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Copom é técnico, mas não é independente
GUSTAVO PATÚ
da Sucursal de Brasília
O Comitê de Política Monetária
(Copom) é uma espécie de teatro
no qual a equipe econômica encena a seguinte peça: os juros brasileiros são fixados em caráter estável e a partir de critérios técnicos
exaustivamente discutidos.
Criado em 1996, o Copom é formado pelos diretores do Banco
Central, que se reúnem a cada mês
para fixar as taxas de juros que servem de referência para toda a economia. Nas reuniões, cujas atas são
divulgadas, técnicos são ouvidos e
propostas são votadas.
O ritual tem o objetivo de mostrar que as decisões não levam em
conta as conveniências políticas do
governo, como acontece nos países
desenvolvidos cujos bancos centrais têm alto grau de independência -EUA e Alemanha são exemplos clássicos.
Pela concepção original do Copom, os juros definidos pelo comitê seriam mantidos por pelo menos 30 dias, independentemente
das oscilações ocasionais da economia. Na prática, porém, as coisas se passam de maneira diferente.
O Banco Central do Brasil é muito vulnerável a ingerências políticas. Basta lembrar que só nos dois
primeiros meses deste ano a instituição foi presidida por três pessoas diferentes.
Como comparação, Alan
Greenspan preside o Fed (o banco
central norte-americano) desde
1987, passando por governos republicanos e democratas.
Ainda que o governo tenha concedido um razoável nível de autonomia para o BC, nada impede que
o presidente da República determine num telefonema a taxa de juros do dia seguinte.
O BC defende que seus diretores
tenham mandatos fixos, mas o governo nunca se empenhou na defesa dessa proposta no Congresso.
As taxas definidas pelo Copom
são muito menos estáveis do que
aparentam. Se houver uma decisão
do governo, o comitê pode perfeitamente se reunir hoje -em caráter extraordinário- e rever os juros de 45% anuais fixados ontem.
Foi o que aconteceu em setembro
do ano passado, quando o Copom
fixou os juros em 19%, 29,75% e
49,75% ao ano, alterando as taxas à
medida que se agravavam os efeitos da moratória da Rússia.
De lá para cá, o BC abandonou a
idéia de fixar taxas por períodos
determinados, preferindo reservar-se o direito de alterá-las conforme as necessidades -mais ou
menos como acontecia antes da
criação do Copom.
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