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CRISE NA AMÉRICA LATINA
Brasil cede mais a vizinho em acordos, e países resolvem problemas que emperravam Mercosul
FHC aposta em Argentina "indestrutível"
DO ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES
Na sua penúltima participação em cúpulas do Mercosul (a última, antes da sucessão, será em dezembro no Brasil), o presidente Fernando Henrique fez a mais
forte aposta na Argentina, o principal parceiro brasileiro no bloco.
"A Argentina é indestrutível,
porque é uma nação, não só um
mercado. É um povo que tem alto
nível cultural, que tem a capacidade de trabalho e técnica e uma natureza extraordinária", afirmou
primeiro no jantar da véspera
com os mandatários dos outros
três países do bloco e os de Bolívia, Chile e México.
Ontem, repetiu a frase em discurso ouvido não só pelo presidente argentino Eduardo Duhalde mas também pelo chanceler
Carlos Ruckauf, pelo ministro de
Economia, Roberto Lavagna, e
pelo governador da Província de
Córdoba, o "presidenciável" peronista José Manuel de la Sota.
Diante da afirmação de FHC,
não surpreende que tenha recebido em troca, de Ruckauf, a qualificação de "estadista da América".
Não foi esse o único afago na
Argentina e no Mercosul. Na conversa fechada entre os presidentes, FHC perguntou se a crise que
afeta a região seria maior ou menor sem o Mercosul.
"Obviamente maior", respondeu ele próprio.
Tão cega confiança na Argentina e no Mercosul ajuda a entender
por que os dois países conseguiram, ontem, limpar a agenda comum de problemas que vinham
emperrando o funcionamento do
bloco nos últimos muitos meses.
"Todo o contencioso que havia
foi resolvido", proclamou FHC.
De fato, foi. A Argentina encerrou as investigações sobre eventual prática irregular na exportação de suínos brasileiros, está revendo idêntico procedimento sobre os frangos e comprometeu-se
a não investigar os têxteis.
Na área automotiva, os dois países acertaram nova fórmula que
permite aumentar as exportações
de parte a parte, até chegar ao livre comércio, em 2006.
Acertaram também flexibilizar
os chamados CCRs (Convênios
de Créditos Recíprocos), uma
maneira pela qual os bancos oficiais dão garantias aos exportadores de que os importadores pagarão o que for comprado.
Essa garantia se estende às operações já realizadas e que os argentinos não pagaram, em um valor perto de US$ 500 milhões.
A dívida será renegociada, e o
BNDES reabrirá linhas de crédito
para novas importações argentinas do Brasil.
É claro que o pacote vale para os
dois lados, mas, como a conjuntura argentina é de profunda recessão e, portanto, baixa demanda, o natural é que o Brasil passe a importar ainda mais da Argentina.
Déficit aceito
"O presidente tomou a decisão
política de aceitar o déficit", diz o
ministro Sergio Amaral (Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior).
No caso de carros, o benefício
para as montadoras instaladas na
Argentina é óbvio. Não estão vendendo quase nada no mercado interno e podem agora exportar para o Brasil US$ 2 para cada US$ 1
importado, proporção que sobe
para US$ 2,2 em 2003, US$ 2,4 em
2004 e US$ 2,6 em 2005.
Como foram também assinados
acordos automotivos que facilitam exportações para México e
Chile, Ruckauf festejou: "A Argentina vai poder exportar o equivalente a tudo o que suas fábricas
produziram no ano passado".
O presidente FHC também festejou: "É mais um pilar para a
continuidade do Mercosul. Dificuldades sempre existem, mas já
somos capitães de longo curso em
matéria de dificuldades", disse.
Mas, na conversa fechada, os
presidentes falaram muito na necessidade de "celeridade" na negociação entre a Argentina e o FMI, sem cuja conclusão o principal sócio brasileiro continuará
sendo forçado a exercitar toda a sua ciência de arte de pilotar dificuldades. (CLÓVIS ROSSI)
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