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COMBUSTÍVEL
Presidente muda de posição e agora quer derrubar taxa de importação do produto, o que pode beneficiar Brasil
Bush defende redução da tarifa do álcool
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
George W. Bush quer derrubar
a tarifa de importação do etanol, o
que deve beneficiar principalmente os produtores brasileiros
do álcool combustível. É a primeira vez que o presidente americano
faz essa declaração publicamente
desde que a crise do petróleo virou o principal problema interno
de seu segundo mandato.
"Derrubar a tarifa possibilitará
a exportação do etanol estrangeiro para nosso mercado, o que deve ajudar particularmente nossos
custos", disse Bush à emissora de
TV paga CNBC ontem à tarde.
"Eu quero trabalhar nisso com o
Congresso, faz sentido para
mim." Há semanas a Casa Branca
busca alternativas para baixar o
preço médio do galão (3,7 litros)
de gasolina, atualmente em US$
3,50 (cerca de R$ 7,20).
A alta nas bombas, acentuada
pelo aumento previsto do consumo no verão, que começa em junho, deve ser o calcanhar-de-aquiles do Partido Republicano
nas eleições de novembro, que renovarão parte do Congresso.
Candidatos situacionistas já procuram se afastar do presidente, e a
oposição democrata recomenda
que seus candidatos façam comícios dentro de postos de gasolina.
Bush, que tem família ligada à
indústria do petróleo do Texas, se
disse ainda "chocado" com os benefícios exagerados pagos a executivos das principais empresas
petrolíferas, principalmente ao
ex-CEO da Exxon Mobil, Lee Raymond, que se aposentou com um
pacote de US$ 400 milhões, e prometeu investigar acusações de
manipulação de preços.
Anteontem, em reunião na Casa
Branca com políticos, o presidente já havia apontado na direção da
derrubada da tarifa, atualmente
de US$ 0,54 por galão. A idéia é
defendida por seu irmão, o governador da Flórida, Jeb Bush, e foi
repetida à exaustão pelos ministros brasileiros da Fazenda, Guido
Mantega, e da Agricultura, Roberto Rodrigues, em recentes viagens
a Washington.
Em entrevista ao diário financeiro "Financial Times" publicada ontem, o ex-secretário de Estado George Shultz, um dos confidentes do presidente, disse: "Poderíamos fazer disso um ato político. Nós não precisamos de uma
grande conquista tecnológica. Isso é algo que já funciona no Brasil,
então vamos adaptar."
Resistência interna
A principal resistência que Bush
enfrentará são o Comitê de Finanças do Senado, por onde a proposta terá necessariamente de
passar, e a base do próprio presidente americano. O chefe do comitê é o republicano Charles
Grassley, do Iowa, principal representante dos fazendeiros do
Meio-Oeste americano, produtores de etanol feito a partir do milho. "É um passo na direção errada", rebateu Chuck Grassley, velho conhecido do interior paulista, para onde viaja com freqüência. "Sinalizará que nós estamos
recuando em nossos próprios esforços de alcançar a independência no setor energético", emendou o senador. Diversos políticos
da bancada rural republicana fizeram eco às suas declarações, logo após a fala de Bush.
Pois foi na associação dos mesmos produtores de etanol que o
presidente americano discursou,
na semana passada em Washington, elogiando a tarifa de importação que ontem dizia pretender
derrubar.
"O etanol precisa de nosso
apoio. Em outras palavras, para
fazer esta indústria se desenvolver, é preciso um pequeno empurrão do governo federal", afirmou então.
"Desde que eu assumi o governo, aumentamos o crédito fiscal
de US$ 0,51 por galão para os fornecedores. Criamos um novo crédito fiscal de US$ 0,10 para prover
ajuda extra aos pequenos produtores de etanol e fazendeiros", falou o presidente. Resta saber qual
de suas duas defesas é para valer, e
qual dos dois públicos-alvo mostrará mais força.
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