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Justiça libera bens de ex-dono do Econômico
Ângelo Calmon de Sá e outros 42 ex-administradores tinham bens bloqueados desde a intervenção no banco, na década de 90
Ministério Público, que
havia solicitado arresto para
cobrir eventuais prejuízos
da instituição, decidiu
pedir a liberação
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Os advogados do ex-controlador do Econômico, Ângelo
Calmon de Sá, pedirão à Justiça
que ele possa atuar novamente
no mercado financeiro. A informação é do próprio ex-banqueiro, que teve os bens liberados pela 7ª Vara Cível do Tribunal de Justiça da Bahia, passados dez anos do bloqueio e da liquidação do banco.
"A proibição é maluca", afirmou, por telefone, à Folha.
"Mas sinceramente não estou
preocupado com isso: não quero voltar nunca mais. Se soubessem o que sofri por terem
me escolhido para Cristo..."
Sobre seus planos futuros
afirma: "Chegou a hora de me
dedicar ao meu livro. Eles vão
ver só a bomba que vou soltar".
A história da disputa de Calmon de Sá com o governo começou em 11 de agosto de 1995,
quando o Banco Central decretou a intervenção do Banco
Econômico, à época a quinta
maior em atuação no país.
Sem R$ 1,8 bilhão em caixa
para honrar os compromissos,
o Econômico foi enquadrado
nas regras do Proer, programa
de socorro às instituições financeiras criado pela equipe
econômica de Fernando Henrique Cardoso sob a justificativa de impedir uma quebra sistêmica nacional.
Um ano depois, o Econômico
era liquidado extrajudicialmente. Os técnicos do BC sustentaram ter encontrado indícios de maquiagem no balanço
contábil do Econômico, assim
como desvio de recursos da
instituição para outras empresas dos controladores.
O Ministério Público da Bahia, por sua vez, pediu o bloqueio dos bens dos controladores na ocasião para garantir a
cobertura dos prejuízos.
Desde lá, Calmon e outros 42
administradores do banco
baiano estavam impedidos de
vender seus bens, de fazer investimentos financeiros e de
emprestar dinheiro de outros
bancos. Ontem, o jornal "Valor
Econômico" informou que o
próprio Ministério Público pediu o desbloqueio e que outra
ação, desta vez indenizatória,
que corria na Justiça baiana,
também havia sido encerrada.
Isso aconteceu porque, conforme os últimos dados contábeis informados pelos administradores da massa falida, o balanço está zerado - os créditos
igualaram as dívidas. De sorte
que os procuradores consideraram não haver necessidade
da manutenção dos bens dos
controladores sob arresto para
garantir o pagamento.
NTNs
À Folha, Calmon de Sá afirmou que continuará tentando
um acordo com o Banco Central para levantar a liquidação
-o que vem fazendo, sem sucesso, desde 1999.
Há dois pontos que servem
ao argumento de Calmon de Sá,
a existência de títulos cambiais
(NTN-A3) na carteira da massa
falida do Econômico e a discussão sobre o índice de correção
usado para atualizar a dívida do
banco com o BC.
No primeiro caso, quando o
dólar fica mais caro, os papéis
atrelados a ele são valorizados
e pesam positivamente no balanço do Econômico, engordando os créditos em relação
às dívidas. Tal situação ocorreu
em 1999 e em 2002, quando o
valor do real despencou. Não
preocupa agora, pois a taxa de
câmbio está num patamar considerado baixo.
Já o debate sobre a correção
da dívida acontece porque o BC
acredita que a atualização deve
acontecer a partir da Lei nº
6024, conhecida como Lei de
Falências. Sob esse ponto de
vista, a dívida do Econômico
deveria ser atualizada a partir
da variação cambial mais 6%
anuais. Até agora, porém, esse
modelo não foi aplicado. A correção usada, e defendida por
Calmon de Sá, é a determinada
pela Lei nº 8.177, a TR (Taxa
Referencial).
"Eles inventaram essa história maluca de querer aplicar a
Lei de Falências, mas isso não
tem sentido. Vão perder na
Justiça e isso custará caro para
o Tesouro Nacional", disse Calmon de Sá. "Tudo porque não
querem voltar atrás numa história que eles mesmos inventaram: a de que fazer um acordo
iria dar dinheiro para os controladores."
Procurado, o Banco Central
não quis comentar as declarações de Calmon ou o desbloqueio dos bens.
CPI
Questionado sobre o lobby para o levantamento da liquidação feito pelo publicitário Marcos Valério de Souza, principal acusado pela Procuradoria-Geral da República no caso do mensalão, Calmon de Sá afirmou: "
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