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VIZINHO EM TRANSE
Secretário dos EUA volta a criticar país; Duhalde diz que não se deve prestar atenção ao que O'Neill disse
Argentina faz plano insuficiente, diz O'Neill
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
O secretário do Tesouro dos
EUA, Paul O'Neill, voltou a criticar duramente a Argentina e insistiu na necessidade de combater
a corrupção. Além disso, ele afirmou que o plano apresentado pelo ministro Roberto Lavagna
(Economia) ao FMI (Fundo Monetário Internacional) é insuficiente.
Em declarações à rede de televisão C-Span, O'Neill disse que os
EUA têm se esforçado para que a
Argentina chegue a um acordo
com o FMI, mas também cobrou
esforços do próprio governo.
"Estamos trabalhando com o
FMI, queremos que o povo argentino tenha uma vida decente. Mas
há coisas que nós não podemos
fazer de fora do governo. Depende dos líderes do país tomarem
ações para seu próprio povo", disse o secretário.
Ele pediu que seja estabelecido o
"caminho para lutar contra a corrupção" e defendeu a criação "de
um sistema de arrecadação onde
paguem os impostos aqueles que
devem pagá-los".
Sobre o esboço de carta de intenções enviada por Lavagna ao
FMI, O'Neill reclamou que o país
demorou em apresentar o documento e, que mesmo assim, "não
basta". "O que propuseram creio
que, na verdade, não basta para
criar as bases de estabilidade",
afirmou.
O'Neill também negou que o
FMI tenha imposto condições impossíveis à Argentina. Segundo
ele, o Fundo quer apenas um
"plano de ação" que permita "o
cumprimento da lei e dos contratos", onde "o dinheiro tenha o
mesmo valor amanhã".
Já o subsecretário do Tesouro
dos EUA, John Taylor, foi mais específico nas exigências e pediu
que os governadores deixem de
imprimir títulos que funcionem
como papel-moeda e que haja um
plano concreto para acabar com
as restrições para o saque de depósitos bancários vigente desde
dezembro.
As declarações das autoridades
norte-americanas acontecem em
um momento em que uma missão do FMI está em Buenos Aires
para discutir a carta de intenções
enviada por Lavagna e a possibilidade de adiar por um ano o pagamento de um crédito de US$ 2,8
bilhões que vence segunda-feira.
O presidente Eduardo Duhalde
disse que "não se deve prestar
muita atenção ao que disse
O'Neill". Segundo ele, "todas as
manhãs (...) um senhor dos Estados Unidos ou de outra parte do
mundo dá seu parecer sobre as
possibilidades da Argentina de se
reintegrar à economia mundial".
Já Lavagna foi mais diplomático
e disse concordar com todas as
exigências feitas pelo FMI ou por
O'Neill e lembrou que tem se esforçado para implementá-las.
Lavagna também apresentou à
missão do FMI que está em Buenos Aires o projeto que prevê reduzir em 20% a 30% os gastos
operacionais dos três principais
bancos estatais (Nación, Provincia e Ciudad).
O projeto provocou um novo
atrito com o presidente do Banco
Central, Aldo Pignanelli, para
quem a responsabilidade pela
reestruturação dos bancos públicos não cabe ao Ministério da
Economia, mas ao próprio BC.
A Justiça Argentina pode ter
complicado mais uma vez o fechamento do acordo com o FMI.
Três desembargadores da Câmara Administrativa Federal consideraram inconstitucional as restrições para o saque de depósitos
bancários, a "pesificação" dos recursos depositados em dólar e as
leis que impedem o saque por
meio de processos judiciais.
O governo deverá recorrer da
decisão junto à Corte Suprema.
Caso recuse a apelação, a Corte
abriria o precedente para que todos os correntista cobrem seus
depósitos em dólar, o que quebraria todos os bancos do país.
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