São Paulo, quarta-feira, 06 de maio de 2009

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BC intervém no câmbio, e dólar volta a subir

Após operação de US$ 3,4 bi, moeda americana fecha com alta de 0,85%, a R$ 2,148, após ter caído 2,34% na véspera

BC nega que tenha meta cambial; Fazenda pressiona por manutenção de dólar mais alto, visto como efeito colateral positivo da crise


MARCIO AITH
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central fez ontem sua primeira forte intervenção no mercado de câmbio desde a eclosão da crise global, em setembro passado, que resultou em alta do dólar.
Em uma operação equivalente a US$ 3,4 bilhões, o banco vendeu, em leilão, contratos que equivalem à compra de dólares no mercado futuro. A intervenção ocorreu um dia depois de o dólar ter recuado 2,34%, atingindo R$ 2,13, a menor cotação desde novembro.
O resultado da ação de ontem foi uma apreciação de 0,85% da moeda americana, que fechou o dia a R$ 2,148. Logo após a intervenção, a moeda chegou a atingir R$ 2,16.
De setembro até ontem, as operações do Banco Central estavam sendo feitas na ponta oposta. O banco vendia dólares, tentando conter a alta da moeda. De 12 de setembro até ontem, o dólar se valorizou em 21% ante o real.
O BC informou à Folha que o motivo do leilão foi a percepção de que houve uma "alteração das condições de fluxo [cambial] nas últimas semanas". Os investidores estariam agora apostando na alta do real, e o BC, buscando impedir o excesso de volatilidade sem se contrapor à tendência natural do mercado.
O BC negou que tenha a intenção de interferir na cotação do dólar. E insistiu que não trabalha com meta, piso ou teto cambial. A política de câmbio, segundo a autoridade monetária brasileira, segue flutuante.

Pressão
A Folha apurou que a ação do BC tem outro objetivo que não apenas o de impedir o excesso de volatilidade cambial. No começo de junho vencem contratos por meio dos quais o banco terá de vender US$ 3,3 bilhões. Como o valor que terá de ser entregue em junho equivale aos adquirido ontem, o BC estaria apenas zerando sua posição no mercado futuro.
Além disso, o leilão ocorre em um momento em que o BC é pressionado pelo Ministério da Fazenda para impedir que o real siga em rota de apreciação, o que poderia prejudicar o setor exportador. A Fazenda quer preservar o que acredita ser o único efeito colateral positivo da crise: a valorização do dólar, que barateia os produtos que o país exporta, aumentando sua competitividade.
O leilão do BC produziu reações distintas entre os analistas. Segundo Roberto Padovani, estrategista-chefe do banco WestLB, a ação foi muito mais operacional do que uma mudança de política. "Há fluxos fortes e pontuais, que poderiam fortalecer muito o real e criar espaços para movimentos especulativos."
Para Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria, "o BC é um agente que tem informações privilegiadas" e a atuação "está dentro da normalidade" de sua política. "Dizer que o BC quer segurar o câmbio é uma interpretação totalmente equivocada, na minha opinião", afirma Blanche.
Já Sidnei Nehme, diretor da corretora de câmbio NGO, diz que a atuação de ontem "foi uma surpresa e desnecessária". "Não ficou clara a intenção do governo ao atuar. O mercado estava se ajustando à realidade. Esse tipo de intervenção apenas vai contribuir para uma maior volatilidade das cotações", afirmou Nehme.
No leilão, foram vendidos todos os papéis ofertados, em um montante que alcançou os US$ 3,4 bilhões. Essa cifra equivale a toda a movimentação com moeda feita em um dia normal no mercado de câmbio.
A atual cotação do dólar ainda está muito distante dos valores mais baixos do ano passado, antes de a crise se agravar.
No dia 1º de agosto de 2008, o dólar fechou a R$ 1,559. Naquele momento, uma das grandes discussões era se o setor exportador sobreviveria com a uma cotação tão baixa. Com a rápida e contundente deterioração do cenário internacional, a partir de setembro, o dólar iniciou sua escala, para bater no pico no começo de dezembro, de R$ 2,536.


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