São Paulo, sábado, 06 de janeiro de 2001

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ANÁLISE


Até quando o Fed vai cortar os juros?



JONATHAN FEUERBRINGER
DO "THE NEW YORK TIMES"

Agora que as autoridades do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) cortaram acentuada e inesperadamente sua taxa padrão de juros, a questão é: até que ponto vão continuar a cortá-la?
A história demonstra que os investidores podem se surpreender com as ações do Fed, pois os mercados raramente adivinham com precisão até que ponto os juros subirão ou cairão.
O mais importante é que muitas empresas e investidores podem "se sentir" em recessão mesmo que a economia tecnicamente a evite. (Uma recessão é definida como dois trimestres sucessivos de contração econômica.) O setor industrial já está em queda séria. E a redução abrupta do crescimento prevista por muitos economistas -para a casa do 1% ou dos 2%, em lugar do ritmo atual de 5% ao ano- é exatamente a espécie de desaceleração acelerada que costuma causar quedas precipitadas na economia. "Em termos de sentimento, teremos uma recessão", diz James Glassman, economista sênior da J.P. Morgan Securities para os EUA.
O sentimento pode ajudar na recuperação dos bônus, mas não é provável que ele reconforte o mercado de ações, que fechou ontem em queda, depois da alta eufórica da quarta-feira, o dia em que o Fed cortou os juros.
Quando o Fed estava tentando conter o crescimento econômico, com seis aumentos de juros em menos de um ano, a tendência de crescer se provou mais resistente do que muitos analistas e autoridades em Wall Street acreditavam. Assim, a economia agora pode se provar muito mais fraca e difícil de reavivar do que se presume. Se for esse o caso, o Fed talvez corte mais os juros do que se espera, e as taxas do mercado cairiam acentuadamente.
Se as coisas forem nessa direção, as ações podem demorar algum tempo a retomar a alta sustentada porque o crescimento nos lucros, já lento, se reduziria. Além disso, é difícil ver como os investidores em ações reagiriam a novos cortes de juros. Se eles acreditarem que o Fed está agindo devagar demais, as ações podem sofrer.
Mas, se a economia perder velocidade rapidamente, sem cair numa recessão tradicional, talvez o Fed não tenha de cortar os juros a tal ponto. Nesse caso, as ações podem ganhar sustentação se os dados econômicos demonstrarem que as coisas não estão piorando. Por outro lado, se os investidores se viciarem em cortes de juros pelo Fed, exigindo cortes sempre que as notícias forem desfavoráveis, as ações podem ter um período difícil à sua frente. Os investidores podem também se provar cautelosos e esperar por notícias claramente positivas sobre os lucros das empresas antes de pular de volta ao mercado.
Tudo isso se reflete na gama das previsões sobre o que o Fed fará daqui em diante e é demonstrado pelo ponto em que as taxas de juros estão no momento.
Louis Crandall, economista-chefe da R. H. Wrightson, disse que a ação do Fed pode ser interpretada de duas maneiras: "O Fed sabe de algo que não sabemos ou está aplicando novas regras?".
Ele prevê um corte de 0,25 ponto percentual na reunião do Comitê do Mercado Aberto em janeiro, levando a taxa de fundos federais a 5,75%, e depois uma abordagem de esperar para ver. Quando chegar a próxima reunião regular, em março, disse ele, parte do deslocamento que pode ter contribuído para a desaceleração, incluindo o clima desfavorável, os altos preços da energia e a escassez de eletricidade, "pode desaparecer à medida que chega ao fim a estação de uso do aquecimento interno".
Bruce Steinberg, economista-chefe do Merrill Lynch, diz que o Fed poderia ser mais agressivo. Ele espera um corte de 0,25 ponto percentual no final do mês e novo corte de 0,25 ponto percentual ou 0,5 ponto percentual na reunião de março. Ele espera que em junho a taxa de juros tenha caído a 5% ou 5,25%.
Glassman diz que o Fed poderia cortar ainda mais, com redução de meio ponto percentual no final deste mês e novos cortes que levariam a taxa de fundos federais a 4,75% em junho. "Para nós, o Fed continua com o pé no freio", disse. "E é preciso que eles tirem o pé do freio rápido."


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