São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2008

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Com crise, saldo comercial do país recua

Superávit da balança fica em US$ 1,2 bi em outubro, pior resultado desde março; instabilidade cambial adia contratos

Importações ficam aquém do esperado para esta época do ano, com queda de 13% em itens como vinho, bacalhau, enfeites e roupas


JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os efeitos da instabilidade do câmbio e da crise financeiras se refletiram no comércio exterior brasileiro em outubro.
O saldo comercial de outubro somou US$ 1,2 bilhão, o pior resultado mensal desde março. No acumulado do ano até outubro, o saldo é de US$ 20,8 bilhões, 40% menor que nos mesmo período de 2007.
Mesmo com o dólar em alta, os exportadores fecharam menos negócios que em setembro, afetados pela queda da demanda mundial e pelo temor de que a instabilidade cambial cause prejuízos em contratos de longo prazo. Já os importadores compraram menos que o esperado com a crise e o dólar caro.
Segundo o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, as importações ficaram aquém do esperado para esta época do ano, quando os varejistas ampliam os estoques para as vendas de Natal. A alta do dólar tornou o preço das importações menos competitivos.
O pior resultado foi nas importações de bens de consumo, em especial os não-duráveis, como vinho, bacalhau, enfeites e roupas. Houve queda de 13,4% nesses itens, quando a expectativa era de alta de 10%. "A ceia de Natal será com produtos brasileiros", disse Barral.
As importações somaram US$ 17,3 bilhões em outubro, 40% maiores que no mesmo mês do ano passado. Se comparadas com setembro, contudo, se mantiveram estáveis.
Esse resultado é positivo para o saldo comercial. O problema é que, em outubro, o desempenho das exportações foi pior que o das importações se comparado com o mês anterior.
As exportações brasileiras somaram US$ 18,5 bilhões em outubro, o pior resultado desde maio. Se comparado com o mesmo mês do ano passado, foi registrada alta de 17,4%. Mas na comparação com setembro, houve queda de 7,5%.
Francisco Pessoa, economista da LCA Consultores, disse que ainda é cedo para saber qual será o impacto da crise financeira internacional sobre a balança comercial brasileira, embora o efeito da volatilidade do dólar já seja evidente. A projeção da consultoria é de saldo comercial de US$ 25 bilhões este ano, o que seria uma queda de 37,5% em relação a 2007.
Barral disse que a redução de demanda nos países desenvolvidos e a volatilidade cambial ajudaram na piora das exportações. "O que chama a atenção este mês é a queda de quantidade, não de preço. As empresas temem negociar em razão da volatilidade do dólar", afirmou.
Segundo ele, muitas empresas deixaram de fechar contratos de longo prazo com medo de que o dólar volte a cair. Ele cita como exemplos as indústrias siderúrgicas e de celulares.
Barral avalia ainda que a redução dos preços das commodities não afetou as exportações. Ele justifica que os produtos que tiveram queda mais acentuada são os que o Brasil importa, como o trigo, e não os que o país exporta, como a soja. Mesmo assim, a exportação de soja em grãos foi a segunda maior queda do mês, de 42%, por causa do fim da safra.


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