São Paulo, terça-feira, 05 de junho de 2007

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BENJAMIN STEINBRUCH

A luta continua

O objetivo do empresariado é nobre: fazer o país crescer para dar emprego e bem-estar aos brasileiros

HABITUADO A escrever semanalmente neste espaço, às vezes fico desolado ao consultar textos de anos passados, por constatar que persistem problemas de longa data apontados na economia do país. Na semana passada, fui reler o que escrevi três anos atrás, quando Paulo Skaf assumiu a presidência da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, entidade da qual tenho a honra de ser o primeiro vice-presidente.
"Nossas tarefas", como dizia no artigo de setembro de 2004, seriam árduas. A primeira seria lutar contra o terrorismo monetário, para propor fórmulas alternativas à política de juros pornográficos, que privilegia o setor financeiro em detrimento da atividade produtiva.
A segunda seria fazer o que chamei de "vigilância cambial", para que não voltasse a haver uma valorização do real, como já ocorreu no passado recente, com efeitos desastrosos para as exportações e para a economia em geral.
A terceira seria interferir de forma pró-ativa para a negociação de acordos comerciais com Estados Unidos (Alca) e União Européia, para que fossem fechados de forma a evitar o isolamento comercial brasileiro, mas sem ceifar negócios e empregos no país.
A quarta seria buscar argumentos para convencer o governo a aumentar a eficiência dos gastos públicos e reduzir a carga tributária, na certeza de que a renúncia fiscal de hoje representa a arrecadação de amanhã.
A quinta seria lutar pela formulação de uma política industrial voltada ao estímulo de setores estratégicos. E a sexta seria a defesa de medidas para forjar a formação e a sobrevivência de grandes grupos nacionais internacionalizados.
Passaram-se três anos. É indiscutível que as condições melhoraram na economia do país, por méritos próprios e também em razão da excelente conjuntura mundial, com expansão de produção em todos os países e alta dos preços das commodities.
Internamente, porém, perdemos muito tempo com teimosias e falta de determinação. Os juros caíram, mas ainda são exorbitantes, e o Banco Central continua em sua política de redução lenta e gradual da taxa básica. O problema do câmbio se agravou de forma espantosa -quase 2.000 empresas pararam de exportar e algumas até fecharam as portas. Praticamente nada se fez em matéria de acordos comerciais, a carga tributária se mantém elevada e houve apenas um esboço de política industrial.
Na semana passada, Paulo Skaf foi reeleito presidente da Fiesp por mais quatro anos. Foi também escolhido para presidir o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), reunificando a direção das duas entidades estaduais da indústria.
A tarefa do empresariado de São Paulo ainda é muito parecida com a de três anos atrás. Mas com a diferença de que, agora, existe uma união muito maior. Observe-se que a chapa vencedora teve apoio quase unânime do empresariado. Recebeu 96,7% dos votos válidos na Fiesp e 99% no Ciesp. Ou seja, ficou demonstrado que a chapa foi única porque os empresários paulistas, representantes de mais de 150 mil indústrias, pensam o país de forma muito próxima daquela que vem sendo proposta pelas suas lideranças.
Unidos, portanto, estamos mais fortes para influir sem receios, porque o objetivo é nobre: fazer o país crescer para dar emprego e bem-estar aos brasileiros. A luta continua.
E, não custa lembrar, somos nacionalistas e desenvolvimentistas.


BENJAMIN STEINBRUCH, 53, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
bvictoria@psi.com.br


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