São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002

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VIZINHO EM TRANSE

Secretário dos EUA volta a criticar país; Duhalde diz que não se deve prestar atenção ao que O'Neill disse

Argentina faz plano insuficiente, diz O'Neill

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O secretário do Tesouro dos EUA, Paul O'Neill, voltou a criticar duramente a Argentina e insistiu na necessidade de combater a corrupção. Além disso, ele afirmou que o plano apresentado pelo ministro Roberto Lavagna (Economia) ao FMI (Fundo Monetário Internacional) é insuficiente.
Em declarações à rede de televisão C-Span, O'Neill disse que os EUA têm se esforçado para que a Argentina chegue a um acordo com o FMI, mas também cobrou esforços do próprio governo.
"Estamos trabalhando com o FMI, queremos que o povo argentino tenha uma vida decente. Mas há coisas que nós não podemos fazer de fora do governo. Depende dos líderes do país tomarem ações para seu próprio povo", disse o secretário.
Ele pediu que seja estabelecido o "caminho para lutar contra a corrupção" e defendeu a criação "de um sistema de arrecadação onde paguem os impostos aqueles que devem pagá-los".
Sobre o esboço de carta de intenções enviada por Lavagna ao FMI, O'Neill reclamou que o país demorou em apresentar o documento e, que mesmo assim, "não basta". "O que propuseram creio que, na verdade, não basta para criar as bases de estabilidade", afirmou.
O'Neill também negou que o FMI tenha imposto condições impossíveis à Argentina. Segundo ele, o Fundo quer apenas um "plano de ação" que permita "o cumprimento da lei e dos contratos", onde "o dinheiro tenha o mesmo valor amanhã".
Já o subsecretário do Tesouro dos EUA, John Taylor, foi mais específico nas exigências e pediu que os governadores deixem de imprimir títulos que funcionem como papel-moeda e que haja um plano concreto para acabar com as restrições para o saque de depósitos bancários vigente desde dezembro.
As declarações das autoridades norte-americanas acontecem em um momento em que uma missão do FMI está em Buenos Aires para discutir a carta de intenções enviada por Lavagna e a possibilidade de adiar por um ano o pagamento de um crédito de US$ 2,8 bilhões que vence segunda-feira.
O presidente Eduardo Duhalde disse que "não se deve prestar muita atenção ao que disse O'Neill". Segundo ele, "todas as manhãs (...) um senhor dos Estados Unidos ou de outra parte do mundo dá seu parecer sobre as possibilidades da Argentina de se reintegrar à economia mundial".
Já Lavagna foi mais diplomático e disse concordar com todas as exigências feitas pelo FMI ou por O'Neill e lembrou que tem se esforçado para implementá-las.
Lavagna também apresentou à missão do FMI que está em Buenos Aires o projeto que prevê reduzir em 20% a 30% os gastos operacionais dos três principais bancos estatais (Nación, Provincia e Ciudad).
O projeto provocou um novo atrito com o presidente do Banco Central, Aldo Pignanelli, para quem a responsabilidade pela reestruturação dos bancos públicos não cabe ao Ministério da Economia, mas ao próprio BC.
A Justiça Argentina pode ter complicado mais uma vez o fechamento do acordo com o FMI. Três desembargadores da Câmara Administrativa Federal consideraram inconstitucional as restrições para o saque de depósitos bancários, a "pesificação" dos recursos depositados em dólar e as leis que impedem o saque por meio de processos judiciais.
O governo deverá recorrer da decisão junto à Corte Suprema. Caso recuse a apelação, a Corte abriria o precedente para que todos os correntista cobrem seus depósitos em dólar, o que quebraria todos os bancos do país.


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