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Argentina adota novas medidas protecionistas
Governo estabelece entraves à importação de produtos como têxteis e eletrodomésticos
Restrições ocorrem durante novo período de conflitos comerciais entre Brasil e Argentina; em fevereiro, comércio bilateral caiu 45%
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
O governo da Argentina deu
mais um passo ontem em sua
escalada protecionista e impôs
entraves à importação de 60
grupos de produtos do Mercosul, entre têxteis, eletrodomésticos e móveis.
A resolução nº 61/2009 do
Ministério da Produção, publicada ontem, passa a exigir licenças não-automáticas para
35 grupos de produtos, como
talheres, ceifeiras, CDs graváveis, tratores, assentos e móveis. Produtos submetidos a esse regime precisam de autorização estatal para entrar no
país, medida pela qual o governo acaba administrando os volumes que entram.
A suposta demora, pela Argentina, na concessão dessas licenças -que devem ser liberadas em até 60 dias, segundo regras da OMC (Organização
Mundial do Comércio)- é uma
das principais queixas do empresariado brasileiro. Apontam
que as licenças têm demorado
mais de quatro meses para sair.
A nova resolução também inclui 25 grupos de produtos entre os que precisam de Certificados de Importação para ingressar no país. São têxteis (sobretudo roupas de cama de algodão e de fibra sintética), itens
de metalurgia (parafusos) e artigos para casa, como aparelhos
de ar-condicionado, multiprocessadores de alimentos e fornos de micro-ondas.
A justificativa do governo para as medidas, expressa na nota, é que foram detectadas "mudanças significativas" no fluxo
de comércio desses produtos
no Mercosul, "cujo comportamento resulta conveniente
avaliar". A assessoria da ministra argentina da Produção, Débora Giorgi, disse que o objetivo é "controlar" a entrada dos
itens para avaliação estatística.
Tensão bilateral
As restrições ocorrem durante nova temporada de conflitos
comerciais entre Brasil e Argentina, impulsionada pela crise mundial que derrubou o comércio bilateral em 45% em fevereiro. Na segunda-feira, o secretário de Comércio Exterior
brasileiro, Welber Barral, disse
que as barreiras argentinas afetam 10% das exportações brasileiras ao país vizinho, no valor
de US$ 1,5 bilhão.
Anteontem, o subsecretário
de Política e Gestão Comercial
da Argentina, Eduardo Bianchi,
rebateu os argumentos de Barral. Disse que a queda nas exportações brasileiras está ligada sobretudo à derrubada do
comércio de veículos entre os
países. Afirmou ainda que as
medidas argentinas são compatíveis com regras da OMC.
Sobre as licenças não-automáticas, Bianchi disse que a Argentina as aplica a "pouco
mais" de 200 produtos, atingindo 7% das exportações brasileiras, enquanto o Brasil emprega esse regime a 4.500 produtos, o que afeta 50% das vendas argentinas.
Para resolver o impasse, o
Brasil estuda retomar o uso de
cotas de exportação em setores
sensíveis, como têxteis e calçados. Também não descarta recorrer à OMC, causando reações de entidades do setor industrial, bancário e sindical.
As desavenças estarão na
pauta na reunião de avaliação
do comércio bilateral que representantes dos governos terão no dia 12, em Buenos Aires.
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