São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2008

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Vale desiste de reajustar preços após boicote chinês

Para Roger Agnelli, mercado do país está "empacado"

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

A Vale, segunda maior empresa do Brasil e maior produtora mundial de minério de ferro, confirmou ontem que desistiu de pressionar a China por um aumento de aproximadamente 12% no preço do material vendido ao país. As vendas para os chineses, responsáveis por 20% do faturamento da Vale, vinham sofrendo boicotes devido à exigência de aumento.
"Acordamos com os japoneses e coreanos que removeríamos a proposta de aumento, e consequentemente a China também será afetada", afirmou a repórteres Roger Agnelli, presidente da companhia, que fez ontem uma apresentação a investidores pelo "Dia da Vale" na Bolsa de Nova York.
A reacomodação chega dias após a Vale anunciar, na última sexta-feira, corte de 30 milhões de toneladas da produção de minério de ferro no Brasil e no exterior, além de retração nas produções de pelotas (subproduto do minério de ferro), alumínio, manganês e ferro-ligas, no Brasil e no exterior. Os trabalhadores das unidades afetadas receberam férias coletivas.
Segundo Agnelli, o problema não é de preço, e sim de demanda. "Alguns mercados estão totalmente empacados, sem nenhum negócio. A China está sem mercado agora."
Analistas estimaram nesta semana que o consumo chinês de aço em 2008 deve ficar abaixo do nível do ano passado, de 489 milhões de toneladas.
Agnelli nega, porém, que a Vale tenha cedido à pressão de um boicote . "Nós amamos os chineses. Vamos continuar trabalhando juntos. Mas eles sempre vão comprar pelo menor preço, e nós vamos vender pelo maior que pudermos."
Ele também diz que a desaceleração da empresa não deverá causar demissões diretas por enquanto, apesar de afetar contratados. "Evidentemente, uma companhia do tamanho da Vale, reduzindo produção, contratará menos serviços de terceiros. Os agregados podem ter algum efeito", afirmou.
Em termos de investimentos, a prioridade da Vale hoje é terminar todos os projetos que estão em andamento, como os de níquel em Goro (Nova Caledônia) e Onça Puma (Pará). Uma vez prontos, porém, os projetos terão produção "nos menores níveis possíveis, só para manter as máquinas funcionando."
Apesar das más notícias, Agnelli tenta manter a confiança dos investidores internacionais na empresa e diz que a Vale está comprando de volta suas próprias ações. "Em alguns mercados, crescimento orgânico traz mais lucros para nossos acionistas do que novas aquisições", afirmou em Nova York.
"O preço atual pressupõe que ocorrerá um desastre no ano que vem. Nós não enxergamos esse desastre. Como as ações estão baratas e não vemos nada tão vantajoso no mercado, estamos comprando-as de volta."
A previsão de Agnelli é que a crise atual continuará a ser sentida com muita intensidade pelos próximos três ou quatro meses, depois dos quais será possível enxergar com clareza estratégias de recuperação. "Ainda vão ser feitos ajustes dramáticos, veremos o fundo dessa crise. Mas qualquer previsão agora resultará em erro. A febre está muito alta."


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