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Argentinos lesados por "corralito" voltam às ruas com panelas
Correntistas retomam protestos cinco anos após congelamento e esperam decisão da Corte Suprema para obter indenizações
Ainda há cerca de 50 mil processos em curso; aposentados que perderam economias não guardam mais dinheiro em banco
DE BUENOS AIRES
Hoje, o aposentado argentino Osvaldo Peira, 71, sairá de
casa outra vez com sua panela.
Cinco anos após ter sua conta
corrente bloqueada pelo governo, voltará às ruas para unir-se
a outros depositantes que se
sentem lesados pelo "corralito"
e reviver o panelaço em frente à
Corte Suprema (o Supremo
Tribunal Federal do país).
"Tenho uma panela velha, de
inox, que faz um ruído metálico
bárbaro. Levo também tampões para os ouvidos", contou.
Motorista de ônibus a vida
toda, Peira tinha suas economias em uma conta em dólares
(o que até hoje é permitido no
país) quando veio, nos primeiros dias de dezembro de 2001, a
limitação do movimento bancário e, mais tarde, a "pesificação" dos depósitos. "Ao longo
da vida, vi o peso perder 13 zeros. Por conhecer bem a história argentina, eu tinha tudo em
dólares. Não adiantou."
O protesto não é por simples
efeméride. Até o dia 27 de dezembro, a Corte Suprema deve
decidir sobre a legitimidade das
medidas e sobre como ressarcir
quem não fez acordos nem ganhou a restituição em juízo.
Só 15% dos lesados foram à
Justiça e há pelos menos 50 mil
processos em curso. A decisão
da corte, porém, terá impacto
sobre todos. Mesmo os que já
receberam esperam a decisão
para iniciar nova onda de processos, reclamando danos morais e materiais.
"O panelaço vai se repetir para que a corte veja que não estamos todos mortos", diz Peira,
que, como muitos, não guarda
mais dinheiro em banco. "Na
Argentina, quem tem dinheiro
em banco é suicida."
Sossego
Dos milhares de manifestantes de antes, sobraram cerca de
500. "Muitos morreram, ficaram doentes ou desistiram. Tenho amigos que caíram em um
estresse tão grande que nunca
mais saíram de casa", diz Teodoro Yakimiuk, 69, também
aposentado, que já recebeu o
que lhe cabia. Ele segue indo a
protestos não só para ajudar
amigos, mas também para conquistar o próprio sossego.
Dependendo da decisão, ficará aberta brecha para que pessoas como Yakimiuk, que receberam seus valores em dólares,
sejam acionadas para devolver
a diferença cambial. "Me roubaram porque o dinheiro estava no banco. Eram 40 anos de
trabalho em um frigorífico. Do
meu bolso não vão tirar", diz.
(BRUNO LIMA)
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