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ANÁLISE
Até quando o Fed vai cortar os juros?
JONATHAN FEUERBRINGER
DO "THE NEW YORK TIMES"
Agora que as autoridades do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) cortaram acentuada e inesperadamente sua taxa padrão de juros, a
questão é: até que ponto vão continuar a cortá-la?
A história demonstra que os investidores podem se surpreender
com as ações do Fed, pois os mercados raramente adivinham com
precisão até que ponto os juros
subirão ou cairão.
O mais importante é que muitas
empresas e investidores podem
"se sentir" em recessão mesmo
que a economia tecnicamente a
evite. (Uma recessão é definida
como dois trimestres sucessivos
de contração econômica.) O setor
industrial já está em queda séria.
E a redução abrupta do crescimento prevista por muitos economistas -para a casa do 1% ou
dos 2%, em lugar do ritmo atual
de 5% ao ano- é exatamente a
espécie de desaceleração acelerada que costuma causar quedas
precipitadas na economia. "Em
termos de sentimento, teremos
uma recessão", diz James Glassman, economista sênior da J.P.
Morgan Securities para os EUA.
O sentimento pode ajudar na
recuperação dos bônus, mas não
é provável que ele reconforte o
mercado de ações, que fechou ontem em queda, depois da alta eufórica da quarta-feira, o dia em
que o Fed cortou os juros.
Quando o Fed estava tentando
conter o crescimento econômico,
com seis aumentos de juros em
menos de um ano, a tendência de
crescer se provou mais resistente
do que muitos analistas e autoridades em Wall Street acreditavam. Assim, a economia agora
pode se provar muito mais fraca e
difícil de reavivar do que se presume. Se for esse o caso, o Fed talvez
corte mais os juros do que se espera, e as taxas do mercado cairiam
acentuadamente.
Se as coisas forem nessa direção,
as ações podem demorar algum
tempo a retomar a alta sustentada
porque o crescimento nos lucros,
já lento, se reduziria. Além disso, é
difícil ver como os investidores
em ações reagiriam a novos cortes
de juros. Se eles acreditarem que o
Fed está agindo devagar demais,
as ações podem sofrer.
Mas, se a economia perder velocidade rapidamente, sem cair numa recessão tradicional, talvez o
Fed não tenha de cortar os juros a
tal ponto. Nesse caso, as ações podem ganhar sustentação se os dados econômicos demonstrarem
que as coisas não estão piorando.
Por outro lado, se os investidores
se viciarem em cortes de juros pelo Fed, exigindo cortes sempre
que as notícias forem desfavoráveis, as ações podem ter um período difícil à sua frente. Os investidores podem também se provar
cautelosos e esperar por notícias
claramente positivas sobre os lucros das empresas antes de pular
de volta ao mercado.
Tudo isso se reflete na gama das
previsões sobre o que o Fed fará
daqui em diante e é demonstrado
pelo ponto em que as taxas de juros estão no momento.
Louis Crandall, economista-chefe da R. H. Wrightson, disse
que a ação do Fed pode ser interpretada de duas maneiras: "O Fed
sabe de algo que não sabemos ou
está aplicando novas regras?".
Ele prevê um corte de 0,25 ponto percentual na reunião do Comitê do Mercado Aberto em janeiro, levando a taxa de fundos federais a 5,75%, e depois uma
abordagem de esperar para ver.
Quando chegar a próxima reunião regular, em março, disse ele,
parte do deslocamento que pode
ter contribuído para a desaceleração, incluindo o clima desfavorável, os altos preços da energia e a
escassez de eletricidade, "pode
desaparecer à medida que chega
ao fim a estação de uso do aquecimento interno".
Bruce Steinberg, economista-chefe do Merrill Lynch, diz que o
Fed poderia ser mais agressivo.
Ele espera um corte de 0,25 ponto
percentual no final do mês e novo
corte de 0,25 ponto percentual ou
0,5 ponto percentual na reunião
de março. Ele espera que em junho a taxa de juros tenha caído a
5% ou 5,25%.
Glassman diz que o Fed poderia
cortar ainda mais, com redução
de meio ponto percentual no final
deste mês e novos cortes que levariam a taxa de fundos federais a
4,75% em junho. "Para nós, o Fed
continua com o pé no freio", disse. "E é preciso que eles tirem o pé
do freio rápido."
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