São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

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YUAN X DÓLAR

Reservas cresceram 27%

China vê irregularidade na conversão de moeda

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

O governo chinês anunciou ontem que identificou uma série de irregularidades na conversão de moeda estrangeira em yuans, que em parte foram responsáveis pelo salto inédito de 27% nas reservas internacionais do país neste ano, para um total de US$ 514,5 bilhões em setembro.
As reservas internacionais são o resultado da compra pelo banco central de todos os dólares que entram no país, seja por meio de exportações, investimento estrangeiro direto ou compra de títulos e ações. Muitos analistas suspeitam de que parte do fluxo de dólares que a China recebeu nos últimos meses tenha sido de capital especulativo de investidores que apostam na valorização do yuan em relação ao dólar.
O volume de US$ 514,5 bilhões é inédito e supera o PIB brasileiro, próximo de US$ 500 bilhões.
Apesar de proteger o país contra choques externos, a acumulação de reservas ameaça o esforço do governo chinês em controlar o ritmo de crescimento da economia, que atingiu 9,5% nos nove primeiros meses do ano.
Para comprar os dólares que entram no país, o Banco Central tem de emitir yuans, o que aumenta o volume de dinheiro em circulação na economia. Quanto maior a oferta de dinheiro, maior a pressão sobre os bancos para a concessão de empréstimos, que são direcionados para investimentos e consumo.
"As operações ilegais de venda de moeda estrangeira entre bancos e empresas ou indivíduos afetaram o balanço de pagamentos internacional e resultaram em crescimento anormal das reservas internacionais, desestabilizando o gerenciamento macroeconômico", disse a agência da China responsável pela área de câmbio, em nota oficial.
Conhecida pela sigla Safe (das iniciais em inglês para Administração Estatal de Moeda Estrangeira), a agência investigou 41 operações de compra de moeda estrangeira realizadas por 35 bancos entre janeiro e setembro e identificou transações ilegais no valor de US$ 120 milhões.
A quantia é pequena se comparada ao total de reservas, mas levanta a suspeita de que outras operações semelhantes tenham sido realizadas entre as inúmeras não fiscalizadas pela agência.
Segundo a Safe, o fluxo de capital estrangeiro para a China cresceu mesmo em meses nos quais o país registrou déficit em sua balança comercial, movimento que normalmente leva à saída líquida de recursos, e não o contrário.
"A oferta excessiva de moeda estrangeira no mercado doméstico se tornou mais séria, o que minou o efeito dos esforços de controle macroeconômico", afirmou a nota oficial da agência.
Há dez anos a China mantém sua moeda atrelada à cotação do dólar, em uma relação próxima de 8,26 yuans por dólar. Para inúmeros analistas econômicos, o yuan está subvalorizado.


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