São Paulo, quinta-feira, 05 de fevereiro de 2009

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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

Consolidação do G20?


Um dos grandes objetivos é consagrar o G20 como principal fórum em substituição ao ultrapassado G7

ACABO DE chegar de Londres, onde participei de reuniões preparatórias da segunda cúpula de líderes do G20, que lá acontecerá, no dia 2 de abril. A escolha da cidade não é acidental: o Reino Unido detém a presidência do G20, seguindo rotação preestabelecida (sobre o G20, ver www.g20.org).
Permita-me, leitora, uma breve digressão. Durante as reuniões, Londres foi atingida pela maior tempestade de neve em quase 20 anos. Grande parte da cidade parou: as escolas não abriram, restaurantes fecharam cedo, os aviões não decolavam. O delegado russo, indignado, comentava: "Em Moscou, temos cinco vezes mais neve e tudo continua funcionando". No aeroporto, em meio ao caos, um banqueiro alemão reclamava ironicamente da ineficiência inglesa. "Bem-vindo à Grã-Bretanha", respondeu constrangido um funcionário da British Airways.
A digressão está ficando longa demais. Eis o que queria dizer: nunca vi Londres tão linda. A beleza, quando é muita, chega a doer um pouco. Não me lembro, desde a minha infância no Canadá, de ter visto cair tanta neve -hora após hora, após hora. A cidade acabou coberta de uma camada perfeitamente branca e espessa de neve.
Como subdesenvolvido, nato, hereditário e tropical, fiquei fascinado. Ao contrário do meu colega russo e do banqueiro alemão, levei o caos inglês na mais absoluta esportiva.
Mas volto ao G20. Esse assunto é de grande importância para o Brasil, como já expliquei nesta coluna (ver "Transformar o G7 em G20?", 6/11/2008). Até a eclosão da crise, o G7 era o fórum principal. Mas o G20 teve um tremendo "upgrading" no final de 2008.
O primeiro passo foi a reunião extraordinária, aqui no FMI em outubro, dos ministros das Finanças e de presidentes de banco central, sob o comando de Guido Mantega (o Brasil foi o presidente do G20 em 2008), à qual compareceu o presidente Bush. O segundo passo, ainda mais importante, foi a realização da cúpula de chefes de Estado do G20, em Washington, em novembro.
Graças aos esforços do Brasil e de outros países, a cúpula resultou em um comunicado razoavelmente favorável aos países em desenvolvimento. Nesse comunicado, estabeleceu-se, por exemplo, que haverá um aumento da representação dos países em desenvolvimento no FMI, no Banco Mundial e no Fórum de Estabilização Financeira.
Foi combinado, também, que se fará um esforço coordenado para reativar a economia mundial, superar a crise financeira e reforçar a regulação e supervisão do sistema financeiro privado.
Em Londres, a luta foi garantir que os compromissos definidos em Washington se tornem realidade, particularmente os que são de interesse mais direto das nações em desenvolvimento. Além disso, estamos tentando evitar que temas problemáticos, não discutidos pelos chefes de Estados, entrem (por contrabando, digamos assim) na agenda do G20.
Um dos grande objetivos, como disse o presidente Lula, logo depois da cúpula de Washington, é consagrar o G20 como principal fórum em substituição ao ultrapassado G7. Os países desenvolvidos, pelo menos os mais esclarecidos, parecem aceitar essa tese. Resta garantir a sua aplicação, evitando as manobras dos defensores do antigo regime em que sete nações desenvolvidas podiam se reunir e, com alguma credibilidade, estabelecer a agenda mundial.


PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. , 53, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).

pnbjr@attglobal.net


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