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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
Apesar do tom diplomático conciliador, Planalto decidiu que só aceita reajuste se Bolívia compensar Petrobras
País exigirá mudança em contratos de gás
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar do discurso mais suave
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, o governo brasileiro já decidiu que não aceitará aumento no
preço do gás boliviano se não forem alteradas regras no contrato
entre os dois países para compensar a Petrobras. Um exemplo: redução no prazo do contrato, que
hoje vai até 2019.
Caso a Bolívia tente algum tipo
de aumento unilateral, sem acordo entre as partes, a Petrobras já
está orientada a simplesmente fazer o pagamento de acordo com o
preço estabelecido no contrato
em vigor atualmente.
Outro ponto dado como definido pelo governo brasileiro é que a
Petrobras realmente suspendeu
qualquer plano de investir na Bolívia e somente retomará algum
tipo de investimento no país vizinho se tiver garantia de "retorno".
Segundo a Folha apurou, Lula,
ao dizer que a estatal pode continuar investindo na Bolívia desde
que tenha retorno, disse de forma
"diplomática" o que o presidente
da Petrobras, José Sergio Gabrielli, informou em entrevista na
quinta. Na ocasião, ele anunciou a
suspensão dos investimentos.
A expectativa do governo é que
as negociações durem entre três a
cinco meses. Enquanto isso, o
Brasil não aceitará pagar a mais
pelo gás nem a redução do volume enviado para o país.
Importação de GNL
Na avaliação de técnicos do governo, o aumento do gás pretendido pela Bolívia não é aceitável
-passar dos atuais US$ 3,80 para
algo entre US$ 5,80 e US$ 6,80 por
milhão de BTU (British Termal
Unit, medida de energia). Caso o
país vizinho insista na sua proposta, o Brasil cogita importar
Gás Natural Liquefeito (GNL) de
outros países. A Petrobras teria de
fazer investimentos para ter condições de, ao receber o gás liquefeito, transformá-lo novamente
em gás natural para ser utilizado
no setor industrial e veicular.
A importação de GNL seria uma
forma de, em primeiro lugar,
pressionar a Bolívia a aceitar uma
proposta que atenda aos interesses brasileiros. E, em segundo lugar, caso a Bolívia não recue, realmente buscar o gás necessário ao
país de outros fornecedores.
Para especialistas, a crise com a
Bolívia pode ser uma boa oportunidade para o Brasil investir em
GNL e criar mais uma alternativa
energética. "O GNL é completamente viável e vem sendo usado
em larga escala para geração de
energia em outros países", diz
Xisto Vieira Filho, presidente da
Associação Brasileira de Geradoras Termelétricas e ex-secretário
de Energia do Ministério de Minas e Energia (2000-2001).
Segundo Vieira Filho, o GNL
poderia ser importado de países
como Trinidad e Tobago, Argélia,
Malásia, Qatar, Nigéria, Austrália
ou Japão e chegaria ao Brasil por
um preço entre US$ 5 e US$ 7 o
milhão de BTU. Seria necessário,
no entanto, que fosse construída
estação regaseificadora para
transformar o líquido novamente
em gás. "O ideal seria construir
essa infra-estrutura em um porto
da região Nordeste." O investimento custaria entre US$ 300 milhões e US$ 400 milhões.
O Planalto continua acreditando que a Bolívia não terá alternativa senão aceitar negociar o preço
com o Brasil, e não impor um aumento simplesmente. A tranqüilidade vem do fato de que o país vizinho não tem outro mercado.
Enquanto negocia com a Bolívia, o Ministério de Minas e Energia já orientou a Petrobras a acelerar seus projetos para exploração
do gás natural em reservas brasileiras, como as de Santos e Espírito Santo. Lula não concorda com
as críticas de que seu governo foi
pego desprevenido pela crise boliviana. Ele lembra que a Petrobras
já estava avisada de que deveria
acelerar investimentos na área,
como a construção de termelétrica bicombustível, e não só a gás.
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