canadá e México), o mercado mexicano para produtos brasileiros como suco de laranja, calçados e têxteis encolheu.
Para evitar a erosão das preferências tarifárias que o Brasil já desfruta com o Chile, uma das propostas do estudo é intensificar a Alca. "Se a Alca tivesse caminhado melhor do que está hoje, poderia existir lá na frente tarifa zero para 90% dos produtos", avaliou Marcos Jank, presidente do Icone.
Com a reeleição do presidente George W. Bush, a proliferação de acordos comerciais entre os EUA e outros países do continente deve continuar. Diante disso, o ex-embaixador defende que o Brasil busque mais acordos comerciais no âmbito do Mercosul.


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