São Paulo, sábado, 06 de maio de 2006

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Sem as barreiras, usinas poderão exportar mais aos Estados Unidos

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

As indústrias brasileiras de açúcar e álcool elegeram 2006 como "o ano açucareiro". Entretanto, diante da possível derrubada das barreiras de importação do álcool nos Estados Unidos, o setor deve repensar essa estratégia.
"A eliminação das barreiras nos Estados Unidos não estava nos nossos planos concretos, pois pensávamos que ela só viria com as negociações de Doha ou da Alca", afirmou Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo). "Isso nos traz novas oportunidades." Com a queda das barreiras, o setor deverá exportar mais do que o 1,9 bilhão de litros previstos até agora.
Para o presidente da Unica, o setor vai analisar essa nova oportunidade e, sem descuidar do mercado interno, poderá produzir mais álcool para exportação. A opção de produzir mais açúcar era porque "não tínhamos aumentado a produção no ano passado", afirma Carvalho.
Ele alerta de que é preciso saber se essa abertura é definitiva ou apenas temporária. Para evitar indenizações devido ao uso de MTBE, as indústrias passaram a vender mais etanol por lá, desequilibrando o cronograma de oferta e demanda americano, segundo o presidente da Unica.
É preciso saber, no entanto, se depois de um ano, após acertada essa oferta e demanda, os Estados Unidos não voltam a fechar o mercado, acrescenta ele.

Área cultivada maior
A Unica divulgou ontem a primeira estimativa de produção na região centro-sul da safra 2006/7. Os dados mostram que o bom momento do setor permitiu a ampliação, em 500 mil hectares, da área cultivada neste ano na região. A cana avança sobre todos as culturas, mas a maior área ocupada é de pastagens.
A área subiu para 4,5 milhões de hectares, 11,2% a mais do que no ano passado. A moagem sobe para 375 milhões de toneladas -foram 337 milhões em 2005. A produção de açúcar deve subir para 25,5 milhões de toneladas, com alta de 16% em relação a 2005.
Essa opção pelo açúcar ocorre porque os preços do produto estão mais favoráveis do que os do álcool, segundo Carvalho.
Já a oferta de álcool sobe para 15,6 bilhões de litros na região centro-sul (mais 9%). Nas contas da Unica, a produção de anidro (misturado à gasolina) recua 6%, mas será suficiente para manter o patamar de mistura atual de 20%. Já a produção de hidratado, pressionada pela demanda dos carros bicombustíveis, cresce 23%.

Preço alto, consumo menor
Carvalho diz que o setor aprendeu muito com o álcool neste ano, período em que as usinas foram obrigadas a desfazer acordo feito com o governo. Uma das lições, diz ele, é que "preço alto diminui demanda". Com os carros bicombustíveis, acabou a dependência direta do consumidor ao álcool. Carvalho cita o exemplo de março e abril, quando a alta de preços, devido à entressafra, fez o consumo cair de 30% a 35%.
Com o avanço da safra, os preços nas usinas recuaram para o patamar de dezembro (R$ 0,90 por litro). Se não houver o mesmo ritmo de queda nas bombas, os postos vão acabar elevando as margens, segundo a Unica.
Ontem, o Cepea divulgou nova queda nos preços nas usinas paulistas. O anidro recuou 6,05%, para R$ 0,97808 por litro. O hidratado caiu 5,49%, para R$ 0,85606.


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