|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Em crise com o Uruguai, Kirchner
protesta contra fábricas de celulose
FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES
Numa demonstração da escalada da crise diplomática entre uruguaios e argentinos, o presidente
da Argentina, Néstor Kirchner, levou ontem 19 governadores e parte do seu gabinete à fronteira do
Uruguai para um ato político contra a instalação de duas multinacionais de papel no país vizinho.
Em Gualeyguachú (248 km de
Buenos Aires), onde piquetes fecharam a passagem ao território
uruguaio até a última terça-feira,
Kirchner discursou para cerca de
50 mil pessoas, segundo a agência
de notícias oficial. O ato foi no
sambódromo da cidade, lugar do
maior carnaval do país.
"Elegemos o caminho do direito, da prudência, a racionalidade.
Não estão aqui nem a Província
nem a cidade sozinhas nesta luta.
Está a República da Argentina e o
povo comprometido", disse.
Impacto ambiental
Kirchner voltou a exigir que as
indústrias de celulose -a espanhola Ence e a finlandesa Botnia- façam um estudo de impacto ambiental antes de se instalarem às margens do rio Uruguai,
compartilhado entre os países.
Segundo a Argentina, o governo
uruguaio violou o tratado do rio,
ao aprovar o projeto sem o conhecimento dos argentinos. Com base no argumento, anteontem a
chancelaria argentina fez uma representação contra o Uruguai no
Tribunal de Haia.
A intenção da Casa Rosada com
a cerimônia era fazer da "guerra
das papeleiras" com o Uruguai
uma bandeira política nacional
-e conseguiu. O que começou
como uma manifestação de moradores e ambientalistas com
poucos holofotes, e pouca atenção do próprio governo, há um
ano, acabou reunindo ontem até
políticos da oposição.
Ainda assim, a Casa Rosada foi
acusada por líderes oposicionistas e até grupos minoritários do
ambientalistas de querer usar a
controvérsia como mote político
para iniciar a campanha de reeleição de Kirchner -as eleições são
em 2007.
Disposto a demonstrar sua
preocupação ambiental, Kirchner
fez os governadores presentes assinarem uma ata de compromisso
com a reclamação argentina contra o Uruguai, onde também prometia aumentar os controles ambientais no país.
Resposta uruguaia
De volta de sua viagem ao México e os EUA, o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, respondeu a Kirchner. Disse que a Argentina "é o país que mais contamina" o ambiente na região. Vázquez tem lembrado que há também indústrias de celulose na Argentina, sem controle da poluição
que provocam. Segundo a imprensa uruguaia, o país já escolheu cinco juristas e um escritório
europeu para preparem a defesa
do Uruguai no Tribunal de Haia.
Ontem, Kirchner defendeu as
fábricas de papel argentinas e disse que têm menor impacto ambiental do que o projeto do Uruguai -um dos maiores complexos do mundo do setor.
Texto Anterior: Amorim diz que está negociando, e não "jogando para a platéia" Próximo Texto: Comércio Exterior: Furlan defende menos imposto para carros Índice
|