São Paulo, segunda-feira, 06 de março de 2000


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CERVEJA
Cervejaria vende produto mais caro para quem a contesta na Justiça, acusam revendedores da empresa
Revendas reclamam de preço da Brahma

FÁTIMA FERNANDES
FÁBIA PRATES

da Reportagem Local Distribuidores da cervejaria Brahma, que comercializa as marcas Brahma, Skol, Carlsberg e Miller, acusam a empresa de cobrar de algumas delas até R$ 2 a mais pela caixa da bebida.
A ação seria parte de uma estratégia, negada pela Brahma, de retaliar distribuidores que estão contestando na Justiça o recolhimento de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) no ato da compra.
Algumas revendas conseguiram liminares para garantir o recolhimento pós-venda, o que estaria desagradando a cervejaria.
A política diferenciada de preços está tirando o sono dos donos das distribuidoras. Isso porque quem compra a cerveja mais em conta é quem vai conseguir sobreviver no mercado, dizem eles.
A Distribuidora de Bebidas Fenix, de Limeira (SP), que revende Skol, considera-se vítima desse processo. Até abril de 99, ela vendia a caixa de cerveja a R$ 21,00. Hoje, cobra R$ 23,20.
Por conta desse reajuste, feito pela cervejaria, as vendas da Fenix caíram de 70 mil dúzias por mês para 20 mil dúzias nos últimos seis meses, informa Arthur Ramos Neto, sócio-proprietário.
"Entramos na Justiça para que a empresa pratique isonomia de preços", diz. Segundo ele, a cervejaria continua cobrando 2% do faturamento da revenda para um fundo de publicidade, mas não está fornecendo os materiais de propaganda, como faixas."
Uma grande distribuidora de Santa Catarina informa que está sendo forçada a vender a caixa da cerveja por R$ 26,00, o preço mais alto do mercado.
O dono da empresa, que também vende Skol, pediu para não ser identificado, com medo de mais retaliações. De acordo com ele, uma revenda da própria Brahma/Skol vende, em Florianópolis, a caixa de cerveja a R$ 20,50.
A revenda conseguiu uma liminar na Justiça para que o ICMS não fosse recolhido na fonte. Agora aciona a Brahma na Justiça em busca da equiparação de preços com os concorrentes. Ele anexou ao processo notas fiscais para mostrar as diferenças de preços.
O advogado Paulo Trevisan, de Presidente Prudente (SP), entrou com quatro ações na Justiça para fazer com que a Brahma uniformize os preços.
Ele fez um levantamento de preço para a reportagem da Folha na sexta-feira e constatou que em quatro distribuidoras de Santa Catarina os preços da caixa de cerveja eram diferentes. Variava de R$ 13,58 a R$ 17,66, uma diferença, portanto, de 30%. "Uma fábrica que tem revendedores exclusivos é obrigada a praticar preços iguais", diz Trevisan.

Outro lado
A Brahma diz, por meio de sua assessoria, que não tem política diferenciada de preços entre distribuidoras. Poderia haver diferença de preços entre os canais de distribuição. Hipermercados pagariam mais barato porque adquirem grandes volumes.
As distribuidoras acusam a Brahma de ter como projeto concentrar a distribuição da cerveja. Tomam como base o projeto da companhia batizado de "Forró" -a venda direta para o comércio.
O projeto, iniciado há dois anos, é entendido pela Brahma como forma de defender as suas marcas, atender melhor ao mercado e ter mais controle dos estoques. A companhia tem 29 centros próprios de distribuição.
A Brahma informa que os "Forrós" não foram implantados para substituir as revendas, mas, sim, para complementá-las.


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