São Paulo, sábado, 06 de julho de 2002

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Governo aumenta o gasto público em 8,5%

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

Além de atravessar a maior crise econômica da história, o governo argentino ainda aumentou os gastos públicos em 8,5% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2001.
Excluídos os pagamentos da dívida pública, o governo federal gastou 8,61 bilhões de pesos entre janeiro e junho de 2002, ou 676 milhões de pesos a mais do que no ano passado. No mesmo período, a arrecadação caiu 7,3%.
Com uma queda de 16,3% do PIB no primeiro trimestre, o aumento dos gastos foi financiado basicamente pela maior carga tributária -que reduziu os efeitos negativos da recessão sobre os cofres públicos- e pela moratória da dívida pública.
No primeiro ponto, o país passou a taxar a maioria das exportações em 20%. A arrecadação foi beneficiada ainda pelo retorno da inflação, que elevou o ingresso de impostos sobre valor agregado.
A moratória da dívida interna e externa, decretada em dezembro, foi responsável pela economia de 4,03 bilhões de pesos em relação ao ano passado.
Os novos gastos do governo correspondem, basicamente, a subsídios distribuídos para trabalhadores desempregados e empresas dos setores de energia e transporte.
Conhecido no exterior por gastar mais do que arrecada, o presidente Eduardo Duhalde também estuda conceder nos próximos dias um aumento para o piso dos aposentados, que subiria de 150 pesos para 200 pesos. Além disso, o presidente pretende lançar um "megaplano" de obras públicas, que inclui a implementação de 1.480 projetos em todo o país.
Uma terceira medida que já está em estudo no Ministério do Trabalho consiste na extensão também para os servidores públicos do reajuste salarial de 100 pesos que será concedido a todos os trabalhadores do setor privado.
Com as medidas, Duhalde tenta melhorar a popularidade do governo e do Partido Justicialista (peronista, do presidente) agora que a eleição presidencial foi antecipada em seis meses, para março de 2003.
A origem dos recursos para arcar com essas despesas não foi esclarecida. Os novos gastos vão dificultar a retomada do pagamento da dívida externa. Com isso, o governo fica ainda mais longe de estabelecer o "plano econômico sustentável" exigido pelo FMI.

Eleições
O ministro Jorge Matzkin (Interior) disse ontem ser "muito pouco provável" que as eleições de março sejam gerais. A idéia havia sido proposta pelo próprio Duhalde e conta com o apoio de 13 dos 24 governadores do país.
No entanto, Matzkin afirmou que a realização da eleição geral depende de uma difícil reforma constitucional. E, segundo ele, a maioria dos senadores e deputados do PJ e da UCR -os dois maiores partidos do país- se mostraram contra a proposta.
Matzkin também declarou que a única outra alternativa seria a renúncia em massa dos políticos, o que "é ainda menos realista do que a hipótese anterior".
Em relação à eleição para presidente, Duhalde tenta unir os peronistas para enfrentar o arqui-rival e ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) nas eleições prévias do partido.
O pré-candidato favorito de Duhalde é o governador de Santa Fé, Carlos Reutemann, que, por sua vez, condicionou a participação nas eleições à formação de uma rede consistente de aliados.



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