São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2008

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Dívida da Aracruz cresce R$ 2,55 bilhões em um mês

Valor equivale a dois anos de geração de caixa da empresa, estimada em R$ 1,2 bi/ano

Empresa anunciou que até o dia 30 deste mês concluirá a negociação com os bancos; mercado recebeu bem a decisão, e ações sobem 8,4%

7.ago.08/Divulgação
Fábrica de papel e celulose da Aracruz; demora em negociar com bancos fez dívida da empresa subir de R$ 1,95 bi para R$ 4,5 bi

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

A demora em fechar a negociação com os bancos a fim de desmontar os contratos de venda de dólar em operações de derivativos cambiais elevou a dívida da Aracruz de R$ 1,95 bilhão para R$ 4,5 bilhões, avaliam analistas de mercado.
O crescimento da dívida em pouco mais de um mês foi de R$ 2,55 bilhões, cifra equivalente a dois anos de geração de caixa da companhia (estimada em R$ 1,2 bilhão por ano) ou mais do que o lucro do Unibanco neste ano, até 30 de setembro, que foi de R$ 2,2 bilhões.
Ontem, a direção da Aracruz distribuiu fato relevante no qual anunciou, oficialmente, que chegou a um acordo com o grupo de bancos e anunciou perda de US$ 2,13 bilhões.
Procurada pela Folha, a empresa informou que não vai falar sobre as negociações, o tipo de acordo que está costurando, tampouco as conseqüências para a operação industrial do grupo no médio e longo prazos. No mercado, o anúncio foi bem recebido. As ações da Aracruz subiram 8,39%, para R$ 2,97.
Segundo a nota, 97% dos derivativos batizados no mercado de "exóticos" (por fugirem do padrão de instrumentos financeiros de proteção a variações cambiais usados por exportadores típicos como a Aracruz) foram renegociados e, segundo analistas, provavelmente por operações de empréstimos. A empresa deve assumir o valor como dívida e liquidar o passivo ao longo do tempo.
A companhia anunciou que concluirá a negociação com os bancos até o dia 30 deste mês. É esperado para o fim do mês também o detalhamento do acordo com bancos para o desmonte dos contratos de derivativos cambiais. Entre os bancos envolvidos estão o JPMorgan, Santander, Barclays, Goldman Sachs, ING, Merrill Lynch, Itaú BBA, Calyon e BNP Paribas.
"Para os bancos, foi uma solução interessante. Transfere uma operação contratual, com risco de não ser honrada, em um financiamento. A operação entra na carteira de crédito dos bancos", diz Marcelo Brisac, analista de recursos naturais da Itaú Corretora de Valores.
Para Brisac, a exposição aos tais derivativos cambiais poderia ter sido liquidada antes. "A impressão é que daria para zerar [a dívida] antes. Talvez esperaram uma situação cambial mais favorável, mas nesse caso, o tempo só piorou as coisas."
Felipe Ruppenthal, analista do setor de papel e celulose do banco Geração Futuro, avalia que a taxa de câmbio foi de R$ 2,10. O impacto no item endividamento da Aracruz, diz Ruppenthal, será brutal. Até 30 de setembro, a empresa tinha dívida de R$ 2,6 bilhões, uma posição confortável de 2,2 vezes a geração de caixa da empresa, de R$ 1,2 bilhão em 12 meses.
Com o mercado mundial em crescimento, esse era um múltiplo de dívida confortável, que permitia à empresa partir para o endividamento necessário ao financiamento de projetos de expansão, como a conclusão da segunda fábrica de celulose em Guaíba (RS) e os projetos para formação da base florestal da segunda unidade da Veracel (empreendimento em parceria com a Stora Enso) e da fábrica de Governador Valadares (MG). Esses projetos estão temporariamente suspensos.
"Com os derivativos, a empresa se endividou sem ter feito os investimentos", resume Ruppenthal. Os R$ 4,5 bilhões vão elevar a dívida da Aracruz para R$ 7,15 bilhões, estima o analista, o que projeta relação entre endividamento líquido sobre geração de caixa (Ebitda) de 5,79 vezes. Significa que a empresa precisará de toda a geração de caixa, durante mais de cinco anos, para pagar a dívida.


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