São Paulo, sábado, 06 de maio de 2006

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COMBUSTÍVEL

Presidente muda de posição e agora quer derrubar taxa de importação do produto, o que pode beneficiar Brasil

Bush defende redução da tarifa do álcool

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

George W. Bush quer derrubar a tarifa de importação do etanol, o que deve beneficiar principalmente os produtores brasileiros do álcool combustível. É a primeira vez que o presidente americano faz essa declaração publicamente desde que a crise do petróleo virou o principal problema interno de seu segundo mandato.
"Derrubar a tarifa possibilitará a exportação do etanol estrangeiro para nosso mercado, o que deve ajudar particularmente nossos custos", disse Bush à emissora de TV paga CNBC ontem à tarde. "Eu quero trabalhar nisso com o Congresso, faz sentido para mim." Há semanas a Casa Branca busca alternativas para baixar o preço médio do galão (3,7 litros) de gasolina, atualmente em US$ 3,50 (cerca de R$ 7,20).
A alta nas bombas, acentuada pelo aumento previsto do consumo no verão, que começa em junho, deve ser o calcanhar-de-aquiles do Partido Republicano nas eleições de novembro, que renovarão parte do Congresso. Candidatos situacionistas já procuram se afastar do presidente, e a oposição democrata recomenda que seus candidatos façam comícios dentro de postos de gasolina.
Bush, que tem família ligada à indústria do petróleo do Texas, se disse ainda "chocado" com os benefícios exagerados pagos a executivos das principais empresas petrolíferas, principalmente ao ex-CEO da Exxon Mobil, Lee Raymond, que se aposentou com um pacote de US$ 400 milhões, e prometeu investigar acusações de manipulação de preços.
Anteontem, em reunião na Casa Branca com políticos, o presidente já havia apontado na direção da derrubada da tarifa, atualmente de US$ 0,54 por galão. A idéia é defendida por seu irmão, o governador da Flórida, Jeb Bush, e foi repetida à exaustão pelos ministros brasileiros da Fazenda, Guido Mantega, e da Agricultura, Roberto Rodrigues, em recentes viagens a Washington.
Em entrevista ao diário financeiro "Financial Times" publicada ontem, o ex-secretário de Estado George Shultz, um dos confidentes do presidente, disse: "Poderíamos fazer disso um ato político. Nós não precisamos de uma grande conquista tecnológica. Isso é algo que já funciona no Brasil, então vamos adaptar."

Resistência interna
A principal resistência que Bush enfrentará são o Comitê de Finanças do Senado, por onde a proposta terá necessariamente de passar, e a base do próprio presidente americano. O chefe do comitê é o republicano Charles Grassley, do Iowa, principal representante dos fazendeiros do Meio-Oeste americano, produtores de etanol feito a partir do milho. "É um passo na direção errada", rebateu Chuck Grassley, velho conhecido do interior paulista, para onde viaja com freqüência. "Sinalizará que nós estamos recuando em nossos próprios esforços de alcançar a independência no setor energético", emendou o senador. Diversos políticos da bancada rural republicana fizeram eco às suas declarações, logo após a fala de Bush.

Pois foi na associação dos mesmos produtores de etanol que o presidente americano discursou, na semana passada em Washington, elogiando a tarifa de importação que ontem dizia pretender derrubar.
"O etanol precisa de nosso apoio. Em outras palavras, para fazer esta indústria se desenvolver, é preciso um pequeno empurrão do governo federal", afirmou então.
"Desde que eu assumi o governo, aumentamos o crédito fiscal de US$ 0,51 por galão para os fornecedores. Criamos um novo crédito fiscal de US$ 0,10 para prover ajuda extra aos pequenos produtores de etanol e fazendeiros", falou o presidente. Resta saber qual de suas duas defesas é para valer, e qual dos dois públicos-alvo mostrará mais força.


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