São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2004

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ESPETÁCULO EM XEQUE

Segundo analistas, recuperação recente é insuficiente para aumentar o potencial de crescimento

Investimento sobe em ritmo de conta-gotas

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O nível de investimento no Brasil voltou a se recuperar no início de 2004, depois do recuo registrado nos últimos dois meses do ano passado. Mas indicadores preliminares revelam que essa retomada ocorre em um ritmo de conta-gotas, insuficiente para desatar o nó que impede a retomada do crescimento sustentado.
A taxa de investimento -chamada de formação bruta de capital fixo- cresceu 0,8% em janeiro deste ano em relação a dezembro de 2003, segundo cálculo do BankBoston. Para fevereiro, o banco projeta aumento de 1,5%.
Esses números ainda não foram suficientes para compensar as quedas sofridas em novembro e dezembro de 2003. Em janeiro deste ano, o nível de investimento estava 3,9% abaixo do pico atingido em outubro do ano passado.
"A tendência continua sendo de recuperação, mas a um ritmo bem mais lento", diz Marcelo Cypriano, economista do Boston.
Um sinal de que essa retomada lenta pode ter marcado o primeiro trimestre do ano é o ritmo da importação de bens de capital -um dos componentes importantes da taxa de investimento. Descontadas as variações sazonais, essas compras em valores diários tiveram crescimento, em média, de 1,3%, 1% e 0,6% em janeiro, fevereiro e março deste ano, respectivamente.
"Essa recuperação vagarosa ainda é insuficiente para compensar os declínios acumulados desde 2002", afirma Júlio Gomes de Almeida, diretor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), que calculou as informações sobre importações de bens de capital com base em dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

Pilares
Segundo economistas, os principais pilares do crescimento de 3% a 3,5% esperado para este ano deverão ser a melhoria do nível de consumo e, novamente, o ótimo desempenho do setor externo.
Os investimentos, em menor escala, também deverão contribuir para a expansão de 2004. Mas, no ritmo em que se expandem, serão insuficientes para desatar o nó que impede o aumento do potencial de crescimento do país.
"A taxa de investimento caiu muito nos últimos anos. Essa retomada, agora, é importante, mas não muda o PIB potencial do país", afirma Armando Castelar, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
O chamado PIB potencial mede a capacidade que uma economia tem de se expandir sem esbarrar em gargalos de produção. Se cresce mais que o PIB potencial, um país pode enfrentar pressões inflacionárias e crises de escassez de insumos, como a energética vivida pelo país em 2001.
Segundo Castelar, é provável que a retração dos investimentos nos últimos três anos tenha derrubado o PIB potencial para um nível inferior a 3%.
Em uma publicação mensal nova sobre a América Latina, o HSBC afirma que o governo carece de uma estratégia definida para combater o problema do baixo limite de expansão da economia.
"O país continua a sofrer com um potencial de crescimento baixo e, pior que isso, com a falta de qualquer plano convincente para combatê-lo", diz trecho do Latin America Economics Insight.
Segundo Paulo Vieira da Cunha, diretor e economista-chefe para a América Latina do HSBC, o governo tem um programa macroeconômico claro e coerente, mas ainda não apresentou uma estratégia de desenvolvimento.


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