|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Fundo soberano sai até junho e deve ser usado no câmbio
Intenção é permitir que Tesouro compre dólar para impedir queda da moeda
Mantega diz que conquista do grau de investimento não é "uma maldição cambial"
e descarta elevar de novo IOF para estrangeiro
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Guido Mantega
(Fazenda) afirmou ontem que
o Brasil deverá ter um fundo
soberano até o fim de junho. A
Folha apurou que a intenção
da Fazenda é acelerar a formação desse fundo, que daria ao
Tesouro autorização para comprar dólares no mercado para,
com isso, tentar conter a desvalorização da moeda estrangeira, sem depender da atuação do
Banco Central.
Para permitir ao Tesouro
atuar no mercado de câmbio
com mais força, o governo teria
que mudar a regra que limita a
compra de dólares ao valor dos
vencimentos da dívida em
moeda estrangeira nos 12 meses seguintes. Essa mudança
poderá ser feita no momento
da criação do fundo soberano.
Caso não consiga realizar as
modificações legais, a operação
do fundo cairia nas mãos do BC,
abastecido pelas reservas internacionais. Hoje, as reservas do
país somam US$ 195 bilhões.
Desde a conquista do grau de
investimento, na semana passada, analistas demonstram
preocupação com a queda do
dólar, que poderá acelerar a
piora do resultado da balança
comercial e elevar o déficit nas
contas externas. Em entrevista
a agências internacionais,
Mantega disse ontem que a
conquista do grau de investimento não é "uma maldição
cambial".
Ele negou, ainda, que o governo tenha a intenção de aumentar mais uma vez o IOF
(Imposto sobre Operações Financeiras) para os investidores
estrangeiros. Em março, o governo taxou os estrangeiros em
1,5% de IOF para investimentos em renda fixa no Brasil.
"O grau de investimento não
é uma panacéia nem tampouco
a maldição cambial", disse o
ministro à Reuters. "O governo
não está neste momento estudando nenhuma medida de elevação do IOF."
Um assessor de Mantega disse que a iniciativa de taxar o investimento estrangeiro depois
do fim da CPMF só recompôs
um custo que os estrangeiros já
tinham com o tributo. E não há
intenção de sobretaxar esses
investidores, principalmente
agora que o país obteve o "investment grade".
A nota concedida pela Standard & Poor's ao Brasil como
país de investimento seguro
acirrou, também, as divergências entre Mantega e o presidente do BC, Henrique Meirelles. O comentário da agência
de que a alta do juro foi um dos
pontos positivos considerados
na avaliação de risco irritou
Mantega, que foi contrário ao
aumento da Selic.
"O fundo soberano é a maneira mais eficiente de usar o
excesso de dólar que vem para o
Brasil", disse Mantega em entrevista à Bloomberg, esquivando-se de comentar se o dinheiro para compor o fundo viria do Tesouro ou das reservas
internacionais, administradas
pelo BC. Segundo o ministro,
esses recursos poderão ser usados para estimular as exportações e o comércio exterior. Seus
auxiliares listam ainda a possibilidade de, com o fundo soberano, o Tesouro atuar contra a
queda do dólar independentemente das decisões do BC.
A criação de fundos soberanos para aplicar as reservas internacionais é uma estratégia
usada pela maioria dos países
emergentes com reservas elevadas para conseguir maior retorno de capital. Alguns países,
como a Rússia, fizeram fundos
também com a receita da venda
de petróleo. Desde o início da
crise do "subprime" -créditos
imobiliários de alto risco-, nos
EUA, os países emergentes têm
usados esses fundos para salvar
instituições financeiras atingidas pela crise.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Bolsa avança 1,17% e rompe pela 1ª vez os 70 mil pontos Índice
|