São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2008

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Sindicato negocia manutenção de empregos

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Representantes de trabalhadores do setor bancário já estão em contato com diretores de Itaú e Unibanco, com o Banco Central e com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para evitar que a fusão dos bancos resulte em demissões -as duas instituições empregam juntas cerca de 105 mil pessoas- e ainda prejudique os clientes.
"Se a lógica da fusão for mantida, já que as diretorias dos dois bancos afirmam que a idéia do negócio é criar uma instituição maior e mais forte, não deve haver demissões. E vamos lutar para que todos os empregos sejam mantidos", afirma Luiz Cláudio Marcolino, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, ligado à CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Marcolino, que diz ter sido pego de surpresa com a fusão do Itaú e do Unibanco, afirma que, na década de 90, os bancos se uniam com intenção de fortalecer os ativos dentro do sistema financeiro nacional, e não se preocupavam em manter as agências e os empregos.
"A situação hoje é outra. Os bancos sabem que, sem agências e empregos, também não existem clientes e, por isso, aceitam negociar com sindicatos de trabalhadores garantias de empregos. Estamos esperando essa postura nesse negócio entre Itaú e Unibanco", diz.
Na compra do Banespa pelo Santander, em 2000, segundo ele, o sindicato conseguiu negociar garantia de empregos por cinco anos. Na compra do Bank Boston pelo Itaú, a garantia de emprego foi estabelecida em 12 meses. "Os bancos perceberam que não adianta fazer fusão com demissão. Eles precisam de agências, trabalhadores e clientes. A diretoria do Itaú já se comprometeu hoje [ontem] a conversar com o sindicato. A direção do Unibanco já informou que vai falar conosco", diz.
Além dos trabalhadores, segundo Marcolino, também os clientes não podem ser lesados com a fusão. "Por isso estamos pedindo que o BC e o Cade avaliem com cuidado esse negócio. Agora, vamos ter dois grandes bancos nacionais [Bradesco e Itaú-Unibanco], dois estrangeiros [Santander e HSBC] e dois públicos [Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil]. Se olhar para o cenário nacional, são poucos bancos, e essa é uma preocupação que tem de ser discutida pela sociedade, se há concentração."
Vagner Freitas, presidente da Contraf (Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), ligada à CUT, diz que "os bancários estão preocupados porque o histórico de fusões e aquisições de bancos no país não é bom para o emprego. Todas as fusões de bancos que já ocorreram no país sempre resultaram, mais cedo ou mais tarde, em desemprego".
No final da década de 80, segundo ele, o setor bancário chegou a empregar cerca de 1 milhão de pessoas. No final da década de 90, esse número já estava perto de 400 mil e praticamente se mantém até hoje.
"Toda vez que o Itaú incorporou algum banco houve demissão. Isso ocorreu com a compra do Banco do Estado do Rio de Janeiro, do Banco do Estado de Minas Gerais e do Banco do Estado do Paraná, além de vários outros bancos. O Itaú é bem agressivo no mercado e no corte de pessoal. Ele era um banco praticamente do tamanho do Bradesco, só que o Bradesco tem 30% mais funcionários do que o Itaú", afirma Freitas.
Em 1997, após adquirir o Banerj, a redução de vagas do Itaú foi de 956 postos; em 1998, quando adquiriu o Bemge, de 1.974 postos; em 2001, um ano após a compra do Banestado, de 3.754 postos; em 2002, quando adquiriu o BBA, de 2.970 postos; e, em 2003, quando adquiriu o Banco Fiat, de 1.012 postos, segundo levantamento realizado pelo sindicato dos bancários.
Na avaliação de Freitas, uma fusão do porte da anunciada ontem terá forte impacto no setor bancário brasileiro. "Não tenho a menor dúvida de que o Bradesco e o HSBC também vão se movimentar, pois eles também querem ser o maior do país. O pior é que, quanto maior for a concentração, menor o emprego no setor", afirma.


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