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ARTIGO
Itabanco ou Êtabanco?
ROBERTO LUIS TROSTER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Com a fusão do Unibanco
com o Itaú nasceu o maior banco do Brasil. Os números impressionam, mais de cem mil
funcionários e ativos superiores a 20% do PIB. Apesar da
surpresa, era algo que poderia
ter sido esperado.
São duas instituições com
vocações semelhantes e que
vão explorar as sinergias em
comum. Ambas começaram
como pequenas casas bancárias que combinaram crescimento orgânico com fusões e
aquisições de outras instituições. Há mais de meio século, o
Unibanco, como a Casa Moreira Salles, e o Itaú, como o Banco Federal de Crédito, foram
fundados pelos pais de seus
atuais presidentes. De bancos
de uma agência só, são agora
conglomerados com todo o espectro de produtos financeiros, cobrindo todo o território
brasileiro e com atuação internacional.
A operação será um destaque
no mercado externo. Os dois
têm bancos operando na América do Sul e na Europa. Lá
competem com instituições do
mundo inteiro em condições
de igualdade e com um bom desempenho. É razoável esperar
uma expansão maior.
No mercado interno, são
dois bancos com tradição no
setor de capitais, e o reflexo da
fusão nos papéis foi uma alta
expressiva, indicando a aprovação dos investidores à operação; há complementação nas
duas estruturas e ganhos de escala a serem usufruídos.
Até agora, os reflexos da concorrência bancária nos custos
de serviços e nas margens foram fracos, pois, com o mercado crescendo a taxas superiores a 20% ao ano, havia poucos
incentivos para iniciar uma
guerra de preços. Como é esperada uma desaceleração na expansão dos serviços bancários,
o impacto da fusão poderá ser
um estreitamento de margens
mais rápido, redundando em
uma oferta mais acessível ao
consumidor.
O foco das atenções é o que
acontece com a concorrência
dentro do país. Há três compras anunciadas (Nossa Caixa,
BRB e Banco do Piauí), mas,
considerando suas dimensões,
não alteram de forma significativa o mapa. No segmento de
bancos médios e pequenos não
são esperados movimentos,
mas uma ou outra surpresa faz
parte da dinâmica do mercado.
O restante do sistema não
deve mudar significativamente
nos próximos meses. O processo de aprovação da fusão por
Banco Central, Cade e demais
reguladores é demorado. A integração de plataformas tecnológicas também é lento. É razoável só esperar efeitos visíveis da fusão no final de 2009
ou no começo de 2010.
Até lá, a reação dos outros
quatro grandes é restrita, ou
nula.
O Bradesco e o Santander são
muito diferentes para pensarem em uma fusão, e a Caixa e o
Banco do Brasil têm muito a ganhar, mas não o farão.
São duas instituições de vocações quase idênticas, voltadas para o varejo nacional, têm
o mesmo acionista controlador
-o Tesouro Nacional-, operam em escala nacional e teriam sinergias consideráveis se
operassem como uma só.
O porquê da não-fusão e da
fusão é mais um reflexo do setor público amarrado no passado e o privado focado no futuro.
ROBERTO LUIS TROSTER , 58, é sócio da Integral Trust e foi economista-chefe da Febraban
(Federação Brasileira de Bancos);
e-mail: robertotroster@uol.com.br
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