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BC intervém no câmbio, e dólar volta a subir
Após operação de US$ 3,4 bi, moeda americana fecha com alta de 0,85%, a R$ 2,148, após ter caído 2,34% na véspera
BC nega que tenha meta cambial; Fazenda pressiona por manutenção de dólar mais alto, visto como efeito colateral positivo da crise
MARCIO AITH
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Banco Central fez ontem
sua primeira forte intervenção
no mercado de câmbio desde a
eclosão da crise global, em setembro passado, que resultou
em alta do dólar.
Em uma operação equivalente a US$ 3,4 bilhões, o banco
vendeu, em leilão, contratos
que equivalem à compra de dólares no mercado futuro. A intervenção ocorreu um dia depois de o dólar ter recuado
2,34%, atingindo R$ 2,13, a menor cotação desde novembro.
O resultado da ação de ontem
foi uma apreciação de 0,85% da
moeda americana, que fechou o
dia a R$ 2,148. Logo após a intervenção, a moeda chegou a
atingir R$ 2,16.
De setembro até ontem, as
operações do Banco Central estavam sendo feitas na ponta
oposta. O banco vendia dólares,
tentando conter a alta da moeda. De 12 de setembro até ontem, o dólar se valorizou em
21% ante o real.
O BC informou à Folha que o
motivo do leilão foi a percepção de que houve uma "alteração das condições de fluxo
[cambial] nas últimas semanas". Os investidores estariam
agora apostando na alta do real,
e o BC, buscando impedir o excesso de volatilidade sem se
contrapor à tendência natural
do mercado.
O BC negou que tenha a intenção de interferir na cotação
do dólar. E insistiu que não trabalha com meta, piso ou teto
cambial. A política de câmbio,
segundo a autoridade monetária brasileira, segue flutuante.
Pressão
A Folha apurou que a ação
do BC tem outro objetivo que
não apenas o de impedir o excesso de volatilidade cambial.
No começo de junho vencem
contratos por meio dos quais o
banco terá de vender US$ 3,3
bilhões. Como o valor que terá
de ser entregue em junho equivale aos adquirido ontem, o BC
estaria apenas zerando sua posição no mercado futuro.
Além disso, o leilão ocorre
em um momento em que o BC
é pressionado pelo Ministério
da Fazenda para impedir que o
real siga em rota de apreciação,
o que poderia prejudicar o setor exportador. A Fazenda quer
preservar o que acredita ser o
único efeito colateral positivo
da crise: a valorização do dólar,
que barateia os produtos que o
país exporta, aumentando sua
competitividade.
O leilão do BC produziu reações distintas entre os analistas. Segundo Roberto Padovani, estrategista-chefe do banco
WestLB, a ação foi muito mais
operacional do que uma mudança de política. "Há fluxos
fortes e pontuais, que poderiam fortalecer muito o real e
criar espaços para movimentos
especulativos."
Para Nathan Blanche, sócio
da Tendências Consultoria, "o
BC é um agente que tem informações privilegiadas" e a atuação "está dentro da normalidade" de sua política. "Dizer que o
BC quer segurar o câmbio é
uma interpretação totalmente
equivocada, na minha opinião",
afirma Blanche.
Já Sidnei Nehme, diretor da
corretora de câmbio NGO, diz
que a atuação de ontem "foi
uma surpresa e desnecessária".
"Não ficou clara a intenção do
governo ao atuar. O mercado
estava se ajustando à realidade.
Esse tipo de intervenção apenas vai contribuir para uma
maior volatilidade das cotações", afirmou Nehme.
No leilão, foram vendidos todos os papéis ofertados, em um
montante que alcançou os US$
3,4 bilhões. Essa cifra equivale
a toda a movimentação com
moeda feita em um dia normal
no mercado de câmbio.
A atual cotação do dólar ainda está muito distante dos valores mais baixos do ano passado, antes de a crise se agravar.
No dia 1º de agosto de 2008,
o dólar fechou a R$ 1,559. Naquele momento, uma das grandes discussões era se o setor
exportador sobreviveria com a
uma cotação tão baixa. Com a
rápida e contundente deterioração do cenário internacional,
a partir de setembro, o dólar
iniciou sua escala, para bater
no pico no começo de dezembro, de R$ 2,536.
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