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Lula quer reduzir compulsório dos bancos
Medida é contrapartida para redução de juros nos empréstimos bancários e será debatida com setor na semana que vem
Mantega diz que o governo e as instituições financeiras têm de "fazer sua parte" para reduzir o custo de concessão de crédito no Brasil
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já decidiu reduzir o
compulsório sobre os depósitos
bancários como forma de reduzir os juros praticados no país.
A informação foi ouvida por interlocutores do presidente.
O tema foi debatido ontem
pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, com empresários
em São Paulo e será discutido
na semana que vem com Henrique Meirelles, presidente do
Banco Central, e Fábio Barbosa, presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
A medida faz parte da pressão do governo para que os bancos reduzam o "spread" na concessão de crédito. O "spread" é
a diferença entre o custo que o
banco paga para captar dinheiro no mercado e o quanto ele
cobra para emprestá-lo a seus
clientes. Ele tem caído num ritmo muito menor do que a taxa
básica de juros, a Selic.
O recolhimento compulsório
é um instrumento usado pelo
BC para controlar o volume de
dinheiro em circulação. Por
meio dele, o BC recolhe nos
seus cofres uma parte do dinheiro depositado em contas
correntes, cadernetas de poupança e CDBs (Certificados de
Depósito Bancário).
O volume de dinheiro que
circula no país é acompanhado
de perto pelo BC porque um
excesso de recursos pode alimentar a inflação -mais dinheiro circulando alimenta o
consumo e poderia pressionar
os preços.
Pelas normas em vigor, os
bancos têm um espaço reduzido para manejar o dinheiro de
seus clientes. De cada R$ 100
depositados numa caderneta
de poupança, por exemplo, R$
30 são recolhidos pelo compulsório e R$ 65 devem obrigatoriamente ser direcionados para
crédito habitacional. Restam,
assim, R$ 5 livres aos bancos.
O alvo da exigência mais baixa é a aplicação em CDBs. Esse
tipo de investimento está sujeito a um recolhimento compulsório de 23%, sendo que o restante pode ser usado da forma
que os bancos considerarem
mais conveniente.
Há ainda o compulsório sobre depósito à vista, atualmente de 53%.
Alternativas
O governo deverá apresentar
algumas alternativas para convencer os bancos a reduzirem o
"spread". Lula acha injustificável eles continuarem tão elevados com a Selic em queda há 14
meses seguidos.
Mantega voltou a falar ontem, pela segunda vez na semana, sobre o "spread" e deu a entender que o governo está disposto a fazer algumas concessões para convencer os bancos
a baixá-lo: "Eles acham que nós
temos que reduzir impostos,
baixar o compulsório. Temos
que conversar. Cada um tem
que fazer uma parte. A responsabilidade não é nem só dos
bancos nem só do governo".
Questionado se o governo teria o que oferecer, Mantega disse que sim, mas cobrou contrapartida: "Os bancos têm que diminuir a margem, por exemplo".
Segundo Mantega, o que o
governo tem que fazer já está
fazendo. O ministro citou o envio de projeto de lei ao Congresso para a criação do cadastro positivo -um banco de dados que reunirá todo o histórico de pagamentos dos clientes.
Com isso, os bancos poderão
cobrar juros menores dos bons
pagadores.
Colaboraram a Reportagem Local e a Sucursal de Brasília
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