São Paulo, domingo, 06 de abril de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Escândalos: modos de usar


PSDB e PFL enterravam seus escândalos vivos; lulistas os ressuscitam e se sacrificam em série, em nome de Lula

ESCÂNDALOS eram enterrados vivos na era FHC. Mas eram enterrados, ainda que sempre restassem aquelas mãos brotando de covas rasas, como em filmes de terror juvenil, restos que todos reviam quando era sepultada outra suspeita que ainda estrebuchava.
Houve a "suspeita" de tráfico de influência no caso Sivam, acompanhada de grampos intragoverno, no próprio Planalto. Houve a pasta rosa, "suspeita" de conter a lista de doações ilegais do falido Banco Econômico a tucanos e pefelês. Houve a compra de votos para aprovar a emenda da reeleição para FHC, o rolo da privatização das teles, propina no DNER, dinheiro do Banco Central para os bancos Marka e FonteCindam na desvalorização do real, o caso Sudam etc. O engavetador-geral da República de então ou a tropa de choque fernandina -tucanos, pefelês e PMDBs- lançavam pás de cal nesses bichos, alguns vivos até hoje.
O petismo-lulismo, no entanto, não apenas cria Frankensteins de seus cadáveres como os deixa soltos na rua, além de ressuscitar os que pareciam morrer de novo, como nesse caso do dossiê da quitanda do casal Cardoso. O petismo-lulismo não consegue abafar CPIs como FHC e cia. E, quando não tem um escândalo para chamar de seu, Lula adota alguns de seu entorno de desclassificados, por exemplo elogiando Severino Cavalcanti, o presidente da Câmara "suspeito" de extorquir dinheiro do dono do boteco do Congresso, ou Renan Calheiros, que levou para a coalizão luliana sua rica experiência do governo Collor, entre outras.
Os ministros de Lula se enforcam em suas gravatas feias em público. Tarso Genro dá mais desculpas furadas sobre rolos do petismo do que Guido Mantega sopra balões de ensaio de políticas econômicas alternativas. José Dirceu ao menos foi "KIA", "killed in action", metralhado por desafetos, mas Antonio Palocci puxou a própria corda, para nem mencionar espectros menores, como Luiz Gushiken, Ricardo Berzoini e Aloizio Mercadante.
A última a se imolar de maneira idiótica foi Dilma Rousseff. Mesmo em "estado interessante", ligeiramente grávida do PAC, na sexta-feira trepou voluntariamente em seu cadafalso. Se não perder o pescoço ministerial, no mínimo deu mostras de que perde a cabeça depois de duas meras semanas de pressão meia-bomba, pois a oposição se esmera em pisar nas próprias cascas de banana que deixa para o governo. O que faria Dilma em meio ao barata-avoa de dossiês sobre candidatos, numa campanha eleitoral?
Tudo isso se passa enquanto o prestígio de Lula está na lua, a economia cresce a mais de 5% por ano, candidatos municipais de oposição beijam a mão do presidente, líderes maiores do PSDB se batem em público e o grosso da liderança parlamentar oposicionista não passa de uma chusma de palermas.
Por que o petismo-lulismo é tão inepto, na "saúde e na doença", na rotina administrativa e na formulação de idéias, na malandragem e na coleta do lixo de escândalos? Será o excesso de caudilhismo, que sacrifica tudo em nome de Lula, projeto que reduziu o PT a quase uma mancebia degradada de ex-lideranças trabalhistas? Se é o caso, mesmo que o quisesse, o petismo conseguiria escapar da prorrogação de Lula?

vinit@uol.com.br


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