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CAPITALISMO VERMELHO
Objetivo é reduzir ritmo de crescimento e evitar apagão
China ameaça conter investimento
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
O governo chinês determinou
inspeções em quase todos os investimentos iniciados no país em
2004, da construção de novas siderúrgicas e fábricas de cimento à
abertura de shopping centers. Os
projetos que estiverem em desacordo com regras nacionais ou
não obedecerem às exigências
ambientais e de limites de financiamento serão interrompidos.
A medida compõe o elenco de
decisões pontuais que o governo
chinês vem adotando para tentar
reduzir o ritmo de crescimento da
economia e evitar um colapso no
fornecimento de energia e no setor de transporte.
Antes do feriado de 1º de maio,
que vai durar nove dias (até domingo), os bancos estatais já haviam sido orientados a suspender
financiamentos a projetos de investimentos em áreas consideradas superaquecidas. No primeiro
trimestre do ano, o volume de investimentos subiu 43% em relação a igual período de 2003, ritmo
considerado insustentável por
economistas e o próprio governo.
Na quinta-feira antes do início
do feriado, a diretoria do Banco
Central realizou uma reunião de
emergência, que foi interpretada
por analistas de mercado como
um sinal de que a China irá elevar
a taxa de juros a partir de segunda-feira, quando a atividade no
país volta ao normal. Se a medida
for adotada, será o primeiro aumento dos juros desde 1995.
Além de temer o superaquecimento da economia, que pode ser
interrompido bruscamente no futuro, o governo quer evitar o risco
de falta de energia e de limitações
na oferta de transporte, que também podem provocar uma queda
abrupta na atividade econômica.
Energia racionada
Em algumas regiões do país, já
há racionamento de energia, com
corte do fornecimento por determinados períodos do dia. A rede
ferroviária, que é o principal meio
de transporte do país, opera no limite de sua capacidade, segundo
Wu Qiang, diretor de transporte
do Ministério das Ferrovias. Wu
disse à agência oficial de notícias
Xinhua que o movimento no setor de cargas aumentou 35% nos
primeiros três meses do ano e,
mesmo assim, foi insuficiente para atender à demanda.
"O sistema de transporte ferroviário de carga está sob grande
pressão. Um número considerável de vagões está operando no limite ou acima de sua capacidade", afirmou o diretor.
Os projetos de investimentos
mais visados pelo governo são os
concentrados nas áreas em que o
superaquecimento é considerado
evidente, como aço, alumínio e cimento. Mas a inspeção determinada pelo governo vai atingir a
construção de escritórios, shopping centers, centros de exibição,
trens urbanos e campos de golfe.
Antes de adotar essas medidas
administrativas, o governo havia
elevado de 7,0% para 7,5% o empréstimo compulsório dos bancos, que é a quantidade de dinheiro que as instituições devem deixar imobilizada no Banco Central
do país. A determinação, que entrou em vigor dia 25 de abril, tem
o objetivo de diminuir a quantidade de dinheiro em circulação
na economia e o volume de recursos disponíveis para os bancos
emprestarem. No fim do ano passado, o BC chinês já havia elevado
o empréstimo compulsório de
6,5% para 7,0%.
Guan Peng, analista da Anbound Consulting, acredita que
essas medidas começam a ter impacto sobre a atividade econômica. Segundo ele, o ritmo de expansão do crédito vem diminuindo
nos últimos seis meses. Novos
empréstimos concedidos em janeiro e fevereiro somaram US$
54,6 bilhões -alta de 12,7% em
relação a igual período do ano
passado.
De qualquer maneira, o mercado acredita que o BC vá subir os
juros a partir de segunda-feira. A
taxa para empréstimos de um ano
está em 5,31%. Se for considerada
uma expectativa de inflação de
3%, o juro real está em pouco
mais de 2% ao ano.
A maioria dos analistas acredita
que o governo elevará a taxa em
0,5 ponto percentual. O BC resistiu até agora a subir os juros pelo
temor de que a medida atraia ainda mais capitais especulativos ao
país. Investidores vêm comprando yuans na expectativa de que a
China valorize sua moeda em relação ao dólar.
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