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LUÍS NASSIF
O gerente da crise
A manifestação de FHC, em
seu discurso de posse, de não pretender ser o "gerente da crise",
mas muito mais, lembra as formulações do ideal, vindas de
adolescentes ou intelectuais
apartados da realidade. O que o
presidente pretende é uma coisa,
como vai obter é outra. E não está claro nem sequer o que o presidente pretende, quanto mais como vai obter.
FHC quer um país moderno, civilizado, globalizado. E quem
não quer? O desafio é explicar como se chega lá. O país não demanda mais conceitos genéricos,
mas planos estratégicos e metas
objetivas. A melhor marca de
modernidade que poderia implementar seria substituir o bacharelismo, que sempre dominou a
vida pública nacional, por objetivos claros, com relações de causa e efeito definidas e prazos e
metas a ser cumpridos. Onde estão os objetivos, os prazos e as
metas? Estão diluídos em um discurso generalista, desmobilizador, que encanta alguns salões
internacionais, mas perdeu o poder de mobilização interna.
O descrédito quanto à capacidade de ação do governo tomou
até o círculo mais íntimo de amigos do presidente. Esse será o
grande desafio do segundo governo: devolver a confiança em
sua capacidade de construir o
novo.
FHC dispõe de um conjunto
único de condições para reformar o país. Tem credibilidade
(ainda), idoneidade, base de
apoio político, condições internacionais, um país que avançou
substancialmente na assimilação de novos conceitos. Mas pouco faz com esses elementos.
Sua visão de futuro limita-se a
uma abordagem quase supersticiosa do déficit público -a mesma visão que tinha, aliás, das reformas constitucionais, que lhe
permitiu ficar quatro anos empurrando a crise com a barriga,
crente de que um país se constrói
apenas com mudanças constitucionais. Agora continua a empurrar com a barriga, nessa
crença anticientífica (porque
não calcada na análise da realidade) de que basta resolver a
questão do déficit público para
todos os horizontes se abrirem e
o país realizar sua vocação de
potência do próximo milênio.
Não há nenhuma evidência
empírica de que corrigindo-se o
déficit interno o país obterá condições de crescer novamente,
tendo no pescoço o torniquete do
déficit externo. Mas FHC acredita. O intelectual respeitado internacionalmente abre mão de evidências, perde a capacidade de
questionar teorias e simplesmente acredita.
Não será com discursos voluntaristas que FHC devolverá ao
país a capacidade de sonhar. O
melhor a fazer é reunir o novo
ministério em janeiro, definir
uma linha de ação clara, cobrar
metas e prazos de cada área e
apresentar um plano de ação definido. Fora isso, não terá gogó
que devolva a crença no governo.
Do Ministério da Educação e
do Desporto, por exemplo, cobre-
se para fevereiro o plano de autonomia das universidades federais, e, para os próximos dois
anos, um cronograma objetivo,
de como pretenderá implementar o plano. Do Ministério da
Produção e da Apex (Agência de
Promoção das Exportações), cobre-se e apresente ao país metas
objetivas de constituição de consórcios exportadores.
Do Ministério de Ciência e Tecnologia, um plano de articulação
dos institutos financiadores de
pesquisa e metas objetivas de registro de patentes para os próximos quatro anos. Do novo Ministério do Turismo, o aprofundamento do belo trabalho iniciado
pela Embratur, de organização
do turismo em nível municipal, e
metas de cidades com seus planos de turismo completos.
Enfim, todo ministério tem que
apresentar um plano de ação e
metas objetivas, que possam ser
acompanhadas e cobradas pela
opinião pública. Caso contrário,
o segundo governo FHC será a
repetição do primeiro: um álibi
(aguardar reformas constitucionais, aguardar equilíbrio do déficit público, aguardar a divulgação da terceira profecia de Fátima) cercado de não-ação por todos os lados.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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