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ESPETÁCULO EM XEQUE
Segundo analistas, recuperação recente é insuficiente para aumentar o potencial de crescimento
Investimento sobe em ritmo de conta-gotas
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O nível de investimento no Brasil voltou a se recuperar no início
de 2004, depois do recuo registrado nos últimos dois meses do ano
passado. Mas indicadores preliminares revelam que essa retomada ocorre em um ritmo de
conta-gotas, insuficiente para desatar o nó que impede a retomada
do crescimento sustentado.
A taxa de investimento -chamada de formação bruta de capital fixo- cresceu 0,8% em janeiro
deste ano em relação a dezembro
de 2003, segundo cálculo do
BankBoston. Para fevereiro, o
banco projeta aumento de 1,5%.
Esses números ainda não foram
suficientes para compensar as
quedas sofridas em novembro e
dezembro de 2003. Em janeiro
deste ano, o nível de investimento
estava 3,9% abaixo do pico atingido em outubro do ano passado.
"A tendência continua sendo de
recuperação, mas a um ritmo
bem mais lento", diz Marcelo
Cypriano, economista do Boston.
Um sinal de que essa retomada
lenta pode ter marcado o primeiro trimestre do ano é o ritmo da
importação de bens de capital
-um dos componentes importantes da taxa de investimento.
Descontadas as variações sazonais, essas compras em valores
diários tiveram crescimento, em
média, de 1,3%, 1% e 0,6% em janeiro, fevereiro e março deste
ano, respectivamente.
"Essa recuperação vagarosa
ainda é insuficiente para compensar os declínios acumulados desde 2002", afirma Júlio Gomes de
Almeida, diretor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), que calculou
as informações sobre importações de bens de capital com base
em dados da Secex (Secretaria de
Comércio Exterior).
Pilares
Segundo economistas, os principais pilares do crescimento de
3% a 3,5% esperado para este ano
deverão ser a melhoria do nível de
consumo e, novamente, o ótimo
desempenho do setor externo.
Os investimentos, em menor escala, também deverão contribuir
para a expansão de 2004. Mas, no
ritmo em que se expandem, serão
insuficientes para desatar o nó
que impede o aumento do potencial de crescimento do país.
"A taxa de investimento caiu
muito nos últimos anos. Essa retomada, agora, é importante, mas
não muda o PIB potencial do
país", afirma Armando Castelar,
economista do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada).
O chamado PIB potencial mede
a capacidade que uma economia
tem de se expandir sem esbarrar
em gargalos de produção. Se cresce mais que o PIB potencial, um
país pode enfrentar pressões inflacionárias e crises de escassez de
insumos, como a energética vivida pelo país em 2001.
Segundo Castelar, é provável
que a retração dos investimentos
nos últimos três anos tenha derrubado o PIB potencial para um
nível inferior a 3%.
Em uma publicação mensal nova sobre a América Latina, o
HSBC afirma que o governo carece de uma estratégia definida para
combater o problema do baixo limite de expansão da economia.
"O país continua a sofrer com
um potencial de crescimento baixo e, pior que isso, com a falta de
qualquer plano convincente para
combatê-lo", diz trecho do Latin
America Economics Insight.
Segundo Paulo Vieira da Cunha, diretor e economista-chefe
para a América Latina do HSBC, o
governo tem um programa macroeconômico claro e coerente,
mas ainda não apresentou uma
estratégia de desenvolvimento.
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