São Paulo, sábado, 05 de dezembro de 2009

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Crise nos EUA freia busca por estrangeiro qualificado

Em 2008, cota de vistos de trabalho acabou em um dia; em 2009, sobraram vagas

Taxa de desemprego em nível elevado e campanhas de cunho patriótico inibem as empresas de buscarem mão de obra fora do país

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

Os empregadores americanos estão menos interessados na contratação de mão de obra qualificada estrangeira. A cada ano o governo americano autoriza a concessão de 65 mil vistos para estrangeiros dentro do programa H-1B. No ano passado, essa cota foi atingida em um dia. Neste ano, mais de sete meses desde a abertura do prazo de solicitações, ainda existem 11.200 vistos disponíveis.
Nos últimos anos, o programa H-1B foi a principal porta de entrada de cientistas, engenheiros, programadores de computação e contadores, entre outros estrangeiros, em empresas de tecnologia e em bancos de Wall Street.
O programa causa polêmica nos EUA. Críticos afirmam que algumas empresas aproveitam brechas para oferecer salários mais baixos e que, em alguns casos, o programa tira vagas dos americanos. Entre os que apoiam, as empresas de tecnologia fizeram lobby no Congresso para aumentar a cota anual de vistos e afirmam que os estrangeiros contribuem para o desenvolvimento de novos produtos e de registros de patentes nos EUA.
Neste ano, o apetite pelos talentos estrangeiros, no entanto, foi menor. Desde 1º de abril, o US Citizenship and Immigration recebe petições de empregadores interessados em contratar estrangeiros no ano fiscal de 2010. Até o fim de outubro, foram protocolados 53.800 pedidos.
Com uma taxa de desemprego de 10,2%, uma economia com sinais de recuperação, mas ainda incapaz de gerar um volume maior de vagas, os empregadores têm sentido ainda os efeitos de uma certa dose de xenofobia no mercado de trabalho. Campanha da Coalition for the Future of American Worker ("coalizão para o futuro do trabalhador americano"), por exemplo, mostra na TV anúncio em que americanos saem do escritório com caixas. "Outro americano perdeu o emprego e chega em casa com más notícias", diz o anúncio. Afirma ainda que o governo insiste em trazer mais trabalhadores estrangeiros. E conclui: "Será o seu emprego o próximo?".
Para Ron Hira, especialista do Rochester Institute of Technology, uma série de fatores explica o mau desempenho do programa neste ano: o mercado de trabalho, as exigências maiores dos serviços de imigração na checagem de dados e mudanças na legislação.
No início do ano, o governo aprovou o ato Empregue Trabalhadores Americanos (Employ American Workers Act). Na prática, o plano exige que as empresas que receberam recursos do Tarp (o pacote de US$ 700 bilhões aprovado em outubro do ano passado para salvar instituições financeiras) privilegiem a contratação de norte-americanos.
"O lobby da indústria sempre foi dizer que faltavam trabalhadores americanos qualificados. Se esse argumento era questionável com um desempenho favorável da economia, com uma taxa de desemprego de 10,2% ele se tornou altamente questionável. As empresas estão recebendo levas de currículos de americanos qualificados desempregados", disse Hira.
Para Stuart Anderson, diretor da National Foundation for American Policy, a explicação é simples. "As empresas não estão contratando e estão cortando custos. A demanda por vistos H-1B acompanha o desempenho da economia."
A contratação de um trabalhador estrangeiro pode exigir gastos de até US$ 5.000 em taxas e despesas extras.


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