|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governo prepara medidas para conter entrada de dólar
Títulos da dívida em reais serão emitidos no exterior para conter fluxo de dólares
Garantias de estrangeiros para operações no mercado futuro na Bovespa poderão ser depositadas fora do Brasil, segundo planos
LEANDRA PERES
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após taxar a entrada de dólares, o governo Lula se concentra agora em medidas que façam com que os investidores
estrangeiros não precisem trocar dólares por reais para realizar suas aplicações no Brasil.
Entre as medidas que devem
ser adotadas pela equipe econômica estão a retomada, pelo
Tesouro Nacional, de emissões
no exterior de títulos da dívida
pública em reais e a autorização
para que investidores na Bolsa
possam depositar suas garantias fora do país.
Os títulos em reais, emitidos
inicialmente em 2005, permitem que os investidores externos comprem esses papéis lá
fora, e não no Brasil, como é feito hoje nos leilões do Tesouro
Nacional. Nessas operações, os
investidores ganharão praticamente a mesma rentabilidade
se estivessem aplicando em títulos públicos no Brasil. Ou seja, recebem a variação da inflação e também a cambial.
Hoje, uma das pressões sobre
o dólar vem da busca dos investidores estrangeiros por títulos
brasileiros, que pagam juros
mais altos do que os do mercado internacional e ainda ganham com a variação cambial,
já que a tendência é de apreciação do real ante o dólar.
O aumento nas emissões soberanas já foi discutido, e o momento da venda depende só das
condições do mercado internacional. A piora nas últimas duas
semanas fez com que o governo
adiasse seus planos, mas há
uma decisão de adotá-los.
Hoje há um estoque de
R$ 10,2 bilhões de títulos em
reais na mão de investidores no
exterior, e a última captação
feita pelo Tesouro foi em 2007,
antes da crise global. Esse valor
é baixo e representa só quase
13% da dívida externa do país.
A outra medida que deve ser
autorizada em breve atende a
um pedido da Bolsa de Valores.
Sempre que um investidor estrangeiro opera no mercado futuro, tem que depositar garantias. Para isso, traz dólares para
o país e os troca por reais. Essa
operação deixará de ser feita se
as garantias ficarem numa conta da Bolsa no exterior.
Por último, o Banco Central
trabalha num projeto de lei que
autorize os bancos brasileiros a
emitir debêntures, que são papéis com vencimento de longo
prazo. Hoje, a captação dos
bancos é feita por meio de
CDBs, que podem ser resgatados diariamente.
Os recursos que os bancos
usam para empréstimos mais
longos, especialmente o crédito
consignado, têm origem principalmente no exterior. O governo crê que, com o uso das debêntures, poderá transferir
parte da captação que é feita no
exterior para dentro do Brasil.
Com isso, evitaria a entrada dos
dólares.
A avaliação do governo é que
essas medidas não vão alterar
de modo significativo a trajetória de apreciação do real. A tendência de entrada de dólares se
manterá forte pelos próximos
dois ou três anos.
O objetivo do governo é aumentar a flexibilidade para que
os investidores internacionais
possam fazer suas aplicações lá
fora e reduzir pelo menos um
pouco o fluxo de entrada de dólares no país.
O risco, segundo a própria
equipe econômica, é que, em
vez de criar mecanismos que
substituam a entrada de investidores estrangeiros que já aplicam no país, essas medidas
criem uma nova demanda. Ou
seja, aplicadores que hoje não
trazem recursos para o Brasil
aproveitariam essas facilidades
para comprar títulos brasileiros. Se isso ocorrer, o impacto
no câmbio é virtualmente nulo.
A outra discussão, principalmente sobre os depósito das garantias à Bolsa de Valores no
exterior, é jurídica. O governo
quer ter certeza de que poderá
trazer o dinheiro para o Brasil
sem nenhum empecilho.
Apesar de não ter meta para a
taxa de câmbio, o governo quer
evitar que o preço do dólar caia
para a faixa de R$ 1,30 a R$ 1,40.
O ideal seria ficar no patamar
atual, na casa de R$ 1,70. Ontem, fechou a R$ 1,728, acumulando queda de 26% no ano.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Brasil vai propor que o G20 coordene controle cambial Índice
|