São Paulo, quarta-feira, 05 de dezembro de 2007

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China pode apresentar proposta pela Rio Tinto

Negócio reduziria o poder de barganha da Vale

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A siderúrgica chinesa Baosteel, uma das principais clientes mundiais da Vale, anunciou ontem que poderá apresentar oferta para a compra da mineradora anglo-australiana Rio Tinto, o que reduziria o poder de barganha da companhia brasileira na renegociação de preços e condições dos contratos de venda de minério de ferro.
O presidente da Baosteel, Xu Lejiang, disse ao jornal chinês "21st Century Business Herald" ser "muito provável" que a empresa tente adquirir o controle da Rio Tinto, que é a terceira maior mineradora do mundo. Segundo ele, o preço poderia ultrapassar os US$ 200 bilhões, valor sem precedentes nas aquisições já realizadas pela China no exterior em busca de fontes seguras de matérias-primas para sua indústria.
O minério de ferro é o principal item de exportação do Brasil, com vendas de US$ 8,77 bilhões no período de janeiro a outubro de 2007. A China é de longe o maior comprador individual do produto, com US$ 3,14 bilhões, ou 36% do total.
O país asiático depende da importação de minério de ferro para a fabricação de aço, que é um dos principais insumos para a indústria e a construção civil. Nada menos que 34% da produção de aço global está concentrada na China, o equivalente a 422,7 milhões de toneladas em 2006. No mesmo ano, o Brasil produziu 30,9 milhões de toneladas de aço.
O governo de Pequim se queixa do poder que as mineradoras possuem no momento da renegociação de preços, que ocorre uma vez por ano. Cerca de 80% do mercado global é dominado por três empresas, a australiana BHP Billiton, a Vale e a Rio Tinto, o que lhes dá um grande poder de barganha.
A concentração do lado dos fornecedores pode aumentar ainda mais se a Rio Tinto for vendida a uma de suas concorrentes. No mês passado, a empresa anglo-australiana rejeitou oferta de compra de US$ 134 bilhões apresentada pela BHP Billiton. Há uma série de rumores de que a Vale e a BHP poderiam se unir para a aquisição da concorrente.
Tudo o que o governo chinês não quer é ter de enfrentar fornecedores ainda mais poderosos que os atuais. Em 2005, por exemplo, as siderúrgicas do país tiveram de engolir um reajuste de 71,5% no preço do minério de ferro. Para 2008, é esperada alta de até 30%.
A compra da Rio Tinto permitiria à China ter acesso direto à matéria-prima, ao mesmo tempo em que diminuiria o poder das mineradoras. A Vale disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que não comentaria o assunto.
A China anunciou neste ano a criação de um fundo soberano de investimentos no exterior, que receberá pelo menos US$ 200 bilhões da montanha de US$ 1,4 trilhão em reservas internacionais que o país possui.
Nos últimos anos, a China tem adquirido ativos no exterior que considera estratégicos, principalmente nos setores de petróleo e matérias-primas para a indústria.


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