São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2004

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CAPITALISMO VERMELHO

Objetivo é reduzir ritmo de crescimento e evitar apagão

China ameaça conter investimento

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

O governo chinês determinou inspeções em quase todos os investimentos iniciados no país em 2004, da construção de novas siderúrgicas e fábricas de cimento à abertura de shopping centers. Os projetos que estiverem em desacordo com regras nacionais ou não obedecerem às exigências ambientais e de limites de financiamento serão interrompidos.
A medida compõe o elenco de decisões pontuais que o governo chinês vem adotando para tentar reduzir o ritmo de crescimento da economia e evitar um colapso no fornecimento de energia e no setor de transporte.
Antes do feriado de 1º de maio, que vai durar nove dias (até domingo), os bancos estatais já haviam sido orientados a suspender financiamentos a projetos de investimentos em áreas consideradas superaquecidas. No primeiro trimestre do ano, o volume de investimentos subiu 43% em relação a igual período de 2003, ritmo considerado insustentável por economistas e o próprio governo.
Na quinta-feira antes do início do feriado, a diretoria do Banco Central realizou uma reunião de emergência, que foi interpretada por analistas de mercado como um sinal de que a China irá elevar a taxa de juros a partir de segunda-feira, quando a atividade no país volta ao normal. Se a medida for adotada, será o primeiro aumento dos juros desde 1995.
Além de temer o superaquecimento da economia, que pode ser interrompido bruscamente no futuro, o governo quer evitar o risco de falta de energia e de limitações na oferta de transporte, que também podem provocar uma queda abrupta na atividade econômica.

Energia racionada
Em algumas regiões do país, já há racionamento de energia, com corte do fornecimento por determinados períodos do dia. A rede ferroviária, que é o principal meio de transporte do país, opera no limite de sua capacidade, segundo Wu Qiang, diretor de transporte do Ministério das Ferrovias. Wu disse à agência oficial de notícias Xinhua que o movimento no setor de cargas aumentou 35% nos primeiros três meses do ano e, mesmo assim, foi insuficiente para atender à demanda.
"O sistema de transporte ferroviário de carga está sob grande pressão. Um número considerável de vagões está operando no limite ou acima de sua capacidade", afirmou o diretor.
Os projetos de investimentos mais visados pelo governo são os concentrados nas áreas em que o superaquecimento é considerado evidente, como aço, alumínio e cimento. Mas a inspeção determinada pelo governo vai atingir a construção de escritórios, shopping centers, centros de exibição, trens urbanos e campos de golfe.
Antes de adotar essas medidas administrativas, o governo havia elevado de 7,0% para 7,5% o empréstimo compulsório dos bancos, que é a quantidade de dinheiro que as instituições devem deixar imobilizada no Banco Central do país. A determinação, que entrou em vigor dia 25 de abril, tem o objetivo de diminuir a quantidade de dinheiro em circulação na economia e o volume de recursos disponíveis para os bancos emprestarem. No fim do ano passado, o BC chinês já havia elevado o empréstimo compulsório de 6,5% para 7,0%.
Guan Peng, analista da Anbound Consulting, acredita que essas medidas começam a ter impacto sobre a atividade econômica. Segundo ele, o ritmo de expansão do crédito vem diminuindo nos últimos seis meses. Novos empréstimos concedidos em janeiro e fevereiro somaram US$ 54,6 bilhões -alta de 12,7% em relação a igual período do ano passado.
De qualquer maneira, o mercado acredita que o BC vá subir os juros a partir de segunda-feira. A taxa para empréstimos de um ano está em 5,31%. Se for considerada uma expectativa de inflação de 3%, o juro real está em pouco mais de 2% ao ano.
A maioria dos analistas acredita que o governo elevará a taxa em 0,5 ponto percentual. O BC resistiu até agora a subir os juros pelo temor de que a medida atraia ainda mais capitais especulativos ao país. Investidores vêm comprando yuans na expectativa de que a China valorize sua moeda em relação ao dólar.


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