São Paulo, sexta-feira, 05 de novembro de 2004

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OPINIÃO ECONÔMICA

Até onde vai a alta dos juros?

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

A ata da última reunião do Copom nos traz um diagnóstico claro de como o Banco Central vê o comportamento da inflação, neste último trimestre de 2004. Dois fatores principais estão no centro de suas preocupações: os preços dos derivados de petróleo e a crescente ocupação da capacidade produtiva de nossa indústria.
O aumento dos derivados, em razão do petróleo mais caro nos mercados externos, foi atrasado por causa das eleições municipais. Sua correção, agora, ameaça influenciar diretamente a inflação de 2005 e tornar ainda mais difícil o cumprimento da meta fixada pelo BC. A boa notícia nesse campo é que o mercado tem dado mostras de que, para o próximo ano, os preços desses produtos podem estabilizar-se ou mesmo cair em razão de um menor crescimento econômico no mundo.
Já a questão da redução continuada da folga na capacidade produtiva de nossa indústria apresenta uma dificuldade maior para a ação do Banco Central. O nível de utilização na indústria brasileira, neste final de ano, já supera o verificado durante os melhores anos do Plano Real. Esse resultado é a combinação de um crescimento extraordinário de nossas exportações durante os últimos três anos e o início da recuperação do consumo interno nos últimos meses. O aumento das taxas de juros internas, provocado por uma Selic mais elevada, tem muito pouca influência sobre as exportações, pois é a demanda externa que determina seu volume. Juros mais elevados no Brasil não vão reduzir a demanda externa por automóveis e outros bens industrializados aqui produzidos.
O único canal interno ligado à taxa Selic, que pode afetar o crescimento da produção industrial voltada para o exterior, seria a valorização do real em razão da entrada de capital financeiro de curto prazo. Com câmbio valorizado, alguns exportadores perderiam competitividade e reduziriam seu volume de vendas.
Por essa razão, tenho a convicção de que o Banco Central, com sua política de juros mais elevados para estabilizar a ocupação de nossa indústria, está enxugando gelo. Somente a parcela voltada para o mercado interno será afetada.
Acontece que a maioria dos setores ligados ao consumo dos brasileiros está com capacidade ociosa ainda elevada e, portanto, longe de criar o que os economistas chamam de inflação de demanda. A redução de suas vendas atingiria poucos setores que operam no limite de sua produção e sua falta seria, certamente, compensada por um maior esforço exportador.
Sendo isso verdade, podemos esperar um período mais longo de aumento de juros por parte do Banco Central, se não houver novamente um aumento na meta de inflação para 2005.


Luiz Carlos Mendonça de Barros, 61, engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).

Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br


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