São Paulo, domingo, 05 de março de 2000


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Gigante deixou dívida de R$ 3 bi

da Reportagem Local

Durante muitos anos, a Cooperativa Agrícola de Cotia foi motivo de orgulho da colônia japonesa no Brasil. Fundada por migrantes japoneses em 1928 no interior de São Paulo, ela se espalhou por 150 cidades, em 17 Estados.
No final dos anos 80, a CAC era mais do que uma sociedade de pequenos agricultores. Havia se tornado o órgão vital de uma união de 11 cooperativas de produtores rurais. A CAC era uma potência agrícola.
Seus 15 mil associados produziam 3 milhões de toneladas de alimentos por ano. Com faturamento anual de quase R$ 2 bilhões, a CAC era a 26ª maior empresa brasileira.
Como cooperativa, sua função era distribuir e vender os produtos dos associados. Com a força que tinha, conseguia negociar preços de sementes e fertilizantes, além de levantar empréstimos bancários com juros mais baixos.
Seus técnicos e produtores ajudaram a espalhar pelo país verduras e frutas que eram pouco conhecidas dos fazendeiros brasileiros, como o mamão papaia e o kiwi. Os cooperados da CAC foram pioneiros no plantio no cerrado brasileiro, na década de 70.
A cooperativa se tornou tão importante que seus diretores não se contentaram em servir como intermediários entre os produtores, o comércio e os bancos.
Eles decidiram diversificar os negócios e investiram em unidades para congelamento de alimentos, fiações, indústria de esmagamento de soja e até um shopping center.
A CAC também apostou na formação de uma forte cooperativa de crédito, que reunia os recursos dos agricultores para financiar a produção com juros mais baixos do que os cobrados pelos bancos.
O passo foi maior do que a perna. Alguns negócios deram errado. Congelamentos econômicos, como o do Cruzado, em 86, deixaram os agricultores em situação difícil e muitos cooperados deram o calote na cooperativa.
A CAC ainda tentou reagir usando seu poder de fogo para levantar empréstimos nos bancos. A cooperativa tinha acesso a crédito em 83 bancos e passou a levantar dinheiro numa instituição para cobrir a dívida em outra.
"Não havia um sistema de troca de informações sobre inadimplência como hoje", diz José Hélio Borba, advogado de oito bancos no processo da Cotia. "Ninguém imaginava que uma empresa daquele tamanho estava ameaçada."
Ao quebrar, a CAC deixou dívidas de R$ 3 bilhões, a maior parte nos bancos. Deixou de pagar também impostos, fornecedores e os próprios cooperados, que investiram na construção do patrimônio. A CAC é alvo de milhares de ações judiciais, por parte de credores e de ex-funcionários. (RG)





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