São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2008

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ARTIGO

Itabanco ou Êtabanco?

ROBERTO LUIS TROSTER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Com a fusão do Unibanco com o Itaú nasceu o maior banco do Brasil. Os números impressionam, mais de cem mil funcionários e ativos superiores a 20% do PIB. Apesar da surpresa, era algo que poderia ter sido esperado.
São duas instituições com vocações semelhantes e que vão explorar as sinergias em comum. Ambas começaram como pequenas casas bancárias que combinaram crescimento orgânico com fusões e aquisições de outras instituições. Há mais de meio século, o Unibanco, como a Casa Moreira Salles, e o Itaú, como o Banco Federal de Crédito, foram fundados pelos pais de seus atuais presidentes. De bancos de uma agência só, são agora conglomerados com todo o espectro de produtos financeiros, cobrindo todo o território brasileiro e com atuação internacional.
A operação será um destaque no mercado externo. Os dois têm bancos operando na América do Sul e na Europa. Lá competem com instituições do mundo inteiro em condições de igualdade e com um bom desempenho. É razoável esperar uma expansão maior.
No mercado interno, são dois bancos com tradição no setor de capitais, e o reflexo da fusão nos papéis foi uma alta expressiva, indicando a aprovação dos investidores à operação; há complementação nas duas estruturas e ganhos de escala a serem usufruídos.
Até agora, os reflexos da concorrência bancária nos custos de serviços e nas margens foram fracos, pois, com o mercado crescendo a taxas superiores a 20% ao ano, havia poucos incentivos para iniciar uma guerra de preços. Como é esperada uma desaceleração na expansão dos serviços bancários, o impacto da fusão poderá ser um estreitamento de margens mais rápido, redundando em uma oferta mais acessível ao consumidor.
O foco das atenções é o que acontece com a concorrência dentro do país. Há três compras anunciadas (Nossa Caixa, BRB e Banco do Piauí), mas, considerando suas dimensões, não alteram de forma significativa o mapa. No segmento de bancos médios e pequenos não são esperados movimentos, mas uma ou outra surpresa faz parte da dinâmica do mercado.
O restante do sistema não deve mudar significativamente nos próximos meses. O processo de aprovação da fusão por Banco Central, Cade e demais reguladores é demorado. A integração de plataformas tecnológicas também é lento. É razoável só esperar efeitos visíveis da fusão no final de 2009 ou no começo de 2010.
Até lá, a reação dos outros quatro grandes é restrita, ou nula.
O Bradesco e o Santander são muito diferentes para pensarem em uma fusão, e a Caixa e o Banco do Brasil têm muito a ganhar, mas não o farão.
São duas instituições de vocações quase idênticas, voltadas para o varejo nacional, têm o mesmo acionista controlador -o Tesouro Nacional-, operam em escala nacional e teriam sinergias consideráveis se operassem como uma só.
O porquê da não-fusão e da fusão é mais um reflexo do setor público amarrado no passado e o privado focado no futuro.


ROBERTO LUIS TROSTER , 58, é sócio da Integral Trust e foi economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira de Bancos);

e-mail: robertotroster@uol.com.br


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