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Utilização da capacidade instalada atinge pico, diz CNI
Pesquisa mostra que 84,3% de todas as máquinas e equipamentos do país estão em uso
Aquecimento da economia e riscos inflacionários já haviam sido citados pelo BC como uma das justificativas para manutenção dos juros
ANA PAULA RIBEIRO
DA FOLHA ONLINE, EM BRASÍLIA
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A indústria de transformação
bateu recorde de utilização da
capacidade instalada em outubro. Tradicionalmente, este é o
mês em que mais se produz, pela proximidade com o Natal.
Mas, neste ano, as indústrias
estão perto do limite máximo
de produção. Segundo pesquisa
da CNI (Confederação Nacional da Indústria), 84,3% de todas as máquinas e equipamentos do país estão em uso, o nível
mais elevado desde 2003,
quando a pesquisa começou a
ser divulgada.
O indicador causa preocupação porque mostra que há risco
de aumento da inflação. Se a
demanda crescer e a indústria
não tiver como aumentar a
oferta rapidamente, os preços
poderão subir.
Apesar de a indústria ter chegado ao mais alto nível de utilização da capacidade instalada,
a CNI considera que os investimentos feitos ao longo do ano
para aumentar a capacidade
produtiva serão suficientes para atender à demanda sem gerar inflação. No segundo trimestre deste ano, os investimentos cresceram 13,8% em
relação ao mesmo período do
ano passado, segundo o IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
"O empresário só tem interesse em expandir se a ociosidade [de seu parque industrial]
cai e se há demanda", explicou
Paulo Mol, da Unidade de Política Econômica da CNI. Ele
lembrou que a inflação do setor
está sob controle. "Não existe
pressão de inflação nos índices
da indústria", concluiu.
O resultado da CNI foi divulgado no dia em que o Banco
Central começou a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do ano. A expectativa do mercado é que a
taxa seja mantida em 11,25% ao
ano. Em outubro, o Copom interrompeu uma trajetória de
dois anos de corte nos juros.
O elevado nível de utilização
da capacidade instalada pode
ser usado como argumento para deixar a taxa inalterada. Na
ata da última reunião, os diretores do BC já manifestaram
preocupação .
Ex-diretor do BC, o professor
Carlos Thadeu de Freitas, do
Ibmec, afirma que ainda não há
risco de alta de preços porque,
na sua avaliação, a demanda
não vai crescer tão rapidamente. Haverá tempo para os investimentos feitos até a metade
deste ano surtirem efeito, diz.
Ele calcula que o tempo médio
para a maturação dos investimentos é de um ano.
Fernando Sarti, pesquisador
do núcleo de economia industrial da Unicamp, lembra que a
demanda por muitos produtos
pode ser suprida com importações. Para ele, a importação é
um remédio menos amargo para a economia do que a alta dos
juros. "Esta utilização da capacidade instalada não mostra
ainda um desequilíbrio, principalmente porque as empresas
estão investindo. É claro que o
BC sempre pode usar isto como
desculpa."
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