São Paulo, #!L#Domingo, 06 de Fevereiro de 2000


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CASO AMBEV
Márcio Pugliese e Marco Antônio Campos Salles teriam dito que poderiam influenciar decisão do Cade
PF investiga advogados de São Paulo

da Sucursal de Brasília

A PF (Polícia Federal) está investigando os advogados Márcio Pugliese e Marco Antônio Campos Salles, de São Paulo, suspeitos de participar de um suposto esquema de suborno de integrantes do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão encarregado de analisar o processo de fusão das cervejarias Brahma e Antarctica, um negócio de R$ 8 bilhões.
O Cade tem conhecimento da acusação contra os advogados desde novembro do ano passado, mas só no final de janeiro a PF foi acionada para investigar o caso. O delegado Luiz Carlos de Oliveira Zubcov deve ouvir os implicados na denúncia.
De acordo com relato da revista "IstoÉ", os nomes dos dois advogados aparecem em depoimento à PF da conselheira do Cade Hebe Romano, relatora do processo de fusão das duas cervejarias, que criaria a empresa AmBev.
Romano recebeu a denúncia do suposto esquema de corrupção do advogado e ex-deputado federal do PT Airton Soares.

Outro lado
A Folha falou ontem com a mãe de Pugliese. Segundo ela, o filho estava viajando, mas negou qualquer envolvimento no caso, em conversa telefônica que teve com ela. Segundo a mãe do advogado, Pugliese vai processar a "IstoÉ".
Ainda de acordo com ela, Pugliese é auditor fiscal da Receita Federal e, por isso, está impedido de exercer a advocacia.
Ninguém atendeu os telefones que estão em nome de Campos Salles. Pugliese já havia negado as acusações em entrevista à "IstoÉ", Pugliese negou as acusações: "Não estou entendendo nada, não tenho nenhum envolvimento com isso".
O advogado acrescentou que é amigo Campos Salles. "Sou amigo do dr. Marco Antônio, que é advogado em São Paulo e pertence a uma família tradicional. É neto do ex-presidente Campos Salles."
Pugliese foi diretor do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, do Ministério da Justiça, em 90 e 91, no governo Fernando Collor de Mello.

Advogado
Ex-deputado federal do PT, Soares procurou Hebe Romano para relatar que um de seus clientes afirmou que os dois advogados de São Paulo disseram que poderiam influenciar a decisão do Cade no caso AmBev em troca de dinheiro. Soares foi assessor do ministro Maurício Corrêa (Justiça) no governo Itamar Franco (92-94). Corrêa hoje é ministro do Supremo Tribunal Federal.
Atualmente, Soares é advogado da Abradisa (Associação Brasileira dos Distribuidores de Bebidas Antarctica) no processo de fusão das cervejarias.
No início de novembro, o presidente do conselho da Abradisa, Atayde Gil Guerreiro, contou a Soares que fora procurado por Pugliese e Campos Salles.
Segundo Guerreiro, os dois advogados disseram que tinham "prestígio" para influenciar a decisão do Cade e garantir os interesses da Abradisa no processo de criação da AmBev. A associação quer que a terceirização na distribuição de bebidas seja mantida depois da fusão. Em troca, os advogados, de acordo com essa versão, pediram R$ 20 milhões.
Desconfiado, Soares, que não conhece Pugliese e Campos Salles, diz que desaconselhou o negócio. Em seguida pegou um avião e foi a Brasília conversar com a conselheira Hebe Romano, a quem costuma se referir como "pessoa honesta, acima de suspeitas".
Romano repassou as informações ao presidente do Cade, Gesner Oliveira, que considerou a denúncia genérica, difícil de ser comprovada. Mas pediu que ela avisasse as partes envolvidas - as cervejarias Brahma, Antarctica, Kaiser e a Abradisa.
Só no dia 24 de janeiro deste ano, após a Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça dar um parecer favorável à fusão, desde que uma das empresas do novo grupo fosse vendida, a conselheira procurou o secretário-executivo do ministério, Antônio Anastasia, para repassar a denúncia.
No dia seguinte, Romano e Anastasia foram ao ministro José Carlos Dias (Justiça), que acionou a Polícia Federal. Na Abradisa, a opinião é que se perdeu uma excelente oportunidade para desvendar o caso.
Bastaria manter a denúncia sob sigilo e acompanhar os passos dos dois advogados. Agora, seria difícil provar alguma coisa.


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