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Juiz quer investigação sobre ação de Dilma
Responsável pelo processo da VarigLog pede que procurador-geral apure denúncias sobre interferência da Casa Civil na venda da empresa
Magistrado também vê irregularidades na Anac e na composição societária entre fundo Matlin Patterson, dos EUA, e três sócios brasileiros
MARINA GAZZONI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O juiz José Paulo Magano, da
17ª Vara Cível de São Paulo, enviou ontem um ofício à Procuradoria Geral da República em
que determina que se investigue a possível interferência da
ministra Dilma Rousseff e da
secretária-executiva da Casa
Civil, Erenice Guerra, na aprovação pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), da venda da VarigLog. A empresa foi
comprada em 2006 pela Volo
do Brasil, formada pelo fundo
americano Matlin Patterson e
por três sócios brasileiros.
Magano diz que tomou as decisões com base nos documentos enviados pela Anac nesta
semana sobre a venda da VarigLog à Volo do Brasil, entre eles
o parecer do ex-procurador-geral da Anac João Ilídio de Lima,
de 23 de junho de 2006.
Apesar de dizer que desconhecia as afirmações da ex-diretora da Anac Denise Abreu
sobre a suposta pressão da Casa
Civil para a aprovação da venda
da VarigLog, Magano afirma
que considerou o conteúdo das
entrevistas dadas por ela para
tomar a decisão.
"A situação caracteriza, a
princípio, prática de ilícito penal envolvendo ministra do Estado", diz o despacho de Magano. À imprensa ele não quis detalhar quais seriam os ilícitos
praticados por Dilma. "Essa
concessão, a meu ver, foi concedida de forma irregular, mas eu
não vou capitular os crimes,
pois não é função do juiz. É preciso apurar [...] Mas posso dizer
que não é função de um administrador público pressionar
ou favorecer ninguém."
Ao receber informações contra um ministro de Estado, a
Procuradoria Geral da República analisa os dados e poderá, se
julgar necessário, pedir abertura de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal).
Atuação da Anac
Magano também disse que
dispõe de documentos que revelam que a Anac praticou atos
ilícitos na autorização da venda
da VarigLog à Volo do Brasil,
em 2006. A Anac não comentou as acusações, pois diz que se
referem à gestão anterior.
Segundo Magano, essas irregularidades são "precauções
não tomadas" pela agência para
verificar a origem do dinheiro
utilizado na compra da VarigLog e se os ex-sócios brasileiros Marco Antonio Audi, Marcos Haftel e Luiz Eduardo Gallo
teriam condições financeiras
de comprar a empresa.
À frente do processo que decide a dissolução societária entre os brasileiros e o Matlin,
Magano evita usar o termo laranjas, mas diz que os brasileiros não tinham aporte financeiro para formar a sociedade.
"Entendo que eles não tinham
laços econômicos com o fundo.
Foram arregimentados para
dar uma aparência de legalidade e conseguir a concessão."
A disputa judicial entre os sócios aumentou ainda mais as
dívidas da empresa, afirma o
juiz em termo de audiência de
conciliação judicial na 17ª Vara
Federal de São Paulo realizada
em abril deste ano.
Relatórios apresentados
após a intervenção judicial indicam que salários e impostos
deixaram de ser pagos para custear gastos pessoais dos donos
da VarigLog, na época sob o comando dos sócios brasileiros.
As supostas irregularidades
da administração dos brasileiros resultaram na decisão do
juiz de transferir a gestão para
o chinês Lap Chan, sócio do
Matlin, apesar de contrariar a
legislação, que limita em 20% a
participação de estrangeiros
em empresas aéreas.
Em abril, Magano também
afastou Chan da gestão da VarigLog por suposta tentativa de
desvio de recursos de uma conta na Suíça da empresa. A transferência foi impedida pelo juiz,
e Chan foi substituído por seu
sócio argentino, Santiago Born.
Colaboraram ALLAN GRIPP e
FERNANDA ODILLA , da Sucursal de Brasília
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