São Paulo, quarta-feira, 04 de dezembro de 2002

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ANÁLISE

Missão de Lula será restabelecer a credibilidade do sistema

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A alteração dos limites para a inflação, em estudo pela equipe de Lula, implicará uma tarefa mais complexa que simplesmente fixar novas taxas a serem perseguidas: trata-se de restaurar a credibilidade do regime de metas e definir as linhas da política econômica. Será preciso escolher uma meta para 2003 nem tão baixa que não possa ser atingida nem tão alta a ponto de levar o mercado a duvidar do compromisso com a estabilidade da moeda.
Uma vez fixado o novo objetivo, Lula terá se comprometido a, se necessário, adotar medidas amargas, como elevar os juros ou endurecer ainda mais o aperto nos gastos públicos prometido ao FMI (Fundo Monetário Internacional). Curiosamente, esse desafio cai no colo de um grupo político que nunca morreu de amores pelo regime de metas de inflação. Os petistas sempre criticaram a premissa de que a atuação do BC deve levar em conta somente o controle dos preços -no caso brasileiro normalmente com prejuízo para o crescimento.
Durante a turbulência eleitoral, no entanto, Lula procurou acalmar os mercados ao se comprometer com o cumprimento dos contratos e com a permanência das metas, ainda que seus assessores falassem em flexibilizá-las. Implantado em 1999, o regime dá sinais de esgotamento desde 2001, quando uma primeira onda de disparada do dólar impediu o cumprimento das metas -o mesmo acontecerá neste ano.
Em junho último, o governo alterou a meta de 2003: de um IPCA de 3,25% com tolerância de dois pontos percentuais, passou-se para 4%, com margem de 2,5 pontos para mais ou para menos. Naquele mês, as expectativas do mercado quase coincidiam com a nova meta: o banco mais otimista previa uma taxa de 3,27%, e o mais pessimista, de 5,5%. Na pesquisa da semana passada, o BC encontrou projeções disparatadas para 2003, variando de 4,65% a 16%.
As metas fixadas devem balizar as expectativas. A confiança na disposição e na capacidade do BC de atingi-las evita a pressão por reajustes -e é isso o que se pretende recuperar. (GUSTAVO PATÚ)


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