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Sindicato negocia manutenção de empregos
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Representantes de trabalhadores do setor bancário já estão
em contato com diretores de
Itaú e Unibanco, com o Banco
Central e com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa
Econômica) para evitar que a
fusão dos bancos resulte em demissões -as duas instituições
empregam juntas cerca de 105
mil pessoas- e ainda prejudique os clientes.
"Se a lógica da fusão for mantida, já que as diretorias dos
dois bancos afirmam que a
idéia do negócio é criar uma
instituição maior e mais forte,
não deve haver demissões. E
vamos lutar para que todos os
empregos sejam mantidos",
afirma Luiz Cláudio Marcolino,
presidente do Sindicato dos
Bancários de São Paulo, Osasco
e Região, ligado à CUT (Central
Única dos Trabalhadores).
Marcolino, que diz ter sido
pego de surpresa com a fusão
do Itaú e do Unibanco, afirma
que, na década de 90, os bancos
se uniam com intenção de fortalecer os ativos dentro do sistema financeiro nacional, e não
se preocupavam em manter as
agências e os empregos.
"A situação hoje é outra. Os
bancos sabem que, sem agências e empregos, também não
existem clientes e, por isso,
aceitam negociar com sindicatos de trabalhadores garantias
de empregos. Estamos esperando essa postura nesse negócio entre Itaú e Unibanco", diz.
Na compra do Banespa pelo
Santander, em 2000, segundo
ele, o sindicato conseguiu negociar garantia de empregos
por cinco anos. Na compra do
Bank Boston pelo Itaú, a garantia de emprego foi estabelecida
em 12 meses. "Os bancos perceberam que não adianta fazer fusão com demissão. Eles precisam de agências, trabalhadores
e clientes. A diretoria do Itaú já
se comprometeu hoje [ontem]
a conversar com o sindicato. A
direção do Unibanco já informou que vai falar conosco", diz.
Além dos trabalhadores, segundo Marcolino, também os
clientes não podem ser lesados
com a fusão. "Por isso estamos
pedindo que o BC e o Cade avaliem com cuidado esse negócio.
Agora, vamos ter dois grandes
bancos nacionais [Bradesco e
Itaú-Unibanco], dois estrangeiros [Santander e HSBC] e
dois públicos [Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil].
Se olhar para o cenário nacional, são poucos bancos, e essa é
uma preocupação que tem de
ser discutida pela sociedade, se
há concentração."
Vagner Freitas, presidente
da Contraf (Confederação dos
Trabalhadores do Ramo Financeiro), ligada à CUT, diz que "os
bancários estão preocupados
porque o histórico de fusões e
aquisições de bancos no país
não é bom para o emprego. Todas as fusões de bancos que já
ocorreram no país sempre resultaram, mais cedo ou mais
tarde, em desemprego".
No final da década de 80, segundo ele, o setor bancário chegou a empregar cerca de 1 milhão de pessoas. No final da década de 90, esse número já estava perto de 400 mil e praticamente se mantém até hoje.
"Toda vez que o Itaú incorporou algum banco houve demissão. Isso ocorreu com a compra
do Banco do Estado do Rio de
Janeiro, do Banco do Estado de
Minas Gerais e do Banco do Estado do Paraná, além de vários
outros bancos. O Itaú é bem
agressivo no mercado e no corte de pessoal. Ele era um banco
praticamente do tamanho do
Bradesco, só que o Bradesco
tem 30% mais funcionários do
que o Itaú", afirma Freitas.
Em 1997, após adquirir o Banerj, a redução de vagas do Itaú
foi de 956 postos; em 1998,
quando adquiriu o Bemge, de
1.974 postos; em 2001, um ano
após a compra do Banestado,
de 3.754 postos; em 2002,
quando adquiriu o BBA, de
2.970 postos; e, em 2003, quando adquiriu o Banco Fiat, de
1.012 postos, segundo levantamento realizado pelo sindicato
dos bancários.
Na avaliação de Freitas, uma
fusão do porte da anunciada
ontem terá forte impacto no setor bancário brasileiro. "Não
tenho a menor dúvida de que o
Bradesco e o HSBC também
vão se movimentar, pois eles
também querem ser o maior do
país. O pior é que, quanto maior
for a concentração, menor o
emprego no setor", afirma.
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