São Paulo, sábado, 06 de maio de 2006

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Em crise com o Uruguai, Kirchner protesta contra fábricas de celulose

FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES

Numa demonstração da escalada da crise diplomática entre uruguaios e argentinos, o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, levou ontem 19 governadores e parte do seu gabinete à fronteira do Uruguai para um ato político contra a instalação de duas multinacionais de papel no país vizinho.
Em Gualeyguachú (248 km de Buenos Aires), onde piquetes fecharam a passagem ao território uruguaio até a última terça-feira, Kirchner discursou para cerca de 50 mil pessoas, segundo a agência de notícias oficial. O ato foi no sambódromo da cidade, lugar do maior carnaval do país.
"Elegemos o caminho do direito, da prudência, a racionalidade. Não estão aqui nem a Província nem a cidade sozinhas nesta luta. Está a República da Argentina e o povo comprometido", disse.

Impacto ambiental
Kirchner voltou a exigir que as indústrias de celulose -a espanhola Ence e a finlandesa Botnia- façam um estudo de impacto ambiental antes de se instalarem às margens do rio Uruguai, compartilhado entre os países.
Segundo a Argentina, o governo uruguaio violou o tratado do rio, ao aprovar o projeto sem o conhecimento dos argentinos. Com base no argumento, anteontem a chancelaria argentina fez uma representação contra o Uruguai no Tribunal de Haia.
A intenção da Casa Rosada com a cerimônia era fazer da "guerra das papeleiras" com o Uruguai uma bandeira política nacional -e conseguiu. O que começou como uma manifestação de moradores e ambientalistas com poucos holofotes, e pouca atenção do próprio governo, há um ano, acabou reunindo ontem até políticos da oposição.
Ainda assim, a Casa Rosada foi acusada por líderes oposicionistas e até grupos minoritários do ambientalistas de querer usar a controvérsia como mote político para iniciar a campanha de reeleição de Kirchner -as eleições são em 2007.
Disposto a demonstrar sua preocupação ambiental, Kirchner fez os governadores presentes assinarem uma ata de compromisso com a reclamação argentina contra o Uruguai, onde também prometia aumentar os controles ambientais no país.

Resposta uruguaia
De volta de sua viagem ao México e os EUA, o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, respondeu a Kirchner. Disse que a Argentina "é o país que mais contamina" o ambiente na região. Vázquez tem lembrado que há também indústrias de celulose na Argentina, sem controle da poluição que provocam. Segundo a imprensa uruguaia, o país já escolheu cinco juristas e um escritório europeu para preparem a defesa do Uruguai no Tribunal de Haia.
Ontem, Kirchner defendeu as fábricas de papel argentinas e disse que têm menor impacto ambiental do que o projeto do Uruguai -um dos maiores complexos do mundo do setor.


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