|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CASO AMBEV
Márcio Pugliese e Marco Antônio Campos Salles teriam dito que poderiam influenciar decisão do Cade
PF investiga advogados de São Paulo
da Sucursal de Brasília
A PF (Polícia Federal) está investigando os advogados Márcio
Pugliese e Marco Antônio Campos Salles, de São Paulo, suspeitos
de participar de um suposto esquema de suborno de integrantes
do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão
encarregado de analisar o processo de fusão das cervejarias Brahma e Antarctica, um negócio de
R$ 8 bilhões.
O Cade tem conhecimento da
acusação contra os advogados
desde novembro do ano passado,
mas só no final de janeiro a PF foi
acionada para investigar o caso. O
delegado Luiz Carlos de Oliveira
Zubcov deve ouvir os implicados
na denúncia.
De acordo com relato da revista
"IstoÉ", os nomes dos dois advogados aparecem em depoimento
à PF da conselheira do Cade Hebe
Romano, relatora do processo de
fusão das duas cervejarias, que
criaria a empresa AmBev.
Romano recebeu a denúncia do
suposto esquema de corrupção
do advogado e ex-deputado federal do PT Airton Soares.
Outro lado
A Folha falou ontem com a mãe
de Pugliese. Segundo ela, o filho
estava viajando, mas negou qualquer envolvimento no caso, em
conversa telefônica que teve com
ela. Segundo a mãe do advogado,
Pugliese vai processar a "IstoÉ".
Ainda de acordo com ela, Pugliese é auditor fiscal da Receita
Federal e, por isso, está impedido
de exercer a advocacia.
Ninguém atendeu os telefones
que estão em nome de Campos
Salles. Pugliese já havia negado as
acusações em entrevista à "IstoÉ",
Pugliese negou as acusações:
"Não estou entendendo nada, não
tenho nenhum envolvimento
com isso".
O advogado acrescentou que é
amigo Campos Salles. "Sou amigo
do dr. Marco Antônio, que é advogado em São Paulo e pertence a
uma família tradicional. É neto do
ex-presidente Campos Salles."
Pugliese foi diretor do Departamento de Proteção e Defesa do
Consumidor, do Ministério da
Justiça, em 90 e 91, no governo
Fernando Collor de Mello.
Advogado
Ex-deputado federal do PT,
Soares procurou Hebe Romano
para relatar que um de seus clientes afirmou que os dois advogados de São Paulo disseram que
poderiam influenciar a decisão do
Cade no caso AmBev em troca de
dinheiro. Soares foi assessor do
ministro Maurício Corrêa (Justiça) no governo Itamar Franco
(92-94). Corrêa hoje é ministro do
Supremo Tribunal Federal.
Atualmente, Soares é advogado
da Abradisa (Associação Brasileira dos Distribuidores de Bebidas
Antarctica) no processo de fusão
das cervejarias.
No início de novembro, o presidente do conselho da Abradisa,
Atayde Gil Guerreiro, contou a
Soares que fora procurado por
Pugliese e Campos Salles.
Segundo Guerreiro, os dois advogados disseram que tinham
"prestígio" para influenciar a decisão do Cade e garantir os interesses da Abradisa no processo de
criação da AmBev. A associação
quer que a terceirização na distribuição de bebidas seja mantida
depois da fusão. Em troca, os advogados, de acordo com essa versão, pediram R$ 20 milhões.
Desconfiado, Soares, que não
conhece Pugliese e Campos Salles,
diz que desaconselhou o negócio.
Em seguida pegou um avião e foi
a Brasília conversar com a conselheira Hebe Romano, a quem costuma se referir como "pessoa honesta, acima de suspeitas".
Romano repassou as informações ao presidente do Cade, Gesner Oliveira, que considerou a denúncia genérica, difícil de ser
comprovada. Mas pediu que ela
avisasse as partes envolvidas - as
cervejarias Brahma, Antarctica,
Kaiser e a Abradisa.
Só no dia 24 de janeiro deste
ano, após a Secretaria de Direito
Econômico do Ministério da Justiça dar um parecer favorável à fusão, desde que uma das empresas
do novo grupo fosse vendida, a
conselheira procurou o secretário-executivo do ministério, Antônio Anastasia, para repassar a
denúncia.
No dia seguinte, Romano e
Anastasia foram ao ministro José
Carlos Dias (Justiça), que acionou
a Polícia Federal. Na Abradisa, a
opinião é que se perdeu uma excelente oportunidade para desvendar o caso.
Bastaria manter a denúncia sob
sigilo e acompanhar os passos dos
dois advogados. Agora, seria difícil provar alguma coisa.
Texto Anterior: Advogada da Brahma depõe na PF Próximo Texto: Negócios: "Netfortunas" nascem com centavos e adolescentes Índice
|