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Vale desiste de reajustar preços após boicote chinês
Para Roger Agnelli, mercado do país está "empacado"
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
A Vale, segunda maior empresa do Brasil e maior produtora mundial de minério de ferro, confirmou ontem que desistiu de pressionar a China por
um aumento de aproximadamente 12% no preço do material vendido ao país. As vendas
para os chineses, responsáveis
por 20% do faturamento da Vale, vinham sofrendo boicotes
devido à exigência de aumento.
"Acordamos com os japoneses e coreanos que removeríamos a proposta de aumento, e
consequentemente a China
também será afetada", afirmou
a repórteres Roger Agnelli, presidente da companhia, que fez
ontem uma apresentação a investidores pelo "Dia da Vale" na
Bolsa de Nova York.
A reacomodação chega dias
após a Vale anunciar, na última
sexta-feira, corte de 30 milhões
de toneladas da produção de
minério de ferro no Brasil e no
exterior, além de retração nas
produções de pelotas (subproduto do minério de ferro), alumínio, manganês e ferro-ligas,
no Brasil e no exterior. Os trabalhadores das unidades afetadas receberam férias coletivas.
Segundo Agnelli, o problema
não é de preço, e sim de demanda. "Alguns mercados estão totalmente empacados, sem nenhum negócio. A China está
sem mercado agora."
Analistas estimaram nesta
semana que o consumo chinês
de aço em 2008 deve ficar abaixo do nível do ano passado, de
489 milhões de toneladas.
Agnelli nega, porém, que a
Vale tenha cedido à pressão de
um boicote . "Nós amamos os
chineses. Vamos continuar trabalhando juntos. Mas eles sempre vão comprar pelo menor
preço, e nós vamos vender pelo
maior que pudermos."
Ele também diz que a desaceleração da empresa não deverá
causar demissões diretas por
enquanto, apesar de afetar contratados. "Evidentemente, uma
companhia do tamanho da Vale, reduzindo produção, contratará menos serviços de terceiros. Os agregados podem ter algum efeito", afirmou.
Em termos de investimentos, a prioridade da Vale hoje é
terminar todos os projetos que
estão em andamento, como os
de níquel em Goro (Nova Caledônia) e Onça Puma (Pará).
Uma vez prontos, porém, os
projetos terão produção "nos
menores níveis possíveis, só
para manter as máquinas funcionando."
Apesar das más notícias, Agnelli tenta manter a confiança
dos investidores internacionais
na empresa e diz que a Vale está
comprando de volta suas próprias ações. "Em alguns mercados, crescimento orgânico traz
mais lucros para nossos acionistas do que novas aquisições", afirmou em Nova York.
"O preço atual pressupõe que
ocorrerá um desastre no ano
que vem. Nós não enxergamos
esse desastre. Como as ações
estão baratas e não vemos nada
tão vantajoso no mercado, estamos comprando-as de volta."
A previsão de Agnelli é que a
crise atual continuará a ser sentida com muita intensidade pelos próximos três ou quatro
meses, depois dos quais será
possível enxergar com clareza
estratégias de recuperação.
"Ainda vão ser feitos ajustes
dramáticos, veremos o fundo
dessa crise. Mas qualquer previsão agora resultará em erro. A
febre está muito alta."
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