São Paulo, sábado, 06 de julho de 2002

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CONJUNTURA

Presidente diz que não é preciso novo acordo

FHC nega sondagem ao FMI e vê "tranquilidade" até dezembro

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

O presidente Fernando Henrique Cardoso não tem conhecimento nem acha necessário tentar, com o FMI (Fundo Monetário Internacional), um acordo para garantir a transição para o próximo governo.
"Acho que temos condições, com o acordo existente, de chegar até o fim do governo com tranquilidade", disse o presidente, em improvisada entrevista coletiva ao deixar ontem à tarde a residência oficial do governo argentino, a Quinta de Olivos, ao norte de Buenos Aires.
O comentário de FHC foi em resposta a perguntas sobre a informação do jornal "Valor Econômico", na edição de ontem, segundo a qual "o governo brasileiro já fez uma sondagem que foi bem recebida pelo FMI sobre a possibilidade de obter, se necessário, um novo acordo -o atual termina dia 13 de dezembro-, que dê tranquilidade à transição de poder, a exemplo do que fez a Coréia em 1997".
O presidente negou que tivesse sido feita a consulta ou que pudesse vir a fazê-la para o futuro governo. "Futuro governo é futuro governo, não sou eu", respondeu o presidente.
Acrescentou, de todo modo, que não daria "nenhum passo nessa direção sem saber a opinião pelo menos dos candidatos".
A Folha insistiu: "O sr. vai consultá-los a esse respeito?".
O presidente respondeu que não acha necessário, "neste momento", e fez então o comentário de que, com o acordo vigente, há condições de chegar até o fim do governo "com tranquilidade".
Tranquilidade é, evidentemente, um pouco de exagero de FHC, tanto que ele aproveitou as três oportunidades em que falou de público para tocar no seu tema internacional favorito, as carências do sistema financeiro internacional e da governança global.
Lamentou, por exemplo, que falte "muita agressividade no financiamento internacional". Completou: "Está todo [o financiamento" nas mãos do setor privado, que se encolhe ao primeiro susto".
A redução no financiamento, público ou privado, a países como o Brasil (para não falar do quadro argentino, bem mais grave) é certamente um problema que reduz ou até elimina a tranquilidade para chegar ao fim do governo FHC e para enfrentar a transição no próximo governo, seja qual for o eleito.
O presidente lamentou igualmente o fato de que a liderança e a opinião pública norte-americanas estejam com a atenção toda voltada para a questão da segurança.
"Enquanto estiver voltada para a segurança, não vai abrir espaço para essa negociação", completou, referindo-se às negociações comerciais em que o Brasil e o Mercosul estão empenhados em vários âmbitos.
Para FHC, o grande teste da disposição dos países ricos se dará nas negociações entre o Mercosul e a União Européia e na discussão da Alca (Área de Livre Comércio das Américas, prevista para englobar os 34 países americanos, excluído Cuba).
"Aí é que vamos ver realmente como os países estão atuando. Não podemos entrar em uma negociação sem partir do pressuposto de que ela é de boa-fé e, portanto, vai entrar todos os campos, inclusive o agrícola. Ou há livre comércio para tudo ou então é uma hipocrisia", disse FHC.
Antes, na entrevista coletiva que dera ao lado do presidente argentino, Eduardo Duhalde, o presidente brasileiro voltou a outro de seus temas favoritos, pelo menos a partir de 11 de setembro, que é o de criticar os EUA. Desta vez, o setor privado norte-americano.
"Se houvesse agências de "rating" como as que estão nos qualificando que fossem capazes de classificar o que se passa lá [nos EUA", creio que muitas empresas americanas estariam com seu rebaixamento assegurado, tanto são os desastres que ocorrem em nível internacional", disparou.
O presidente entrou também na questão da governança global, para dizer que "a globalização tem desatado uma série de fenômenos novos e não há uma governança global. Não há forças institucionais que possam frear certas tendências ou turbulências. Não há instituições novas capazes de, com rapidez e eficiência, contra-arrestar os maus efeitos dessas turbulências".



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