São Paulo, sábado, 06 de maio de 2006

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Medida será avaliada após montadora informar plano de reestruturação no país com corte de empregos e direitos

Paraná pode rever incentivo dado à Volks

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo do Paraná pode rever os incentivos fiscais concedidos à Volkswagen desde que a montadora iniciou a produção em 1999 na fábrica de São José dos Pinhais, a 25 km de Curitiba.
A medida será avaliada pelo governo após a empresa anunciar que vai se reestruturar no país, com um plano que prevê demissão de funcionários, corte de benefícios dos empregados e redução de custos das fábricas.
A Vollkswagen informou que enviou carta ao governador Roberto Requião (PMDB) anteontem "se colocando à disposição" para apresentar e explicar ao Estado seu plano de reestruturação.
"Dependendo da justificativa da montadora e do que ocorrer na prática [se efetivar a demissão de trabalhadores], o Estado pode sim rever benefícios concedidos pelo governo anterior", disse à Folha o advogado Mário Lobo, assessor especial do governador e presidente do Conselho de Política Automotiva do Paraná.
Os sindicatos dos metalúrgicos do ABC (CUT) e de Curitiba (Força Sindical) informam que a Volks quer demitir 5.773 trabalhadores de São Bernardo do Campo, Taubaté e São José dos Pinhais (PR) em dois anos.
Só no Paraná, seriam eliminados 1.420 dos 4.200 empregos existentes. Neste ano, a previsão é cortar 946 postos de São José do Pinhais, de um total de 3.016 em três unidades. Desde segunda-feira, a Volks concedeu férias coletivas para cerca de mil empregados daquele Estado. É a segunda vez que isso ocorre no ano.
No Paraná, a Volkswagen têm desconto nas tarifas de água e energia, incentivos para exportar pelo porto de Paranaguá e diferimento no recolhimento de ICMS até 2015, segundo protocolo assinado com o governo em 1996.
"Cerca de R$ 700 milhões em imposto deixaram de ser recolhidos desde 99 e podem começar a ser pagos em oito anos", disse Lobo. Segundo ele, o terreno cedido à VW para a instalar sua fábrica custou R$ 6 milhões. "A desapropriação foi bancada pelo governo anterior [de Jaime Lerner]."
O protocolo de intenções, assinado com a montadora em dezembro de 96, cita que os incentivos seriam concedidos "considerando os benefícios que a instalação dessa fábrica poderá proporcionar para a economia e desenvolvimento social do Estado do Paraná, em decorrência da elevação das ofertas de empregos diretos e indiretos e do aumento de suas receitas e do futuro incremento das exportações".
"A Volks usa dinheiro público, recebe incentivos do Estado e devolve o troco ameaçando demissões? Não vamos aceitar esse jogo", afirmou Sérgio Butka, presidente do sindicato de Curitiba. Eleno José Bezerra, vice-presidente da Força, defende que o BNDES suspenda empréstimo feito à montadora. "Queremos impedir que a empresa receba R$ 497 milhões para se reestruturar."
Representantes dos 21,5 mil funcionários da VW no país decidiram ontem que vão fazer ações em conjunto em cinco fábricas para impedir a retirada de direitos e prometem resistir às demissões.
"Se for preciso, haverá greve. Vamos propor aos trabalhadores da Volks afetados pela reestruturação em outros países, como os da Alemanha, onde quer demitir 20 mil, e da Espanha, onde quer fechar uma fábrica, uma reposta em comum", disse José Lopez Feijóo, do sindicato do ABC. Ele irá hoje para a Alemanha, onde participa de reunião do Comitê Mundial dos Trabalhadores da VW.


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