São Paulo, segunda-feira, 04 de dezembro de 2006

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Argentinos lesados por "corralito" voltam às ruas com panelas

Correntistas retomam protestos cinco anos após congelamento e esperam decisão da Corte Suprema para obter indenizações

Ainda há cerca de 50 mil processos em curso; aposentados que perderam economias não guardam mais dinheiro em banco

DE BUENOS AIRES

Hoje, o aposentado argentino Osvaldo Peira, 71, sairá de casa outra vez com sua panela. Cinco anos após ter sua conta corrente bloqueada pelo governo, voltará às ruas para unir-se a outros depositantes que se sentem lesados pelo "corralito" e reviver o panelaço em frente à Corte Suprema (o Supremo Tribunal Federal do país).
"Tenho uma panela velha, de inox, que faz um ruído metálico bárbaro. Levo também tampões para os ouvidos", contou.
Motorista de ônibus a vida toda, Peira tinha suas economias em uma conta em dólares (o que até hoje é permitido no país) quando veio, nos primeiros dias de dezembro de 2001, a limitação do movimento bancário e, mais tarde, a "pesificação" dos depósitos. "Ao longo da vida, vi o peso perder 13 zeros. Por conhecer bem a história argentina, eu tinha tudo em dólares. Não adiantou."
O protesto não é por simples efeméride. Até o dia 27 de dezembro, a Corte Suprema deve decidir sobre a legitimidade das medidas e sobre como ressarcir quem não fez acordos nem ganhou a restituição em juízo.
Só 15% dos lesados foram à Justiça e há pelos menos 50 mil processos em curso. A decisão da corte, porém, terá impacto sobre todos. Mesmo os que já receberam esperam a decisão para iniciar nova onda de processos, reclamando danos morais e materiais.
"O panelaço vai se repetir para que a corte veja que não estamos todos mortos", diz Peira, que, como muitos, não guarda mais dinheiro em banco. "Na Argentina, quem tem dinheiro em banco é suicida."

Sossego
Dos milhares de manifestantes de antes, sobraram cerca de 500. "Muitos morreram, ficaram doentes ou desistiram. Tenho amigos que caíram em um estresse tão grande que nunca mais saíram de casa", diz Teodoro Yakimiuk, 69, também aposentado, que já recebeu o que lhe cabia. Ele segue indo a protestos não só para ajudar amigos, mas também para conquistar o próprio sossego.
Dependendo da decisão, ficará aberta brecha para que pessoas como Yakimiuk, que receberam seus valores em dólares, sejam acionadas para devolver a diferença cambial. "Me roubaram porque o dinheiro estava no banco. Eram 40 anos de trabalho em um frigorífico. Do meu bolso não vão tirar", diz. (BRUNO LIMA)


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